Comportamentos

Aprenda a praticar o desapego

 
O apego excessivo é uma característica com vários prejuízos mentais e emocionais. É muitas vezes confundido com o amor e acaba por miná-lo e destruí-lo.

Há pessoas com excesso de apego a objetos, ao dinheiro, ao parceiro/a, aos filhos e julgam sentir amor quando no fundo é desse apego excessivo que se trata. Estas pessoas chegam a um ponto em que não sabem encontrar-se sem esse apego exagerado a algo ou alguém e sofrem muito. Neste apontamento, vamos fornecer-lhe algumas dicas preciosas para que tome consciência da diferença entre apego e amor e para que aprenda a viver mais livre e descontraído.
 
De um modo geral, todos deveríamos estar preparados para o inesperado e para mudanças na nossa vida. Deveríamos viver numa dimensão mais alegre e acreditar que nada é nosso na realidade. O parceiro ou parceira está connosco até que a relação perdure e seja uma fonte de felicidade para ambos, os filhos não são nossa propriedade e têm o direito de fazer as suas escolhas e a sua vida e os objetos não merecem o apego que muitas pessoas lhes dão. Os amigos vão e vêm e estão connosco quando assim o entendem e é um prazer para ambos. Esta é a base do desapego, estar na vida sem possuir, desfrutar do prazer das coisas, da alegria dos momentos e da descontração de cada instante.
 
Bem sabemos que, é difícil pensar assim, sobretudo num tempo em que queremos e acreditamos que controlamos tudo, mas, na realidade, é mais fácil aprender a desapegar-se do que alimentar o sofrimento do excesso de apego que chega a ser doentio.
 
De acordo com o médico, físico e praticante de meditação, Enio Burgos, autor do livro “Medicina Interior – A medicina do coração e da mente” (Ed. Bodigaya), a compreensão sobre o funcionamento da mente e a transformação dos sentimentos negativos em sabedoria «são as formas mais efetivas de praticar o desapego». De acordo com o mesmo autor, os pensamentos e sofrimentos gerados pelo apego excessivo «afetam a saúde do corpo». Assim, precisamos de transformar as emoções perturbadoras básicas (apego, raiva, indiferença, orgulho e inveja) em sabedoria e plenitude de vida, completou.
 
Descrevendo a relação mente-corpo, a teoria de Enio mostra que os nossos pensamentos e sentimentos têm um papel fundamental no desenvolvimento das doenças e dificuldades que enfrentamos ao longo da vida. Segundo o autor, «as pessoas com perfil apegado tendem a ter muita dificuldade em adaptar-se a novas situações de vida», sentindo essas mudanças como uma grande perda e gerando emoções desequilibradas e prejudiciais ao corpo e à mente.
 
De acordo com o mesmo especialista, a meditação e o autoconhecimento, são dois importantes alicerces que facilitam o processo e abrem portas para uma nova forma de estar na vida através da espiritualidade.
 
Para o mesmo médico, o desapego é crucial nas várias áreas de vida. No que se refere concretamente aos relacionamentos amorosos, é importante compreender a diferença entre apego e amor. Apesar dos dois sentimentos serem muito parecidos, o apego, no fundo, destrói o amor porque causa todo o tipo de sofrimento nas nossas vidas, já que se trata de um «falso amor e acaba por se tornar uma limitação». Importa distinguir que, enquanto que o amor é entrega, o apego é possessividade. O amor vive liberdade e o apego posse.
 
Em suma, no que se refere a relações afetivas, o amor é a disponibilidade para mergulhar no outro com prazer e liberdade.
 
De um modo geral, podemos dizer que as pessoas desapegadas são tranquilas, estão sempre em harmonia, pois conhecem a sua verdadeira essência e sabem que a possibilidade de perder alguma posse ou de se distanciarem de alguém «não vai mudar a sua verdadeira natureza» Pelo contrário, as pessoas apegadas podem apresentar diversos sintomas como ansiedade, fobia, depressão porque vivem uma grande dualidade: ou têm medo de perder ou perderam e não souberam lidar bem com a perda.
 
O mesmo especialista deixa algumas formas de aprender a praticar o desapego:
 
Para praticar o desapego, é importante recorrer a alguns exercícios mentais. «Precisamos de ter o controlo da nossa mente», já que não podemos permitir que a mesma seja dominada pelo negativo.
 
A mudança acontece continuamente nas nossas vidas «e precisamos de estar preparados para isso, com o intuito de sofrer menos».
 
Assim, faz sentido seguir estes pontos:
 
Permita-se viver os sentimentos e pensamentos e aceite-os exatamente da forma como eles se expressam em si, sabendo que tem a capacidade para regulá-los.
 
Não deixe de sentir determinados sentimentos que se manifestam no seu corpo, nem tente evitar que determinados pensamentos surjam à sua mente.
 
Saiba que não somos os nossos sentimentos nem pensamentos, por isso, os mesmos devem ser filtrados pela nossa consciência para que não julguemos que somos tudo o que sentimos ou pensamos.
 
Quando a nossa mente produz pensamentos que nos são angustiantes, devemos num primeiro momento, apenas observá-los. Não precisamos de acrescentar mais nada a esses pensamentos ou julgá-los, somente devemos deixá-los vir à tona e passar pela nossa mente.
 
Em vez de se perder no processo de raciocínio destrutivo, deve dizer a si mesmo que só está a ter um pensamento que o alerta para algo que possa não estar bem comigo. «Eu não sou este pensamento. Eu não vou segui-lo», por isso, «vou focar-me nas coisas que tenho que fazer hoje».
 
É importante permitir-se viver a sua experiência. Por exemplo, quando se sentir deprimido ou angustiado, tente perceber em que parte do seu corpo sente alterações físicas. É na zona da garganta? No peito? Na nuca? No estômago? Sinta e observe o seu incómodo. Fique temporariamente com a sua dor, angústia ou ansiedade. De seguida, aceite-a. Depois, oriente a sua atenção no sentido de aprender a lidar com os seus sentimentos e pensamentos, regulando-os, até que possam diminuir ou extinguir-se.
 
Para finalizar o mesmo médico alerta para o facto de este processo não curar a depressão, a angústia e as fobias, ainda assim, a pessoa perceberá que se pode libertar da sobrecarga dos seus sentimentos e pensamentos negativos. Também  aprenderá a libertar-se do que a condiciona negativamente e do padrão que seguiu ao longo da sua vida. Isso permite que crie um espaço em volta dos seus pensamentos e sentimentos, vivenciando-os sem que afetem a sua vida.
 
Como tudo na nossa vida, trata-se de um processo que demora o seu tempo e que exige treino, por isso, a qualquer momento, pode começar, os resultados vão-se sentindo aos poucos, á medida em que se vai sentindo melhor, mais livre e descontraído consigo mesmo e com os outros.
 
Fátima Fernandes