Curiosidades

A psicopatia nasce na infância

 
Pode parecer estranho dizer-se que uma criança é psicopata porque nos habituamos a associar o termo a adultos, mas a psicopatia infantil é uma realidade.

Na posição dos especialistas nesta matéria, pais, educadores e demais intervenientes na educação, conseguem dar-se conta de sinais estranhos em algumas crianças que, felizmente não são muitas no panorama geral.
 
De acordo com os mesmos entendidos, uma das consequências dessas características é o isolamento social a que todos devem estar atentos, uma vez que, uma criança que sofre de psicopatia tem muitas dificuldades em manter relações saudáveis com os demais. A sua conduta estranha, naturalmente faz com que se afaste dos demais ou com que os outros não queiram estar na sua presença.
 
«A presença de certos padrões de conduta desde a infância pode moldar traços psicopáticos que no futuro vão alterar a saúde mental da pessoa».
 
De acordo com os mesmos entendidos, a psicopatia infantil torna-se evidente em certas atitudes que não correspondem ao comportamento esperado para essas circunstâncias. As consequências principais dão-se nas relações do afetado com o meio, sendo as mesmas complexas de tratar, anotam os mesmos especialistas.
 
Em linhas gerais, a definição do termo psicopatia indica que se trata de alterações comportamentais causadas por transtornos psíquicos apesar da integridade percetiva da pessoa. Basicamente, detalha que o indivíduo que sofre dessa condição, neste caso a criança, tem funções mentais e corporais plenas, mas a sua adaptação ao meio não é a adequada devido a alterações na psique.
 
Os mesmos especialistas lembram que, todos os adultos que se conhecem como psicopatas, já apresentavam sinais dessa condição enquanto crianças e alertam que, um psicopata não é só aquele que mata como tem vindo a ser difundido no cinema.
 
Na prática, o psicopata não tem de ser necessariamente uma pessoa demente,  violenta e criminosa. Simplesmente pode tratar-se de alguém com falta de empatia ou sensibilidade.
 
Segundo os entendidos. “a psicopatia infantil não afeta a capacidade cognitiva da criança, mas tem um efeito negativo nas suas habilidades afetivas”.
 
As crianças que sofrem de algum tipo de psicopatia infantil costumam apresentar um ou vários destes problemas comportamentais.
 
• São egocêntricas, incapazes de partilhar e muito exigentes, além de inflexíveis com os pais.
• Têm tendência a desobedecer. Só obedecem sob ameaças e, da mesma maneira, estão sempre a tentar safar-se.
• Não conseguem expressar emoções. Nas crianças, as emoções são muito evidentes, já que os mais novos praticamente não disfarçam, principalmente as primárias. Se uma criança exterioriza pouco esse tipo de resposta ao ambiente, pode ser um sinal de psicopatia.
• Sentem pouca empatia. Têm muita dificuldade em identificar e interpretar as emoções dos outros. Além disso, também não conseguem envolver-se numa relação afetiva.
• São insensíveis. Não sentem culpa, remorso nem se desculpam pelas suas más condutas. Estas costumam ser frequentes, seja em forma de agressões físicas ou verbais, para impor domínio.
 
Por outro lado, nos adolescentes, a inclinação à rebeldia e a transgressão de normas costumam ser indicadores de psicopatia. Também podem ser o consumo de substâncias nocivas como álcool, tabaco ou drogas. Embora essas atitudes possam ocorrer independentemente de existirem ou não, traços psicopáticos.
 
Para chegar ao diagnóstico da psicopatia infantil  é preciso ter em conta que, algumas dessas condutas podem ocorrer como características da personalidade da criança. No entanto, os traços psicopáticos caracterizam-se por as mesmas condutas se prolongarem no tempo.
 
Geralmente aparecem por volta dos 5 anos, à medida em que a criança começa a ampliar o seu círculo social. Numa criança que não apresenta essas alterações, essas más condutas ou atitudes desaparecem após a aprendizagem das normas e dos valores que regem a vida social. O castigo, afirmam os especialistas, não é a forma ideal de conseguir modificar tais condutas erráticas.
 
“O psicopata tem funções mentais e corporais, mas  possui uma inadequada adaptação ao meio”, nesse sentido, as crianças com esta condição não apresentam culpa, razão pela qual não conseguem corrigir os seus comportamentos incorretos. A sua agressividade inata não lhe permite que sinta a dor dos outros e, como tal, mantém essa conduta no tempo. Essa má adequação ao meio faz com que não sinta compaixão, remorso e a dor dos outros, mesmo daqueles que lhe são mais próximos.
 
A violência destas crianças pode não ser somente física, já que usam muito da violência psicológica ou  verbal.
 
De acordo com os entendidos nesta matéria, os avanços tecnológicos permitem medir as respostas cerebrais perante determinados estímulos e, identificar traços psicopáticos mediante um estudo chamado tomografia por emissão de pósitrons.  
 
Relativamente às causas, como todos os transtornos mentais, a psicopatia não tem uma causa única e específica, mas sim uma combinação de fatores. Há principalmente três tipos de causadores desses traços psicológicos:
• Fatores genéticos. As crianças cujos pais, avós ou outros familiares tiveram traços psicopáticos são mais propensas a apresentar a mesma condição, o que também ocorre com os irmãos gémeos.
• Fatores biológicos. O dano ou as disfunções cerebrais podem determinar a aquisição de uma psicopatia. Ao mesmo tempo, a má conexão entre a amígdala (responsável por regular as emoções) e o córtex pré-frontal também pode ser uma origem desse transtorno.
• Fatores psicológicos. A existência de uma vulnerabilidade psicológica, ativada por condicionantes específicos do ambiente como os maus-tratos ou o abuso que podem levar a condutas psicopáticas.
 
No que se refere ao tratamento, os especialistas advertem que não se trata de uma tarefa fácil, na medida em que a psicopatia não tem  cura. A terapia psicológica é uma alternativa muito complexa para estes casos que, segundo psicólogos da University College London (Reino Unido) se dão em uma a cada cem crianças. Isso deve-se ao facto de que os próprios pacientes são incapazes de ter uma comunicação sincera e aberta com os outros. Pior ainda se for alguém que não conhecem, como seria o caso do terapeuta.
 
No entanto, o planeamento de um tratamento psicológico intenso, duradouro e numa instituição que conte com os recursos humanos e equipas interdisciplinares pode funcionar. Este último ponto é importante, já que deixar apenas uma pessoa responsável por outra com psicopatia é extremamente desgastante para a sua saúde mental, registam.
 
Por fim, a maioria dos especialistas afirma que, a socialização de uma criança com psicopatia é um pouco difícil, embora alguns programas atuais apontem para a diminuição da reincidência.
 
Fátima Fernandes