Curiosidades

O que precisa de saber sobre o medo da solidão

 
O medo da solidão é mais comum do que se possa imaginar, sobretudo numa sociedade em que as relações são cada vez mais vividas virtualmente.

No entanto, é de reter que, há muitas pessoas que sofrem do medo de estar sozinhas devido a traumas do passado que as levam a procurar de forma intensa a presença de outros.
 
Fala-se muito na solidão dos idosos, mas é importante lembrar que, em todas as idades se pode sentir solidão e o medo de estar sozinho, por essa razão, faz sentido refletir um pouco acerca do assunto e apontar algumas ideias para viver melhor com a sua própria companhia.
 
As causas para o medo da solidão podem ser muito variadas, mas podemos afirmar que, na era digital em que vivemos, esse sentimento tem-se acentuado cada vez mais devido à distância com que a comunicação se processa, mas também à facilidade com que se perde um contacto. É cada vez mais fácil incluir e excluir pessoas de um grupo de amigos virtual, o que leva a que muitas pessoas e de várias idades, sofram com essa sensação de abandono repentino. Ao mesmo tempo, uma relação que parecia mais consistente, em poucos minutos pode perder-se, basta que se carregue num botão. Tal acontece com os relacionamentos amorosos, com as relações de amizade, entre familiares, colegas e daí por diante.
 
Ao mesmo tempo, as redes sociais também podem desencadear um profundo sentimento de solidão devido ao facto de as pessoas apenas publicarem fotos de momentos em que estão felizes, na companhia de outras pessoas e em clima de festa. Esta ideia de que os outros estão bem e que nós não estamos leva a uma profunda tristeza e desvalorização para com a nossa própria vida e, naturalmente que desencadeia um maior sentimento de solidão, já que os nossos amigos estão acompanhados e nós podemos estar sozinhos.
 
Uma outra causa que leva a sentimentos de solidão é o afastamento dos filhos pelos mais variados motivos. Em muitos casos, estes vão para outro país morar e trabalhar, mas também há situações em que os problemas familiares ditam a distância. Ainda neste contexto, quando a família é muito unida e precisa de se separar por motivos profissionais, também acarreta um duro golpe emocional e um profundo sentimento de solidão.
 
Para além destas razões, temos sempre de incluir os nossos traumas passados. Uma criança que tenha sido deixada sozinha pelos pais, um dia quando adulta, sentirá muito mais facilmente solidão e o medo de estar sem alguém. Quem cresceu num ambiente de violência doméstica, também sentirá muito mais medo da solidão devido ao vazio emocional que vivenciou. Uma criança que não se tenha sentido amada pelos pais, também carregará esse medo da solidão até que tome consciência da causa desse temor. Uma criança que se perdeu momentaneamente dos pais em algum momento da sua vida, também irá sentir mais medo da solidão do que outra que não tenha vivenciado esse episódio. Uma criança que tenha sido vítima de abusos ou de algum tipo de violência psicológica também terá muito mais medo de estar sozinha.
 
Para os psicólogos, lidar com o medo da solidão é plenamente possível quando a pessoa vai às causas que a levam a sentir-se assim. Na posição do especialistas, a solidão «não impacta diretamente na sobrevivência humana. Qualquer pessoa, minimamente autónoma, pode perfeitamente viver sozinha desde que aprenda a gostar de estar na sua companhia».
 
Os mesmos especialistas lembram que, uma pessoa que viva sozinha pode decidir qual é o momento em que quer estar com outras pessoas, podendo sempre conviver com amigos ou familiares, integrar um grupo para estudar, aperfeiçoar conhecimentos ou simplesmente divertir-se. Ainda assim, muitas pessoas interiorizaram que viver sozinho é terrível e sofrem um enorme medo dessa condição. Há quem procure pessoas só para compensar esse medo e não as valorize para mais nada.
 
Todos os que vivem do medo da solidão devem registar:
 
1- A importância de identificar a origem desse medo
Quando o medo da solidão é exagerado, perturbador ou paralisante, é preciso pedir ajuda profissional. Dessa forma, torna-se mais fácil identificar de onde vem esse medo — se por algum trauma de infância ou pelo temor de perder a convivência afetuosa que existiu até então. A partir daí, pode-se trabalhar essas questões e encontrar um tratamento que alivie os sintomas.
 
2- A necessidade de esquecer o passado para seguir em frente
Nos casos em que se termina um relacionamento amoroso — especialmente quando o indivíduo já é um pouco mais maduro — surge o medo de que não será possível encontrar uma nova pessoa para amar e ser amado. No entanto, esse é um medo infundado, já que é possível seguir em frente. Para isso, é preciso deixar o passado para trás e abrir-se para o que o futuro lhe reserva.
 
3- A importância de confiar nas próprias potencialidades
Todos temos o potencial de fazer novas amizades, encontrar um novo amor e, constituir uma família. É preciso ter confiança em si mesmo, assumir as suas qualidades e agir de maneira natural. É essa predisposição que vai conquistar as pessoas e fazer com que estejam sempre próximas, evitando-se, assim, a solidão.
 
4- Aprender a realizar sozinho atividades de que gosta
Mesmo que não tenha — seja de forma momentânea, seja permanente — a companhia ideal para realizar as atividades de que gosta, é fundamental colocá-las em prática de qualquer forma.
 
Há muitas coisas que se pode fazer sozinho, com prazer e alegria: ler um bom livro, ir ao cinema e ao teatro, assistir a espetáculos, caminhar pela cidade, viajar, ir a bons restaurantes, entre outras coisas. Tudo isso pode ser apreciado na melhor das companhias — a sua!
 
Na mesma sequência, o apoio de um bom profissional na área da psicologia pode ser valioso para ultrapassar um medo exagerado de estar sozinho, bem como aprofundar as causas que podem estar na base desse medo, apontando pistas para o ultrapassar.
 
Fátima Fernandes