Família

5 hábitos dos pais que podem comprometer o futuro dos filhos

 
Podem parecer frases inofensivas e desprovidas de intenção, mas a verdade é que magoam profundamente quem as ouve e recebe.

É verdade que não é fácil educar e ainda menos ter sempre presente uma palavra adequada a todas as ocasiões, mas também é um facto que os pais devem fazer um esforço para não dizerem tudo o que lhes passa pela cabeça, sob pena de ferirem profundamente os filhos e dessas marcas lhes ficarem para a vida.
 
Muitos pais não entendem a razão pela qual não conseguem ter uma boa relação com os seus descendentes porque não pensam naquilo que já lhes disseram e fizeram e que, ao não ter sido esclarecido, acaba por ganhar proporções enormes, por isso é importante estar mais atento, pensar antes de reagir e, sempre que necessário, pedir desculpa e esclarecer.
 
O livro “Bullying sem blá blá blá” dos psicólogos Marcos Meier e Jeanine Rolim mostra a realidade de muitos pais que “derrapam” na difícil missão de educar os filhos. “Na maioria das vezes estes pais fazem isso sem querer, mas não sabem o efeito que isso pode ter nos mais novos”, explica Jeanine.
 
Na mesma publicação resumida no Sempre Família, é dado como exemplo o caso de uma mãe que dizia à filha que a roupa não lhe assentava bem porque ela era gorda. Como resultado disso, passados quarenta anos, a filha ainda sente dificuldades em ir comprar roupa porque carrega o trauma do que a mãe lhe dizia quando era mais nova.
 
“Se a mãe estava preocupada com o peso da menina, havia outras formas de lhe dizer isso. Atitudes tóxicas podem marcar a criança para a vida toda, exatamente como aconteceu”, explica Jeanine.
 
Marcos Meier compara a educação dos filhos a um comboio que anda sobre dois trilhos: um do afeto e o outro da autoridade. “Esses dois trilhos precisam de ser do mesmo tamanho e seguirem no mesmo caminho. Caso um deles esteja partido, o comboio pode descarrilar ”, explica.
 
Ainda no Sempre Família, os especialistas apresentaram uma lista com cinco hábitos tóxicos dos pais que podem contaminar os filhos. Confira-os:
 
1. Manipulação
 
Os pais manipuladores são aqueles que usam as emoções boas do filho para conseguir persuadi- lo. É aquela mãe, por exemplo, que quando a filha cresce diz: “Minha filha és tão inteligente e tão querida. Eu tenho  a certeza de que uma pessoa com essas qualidades jamais abandonaria a mãe para morar noutro lugar”. Isso acaba por “acorrentar” a filha emocionalmente à mãe. É muito provável que esta jovem deixe de estudar, de aprender novos idiomas e de querer crescer profissionalmente pelo medo de ter boas propostas de emprego e de ter que sair de perto da mãe.
 
2. Comparações
 
“Ainda não fizeste? O teu irmão já terminou!” “não sabes fazer isso? O teu irmão já fez e muito bem!” A comparação entre irmãos é péssima para a autoestima da criança. Com o passar do tempo, ela aprende a comparar-se com os outros e vai achar que está em desvantagem. Esta pessoa acaba por nunca se valorizar por isso, os pais têm que aprender a comparar os filhos apenas com eles próprios, ou seja: “Boa filho, estavas um pouco atrasado nessa tarefa, mas agora já conseguiste! Parabéns, estás mesmo crescido!” ou “para a próxima tens de ser mais rápido para não te atrasares, basta que te levantes um pouco mais cedo!”
 
3. Alienação parental
 
No caso do fim do casamento, uma mãe tóxica colocaria na cabeça dos filhos que eles foram abandonados pelo pai (mesmo que este continue em contacto com as crianças e a estar presente na vida dos filhos). “o vosso pai está contra mim”, “ele já não gosta de nós”, “nunca mais vai voltar”, são frases que as mães tóxicas costumam usar para virarem os filhos contra o pai. O mesmo pode acontecer ao contrário; ser o pai a virar os filhos contra a mãe. Como a relação terminou não pensam no futuro dos mais novos e cometem esse erro muito grave e que deixa marcas muito profundas na vida dos filhos. Com isso, a criança sente-se mal e tende a fazer de tudo para agradar a mãe e aliviar-lhe a dor. Segundo os mesmos especialistas, este é mais um tipo de dependência tóxica que se vai refletir no desenvolvimento dos mais novos.
 
4. Falta de autonomia
 
Outro hábito dos pais tóxicos é não promoverem a autonomia da criança. Na prática são pais que resolvem tudo pelos filhos e dizem que fazem isso porque os amam muito. Como exemplo disso, os mesmos psicólogos ilustram a mãe que escolhe a roupa que a criança deve vestir mesmo quando ela já é capaz de fazer isso sozinha. Nesse caso, é comum que a criança cresça a achar que só a mãe, ou o pai, sabem tomar decisões corretas – e isso interfere na vida adulta. É aquela pessoa que não encara os problemas  de frente e diz: “foi a minha mãe que disse”, ou “o meu pai explicou-me assim”. Esta pessoa vai enfrentar dificuldades quando precisar de se impor.
 
5. Focar no filho e não no problema
 
“És mesmo uma trapalhona, não sabes fazer nada; deixa isso que eu já faço, és uma preguiçosa!” “seu relaxado”, “não tens jeito para nada!” São exemplos de expressões que os pais tóxicos usam com frequência e sem filtro, mas que deixam marcas profundas nos filhos.
 
Os mesmos especialistas reforçam que, essas expressões não são nada saudáveis no relacionamento entre pais e filhos, porque focam na criança e não no problema. Aqui vai uma dica: se o quarto do seu filho está desarrumado, por exemplo, pode mostrar indignação dizendo “olha só a em que desarrumação está esse quarto”, mas nunca se foque nele como problema. Os pais tóxicos optam por ferir o filho em vez de se focarem em resolver o problema. Chamar nomes e humilhar é o pior que se pode fazer a um filho, por isso, aborde o problema com frontalidade, diga o que está mal, mas sem ofender. É fácil dizer que o quarto precisa de ser limpo e arrumado sem chamar nomes aos filhos, certo?
 
Com estas orientações acreditamos que pode melhorar a sua relação com os seus descendentes e, já sabe, se falhou pode sempre reconsiderar e pedir desculpa. Em qualquer altura é tempo de modificar algo; não temos de carregar um peso pela vida fora.
 
Fátima Fernandes