Não podemos dizer tudo o que pensamos, sob pena de não sermos aceites pelos demais, temos de pensar muito bem no que fazemos para podermos agradar aos outros e, com tanta imposição, acabamos por não saber muito bem onde fica a honestidade na nossa vida.
Para Ana Beatriz Barbosa Silva, médica brasileira, «as crianças até aos quatro anos são muito sinceras e honestas, pois se lhes perguntarmos o que a mãe está a fazer e qual a razão pela qual não pode atender o telefone, é-lhes muito fácil responder que a mãe está a fazer cocó. Só quando é repreendida pela progenitora é que passará a inventar uma desculpa para não dizer a verdade».
Crescemos com medo de ser sinceros e acumulamos máscaras que nos impedem de dizer o que sentimos e o que pensamos. Para a mesma especialista com Pós Graduação em Psiquiatria e que dá forma ao programa Mentes em Pauta, «o segredo é que nos ensinem a melhor forma de dizer a verdade aos outros, não que nos habituem a mentir». Para Ana Beatriz, se pensarmos antes de reagir, temos uma margem de manobra para pensar na melhor forma de dizer a mesma coisa, sem que sejamos agressivos com os demais. «O problema é que nos habituamos a mentir, a fingir e a conter e, quando menos esperamos já não conseguimos dizer o que pensamos com alguma dose de sinceridade e de razoabilidade, acabando por ‘explodir’ e dizer coisas horríveis aos outros».
«Se nos habituarmos a expressar as nossas opiniões com clareza, tranquilidade e sinceridade, vamos treinando essas competências e dando lugar a um lado muito mais honesto e, sobretudo aceite pelos outros». Ao mesmo tempo, é preciso não esquecer que, «acima de tudo, temos de ser honestos e sinceros para connosco próprios, pois só assim o conseguiremos ser com as outras pessoas». A mesma especialista lembra que, quando temos uma preocupação excessiva em dizer aquilo que os outros querem ouvir, não estamos, na maioria das vezes, em conformidade connosco próprios, razão pela qual vamos acumulando emoções negativas, as tais que podem explodir a qualquer momento e da pior forma possível.
Idealmente os pais devem educar para a sinceridade e honestidade, o que faz evitar uma série de constrangimentos e mau-estar, seja com a própria pessoa, seja com aqueles com quem convive, sublinha a mesma especialista.
Ser honesto traz vantagens porque lidamos com mais confiança e segurança em nós mesmos e menos preocupados com o que os outros pensam a nosso respeito, por isso, devemos alterar a forma como educamos os mais pequenos e investir num modelo mais livre e aberto, sublinha Ana Barbosa.
Fátima Fernandes
