Família

Amor:Como ultrapassar a “crise dos 7 anos”?

 
Afinal, o que é a crise dos sete anos e porque acontece?

 
Esta é uma questão que requer alguma cautela, sobretudo porque não é regra que os casais passem por este tipo de crise, tal como é comum que, nos primeiros anos de vida a dois surjam problemas, dificuldades e necessidades de mudança que permitam o entendimento e cedências de ambas as partes.
 
Se no passado se acreditava que “as crises passam e que são oportunidades de amadurecimento”, neste tempo mais informado e em que cada um quer compreender qual é o seu papel num relacionamento, as coisas não são assim tão simples…
 
As atuais taxas de divórcio mostram claramente que, “as crises” podem ser um impedimento à continuidade de uma relação e que, a falta de harmonia conjugal pode ditar o fim de um relacionamento quando menos se espera, pelo que vale a pena saber um pouco mais acerca dos problemas conjugais e, acima de tudo, perceber como é que se deve enfrentar uma crise amorosa.
 
Afinal, o que é a crise dos sete anos e porque acontece?
 
Aos inquéritos apresentados, a maioria dos indivíduos respondeu que, a partir dos 5, 6 e 7 anos de união encara o/a parceiro/a como chato/a. Porquê?
 
Resumidamente, podemos afirmar que é uma questão de habituação – ao fim de algum tempo, a excitação que existe no início de alguma coisa nova dá lugar à rotina e à monotonia. 
 
Os membros do casal habituam-se de tal forma um ao outro que passam a sentir que o casamento – o seu, pelo menos – é uma coisa chata e aborrecida. 
 
Esta sensação manifesta-se muitas vezes pela diminuição do interesse sexual e, como o problema não é, muitas vezes, claramente discutido, acaba por dar lugar a um conjunto de desentendimentos.
 
Esse arrastar de soluções dá lugar ao distanciamento e, pode abrir espaço à vontade de ter um caso com outra pessoa e/ou de avançar para o divórcio. 
 
É como se o facto de as pessoas já não se sentirem apaixonadas como no início implicasse que a felicidade só é possível fora do casamento.
 
Na posição de muitos psicólogos, “o que acontece é que muitas vezes um segundo casamento também se transforma numa relação rotineira e monótona ao fim de algum tempo e, o ciclo repete-se.”
 
Por outro lado, assistimos a bons exemplos de casais que se mostram capazes de lutar pela sua relação. Porquê?
 
A posição dos entendidos em relacionamentos é unânime ao afirmar que, o diálogo é a base do sucesso de qualquer relação, seja ela de amor, amizade ou interpessoal. 
 
Os casais que conversam, mesmo que sobre os temas mais banais do seu quotidiano, assumem uma maior capacidade para manter o casamento porque “são os que reconhecem a importância da celebração das conquistas na vida do cônjuge (mesmo as mais pequenas). 
 
São os que interiorizaram que o casamento requer um investimento mútuo contínuo. São os que atribuem ao toque e aos gestos de afeto a importância devida. Os que não se esquecem de investir nos gestos de carinho.
 
Se a tudo isto acrescentarmos a vontade (e capacidade) de planear férias ou quaisquer outros projetos a dois, tais como, sair de vez em quando sem os filhos ou surpreender o parceiro com um gesto romântico, estão reunidos os ingredientes suficientes para a construção de um casamento saudável e duradouro. 
 
Na posição de muitos entendidos, é fundamental que, mesmo depois de um dia intenso, do desgaste com os filhos e com a própria vida, os casais reservem o seu momento de conversa, de partilha e de diversão, sabendo também dar um toque de humor ao que acontece de menos positivo.
 
“A vida às vezes pode ser particularmente difícil e os membros do casal podem desiludir-se mutuamente. Se forem capazes de perdoar, é mais provável que consigam fazer um longo e feliz percurso”, avança uma académica de uma universidade brasileira.
 
Ao mesmo tempo, é de anotar que, essa capacidade de conversar resulta de uma construção diária que, aos poucos ganha expressão e necessidade. 
 
Torna-se essencial esse espaço de desabafo com a pessoa em quem mais se confia, é gratificante saber que se é ouvido e que se está disponível para fazer essa escuta ativa, realçam os especialistas, mostrando que, após a paixão, o desejo inicial e todo aquele espírito de aventura que antecede um casamento, surge a fase de amadurecimento, de encontro e partilha das diferenças e daquilo que une duas pessoas num mesmo projeto de vida, mas é preciso tempo, investimento e, acima de tudo, ter uma linha de orientação que suporte esse desejo mútuo.
 
Muitos psicólogos defendem que, “o amor e o ódio caminham de mãos dadas, ou se acrescenta o amor, ou se dá lugar ao ódio”, e esta dualidade percebe-se na facilidade com que um casal que parecia tão feliz e capaz de partilhar tudo, de um momento para o outro, está sentado frente a um juiz a decidir quem fica com o carro ou com os móveis. 
 
Tal acontece porque, depois da paixão que une duas pessoas, não se constrói nada para além da satisfação das necessidades pessoais. “Eu quero isto e tu não me dás”, “Prometeste-me isto e até agora, nada”, o que vai mostrando que aquele amor inicial não ganhou consistência e acabou por se transformar “numa arma” para obter o que se pretende do outro, sendo que a cobrança, o ciúme ou o fazer cenas e ciúmes são os casos mais flagrantes de um sentimento que se disfarçou de amor, mas que não ganhou forma, capacidade de respeito e de cumplicidade com o outro. 
 
Nestes casos, as crises acontecem muito antes dos sete anos, ou se não ocorrerem, provavelmente terão um desfecho pouco feliz.
 
No fundo, o que se pretende transmitir é somente a ideia de que, as crises acontecem e são uma oportunidade de melhorar, de aperfeiçoar e de dar um novo sentido aos momentos iniciais da relação. 
 
Se o amor se desenvolve, a crise é passageira e alerta o casal para algo que merece ser incluído. 
 
Quando não houve uma transformação da paixão em amor, o casal poderá passar por muitas crises, muitas mudanças, alertas e oportunidades que, jamais encontrará a harmonia e a felicidade desejadas, tudo porque a base que sustenta esse relacionamento é frágil e pouco baseada na verdade.
 
Nestes casos, aquilo que muitos diziam ser amor, rapidamente se transforma em ódio; em necessidade de prejudicar o outro, de lhe dar o “amargo” da traição e de lutar pela sua destruição.
 
Dizem os sábios na matéria que, o ser humano não “nasce equipado” para manter um relacionamento, mas sim para experimentar relações. Se houver um despertar para desenvolver um sentimento, tal acontece, caso contrário, muitas pessoas podem passar a vida à procura (no outro) daquilo que não são capazes de dar e de ter, tudo porque não foram preparadas para viver uma relação estável e duradoura.
 
Fátima Fernandes