Comportamentos

É uma pessoa desconfiada? Saiba o que se pode estar a passar

 
Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que, uma pessoa desconfiada não é assim por opção, mas porque passou por uma situação traumática e dolorosa que a tornou assim.

 
São pessoas profundamente infelizes, que vivem envoltas no medo e na necessidade de se afastarem dos outros para se protegerem. Carregam as memórias e as marcas do sofrimento provocado por uma traição, por uma deceção, por uma infância dolorosa e não conseguem libertar-se, a ponto de viverem em permanente estado de alerta, o que as torna cada vez mais desconfiadas e solitárias, pois não conseguem confiar em ninguém.
 
É evidente que nem sempre é assim, já que existem pessoas que, com a sua força interior, apoio de amigos ou de um psicólogo, acabam por ultrapassar os seus traumas e permitir-se viver com mais liberdade e confiança. São pessoas que fazem o mais importante de tudo: confiam em si mesmas para depois poderem voltar a conseguir confiar nos outros, mas o processo não é fácil e demora algum tempo, sendo que,  a superação é sempre a melhor opção a tomar, pois uma vida enclausurada no medo de voltar a ser traído acarreta muito sofrimento e infelicidade.
 
De acordo com os psicólogos entendidos nesta matéria, as pessoas desconfiadas vivem com a obsessão de se protegerem, de erguerem muros e de impor distâncias, uma vez que acreditam que essa é a única forma de não voltarem a sofrer, no entanto, essa dor persiste como um peso enorme sem que as mesmas se apercebam.
 
Por outro lado, quem convive com as pessoas desconfiadas também não tem uma boa impressão a seu respeito, uma vez que faz jus ao ditado: “Quem não confia também não é de confiança”. É difícil para quem assiste a essa constante e tremenda desconfiança, compreender a razão pela qual essas pessoas são tão distantes e estão sempre a colocar em causa o que os outros dizem e fazem. Esse facto ainda complica mais as relações interpessoais e deveria ser mais um motivo para que as pessoas desconfiadas pedissem apoio especializado, pois a sua vida acaba por ser um “mar de tormentos”, seja na vida pessoal, seja na vida social.
 
Os psicólogos alertam que, por detrás de uma pessoa desconfiada está uma profunda insegurança, sendo que,  os mecanismos das emoções não as deixam ser livres, muito menos sentir a vida e as sensações tal como elas são. Esta prisão emocional acaba por ser uma limitação para as suas ações e para o desenvolvimento das suas habilidades e potenciais.
 
Para que se perceba melhor o que se esconde por detrás de uma pessoa desconfiada, os especialistas apontam uma infância traumática e baseada na falta de afeto e de apego, uma traição ocorrida numa qualquer fase de vida e que não tenha sido superada e compreendida devidamente, uma situação de abandono, ou uma deceção que igualmente não tenha sido ultrapassada. É de reter que a vida se processa de momentos bons e maus, de ilusões e desilusões, mas o que torna as pessoas desconfiadas é a sua dificuldade em ir ao fundo desses episódios negativos, compreende-los e colocá-los no seu devido lugar para que possam ser ultrapassados e se volte a confiar em si mesmo.
 
Ainda neste ponto, os especialistas acrescentam que, «quando a conexão com aqueles que amamos é quebrada de forma traumática, torna-se difícil voltar a confiar», pelo que, «tem de existir um trabalho de fundo, na maioria das vezes orientado por um profissional especializado para que a pessoa volte a encontrar-se, a gostar de si e a acreditar nos seus potenciais, já que só dessa forma, poderá voltar a confiar em alguém.
 
É preciso ainda ter em conta que, o nosso cérebro, como entidade social e programada para a conexão emocional, «sofre quando não tem acesso à inter-relação, quando lhe faltam, em essência, laços fortes, geradores de espaços que nos fazem sentir cuidados, amados e valorizados». Neste sentido, «se isso falhar, se não recebermos esse reforço positivo, a nossa insegurança vai tornar-se a nossa maior clausura», sublinham os especialistas reforçando que, «a solidão proveniente da desconfiança é uma enorme fonte de sofrimento para quem não consegue confiar», razão pela qual deve ser um motivo de alerta e de procura de ajuda.
 
Depois, também é de registar que, as pessoas desconfiadas também vivem um medo permanente porque temem voltar a sofrer. Quer isso dizer que, «não hesitam em erguer paredes ao seu redor e colocar detetores para que ninguém ultrapasse essa linha de autoproteção». Ao viverem dessa forma “blindada” acabam por passar pela vida sem emoções positivas, o que é uma enorme fonte de dor e de angústia.
 
Perante a descrição apresentada, é importante saber o que se pode fazer para voltar a confiar em alguém e, os entendidos na matéria apontam que, «antes de nos preocuparmos em confiar em alguém, temos de aprender a confiar em nós mesmos».
 
Por muito difícil que isto possa parecer, a realidade é que, só quando confiamos em nós próprios é que nos tornamos capazes de confiar em alguém, daí que o trabalho do psicoterapeuta incida nesse ponto.
 
«Não é um trabalho externo, não se trata de melhorar as nossas habilidades sociais, simpatia ou carisma. Trata-se de ensinar a pessoa a conectar-se com as suas peças partidas, com a autoestima negligenciada e a marca deixada por aquela deceção ou mágoa do passado que vive em nós intensamente», sublinham os entendidos na matéria.
 
É um trabalho árduo no qual recuperamos a nossa identidade, nos validamos em todos os sentidos e, acima de tudo, nos sentimos dignos de experimentar a felicidade, reforçam.
 
Para a psicologia, só quando recuperarmos a conexão connosco próprios, nos sentimos fortes e confiantes e, seremos capazes de demolir as paredes que nos cercam para permitir um novo acesso. E faremos isso sem medo, sabendo que a autoconfiança e a confiança nos outros é a engrenagem que torna a vida mais fácil.
 
Perante isto, faça a sua autoanálise: é uma pessoa desconfiada? Então peça ajuda, pois a sua vida merece muito mais do que esse sofrimento!
 
Fátima Fernandes