Sociedade

Aprenda “a ser importante” para os outros

 
Num tempo em que se tenta generalizar tudo, pode dizer-se que o espaço para “a diferença” conhece mais limites e restrições, o que exige uma atitude pessoal mais direcionada e assertiva.

 
As redes sociais aplaudem e condenam numa fração de segundos, o emprego parece tão volátil quanto as necessidades de lucro das empresas e são cada vez mais as frustrações em torno de nós “sentirmos meros números” num sistema não se sabe muito bem de quê e a quem serve!
 
Aposta-se em “selfies” para que todos vejam que existimos, compra-se o melhor fato ou vestido para aparecer bem numa festa, gastam-se “rios” de dinheiro para “dar nas vistas”, para ter uma vida artificial que possa dar uma oportunidade de qualquer coisa, compra-se um carro a crédito para que todos vejam que temos “status” e, sem nos darmos conta, usamos e abusamos do “Eu” que anda de um lado para o outro sem saber o que anda à procura e sem valorizar o que encontra.
 
Depois de tudo isto, chega-se à conclusão que nada mudou a não ser a impressão triste que temos acerca de nós próprios! Sentimo-nos “farrapos” num sistema em que poucos já sabem para que serve essa vida de aparências, mas… tornou-se um hábito e pronto!
 
Há quem defenda que estamos no fim de um ciclo e que esta moda de estrelato está com o tempo contado, isto porque a conjuntura está a mudar, porque a vida tem ciclos de aprendizagem e de recuo. A vida oferece-nos propostas e desafios que temos de aceitar, mas também recusar, pelo que cabe a cada um a tarefa de manter a fachada ou de alterar algo!
 
Lê-se em muitas publicações que “vamos voltar aos estudos, ter novos interesses humanos e uma maior capacidade de nos valorizarmos interiormente, logo vamos deixar cair este “Ego” grandioso reflexo de exibicionismo e de futilidade para passarmos a analisar as pessoas e o que temos dentro…
 
Vamos deixar de pronunciar tantas vezes o “Eu” e de ter uma necessidade excessiva de afirmar o que somos (ou pensamos ser) para darmos lugar à essência, àquilo que nos diferencia uns dos outros e que nos faz sentir e sorrir.
 
Se os astros ditam os desafios, os humanos recebem as suas orientações e adaptam-nas ao seu estilo, na certeza de que, cada um terá o que merece em função daquilo que faz!
 
No fundo ser “importante” é algo tão simples que até é descurado. É ser tal e qual como é. É ter coragem para aceitar aquilo que se deseja e recusar o que nos incomoda. Se temos um emprego que nos deixa frustrados, temos a obrigação de nos ajustar o melhor possível para que possamos dar mais e ambicionar melhor. O mesmo se passa com as amizades que nos fazem bem e aquelas pessoas tóxicas disfarçadas de amigos que nos magoam. Mais uma vez, ser “importante” é respeitar quem somos, é zelar pelo nosso bem-estar e ter força para aproximar e afastar quem nos dá alegrias e compreensão.
 
É essencial ter em conta que, tudo na nossa vida nos faz sentir importantes quando é bem vivido e prazeroso, ou pelo contrário, nos retira a autoestima quando nos é prejudicial.
 
Ser importante começa em si e termina em si, ou seja, é ter consciência de si mesmo, é valorizar-se amar-se, mas não precisar de extravasar isso para o exterior, pois quando o fazemos, rapidamente nos tornamos alvos de ataque exterior. Ao mesmo tempo, a felicidade é algo que nasce e cresce dentro de cada um de nós, pelo que não precisa de ser exposta com a intenção de a publicitar, mas sim de ser vivida e estar refletida em tudo o que se faz.
 
Não é uma “selfie” que demonstra a felicidade interior de alguém, mas sim a necessidade de mostrar aos outros aquilo que não se consegue ser de outra forma. A exposição do “Eu” não mais é que a frustração de ter um vazio interior que se tenta dessa forma preencher. Uma “selfie” acaba por reunir a hipocrisia do protagonista e a falsidade exterior de quem a comenta!
 
Como resultado, vamo-nos sentindo “pequenos” ambicionando ser “grandes”, sem perceber que, a frustração aumenta a cada tentativa de brilhar e de nos mostrarmos mais do que somos. Jamais os outros vão dizer ou expressar o que sentem perante a nossa foto, pois acabariam por ofender quando confessassem que nos consideram ridículos por fazermos tal figura! Depois, nós próprios sabemos que é triste ter de exibir uma foto para aparecer e para dizer que existimos!
 
Ser importante é reunir um conjunto de atributos que resultam das experiências pessoais, dos dramas resolvidos, dos sonhos que se constroem, das emoções que se partilham e, acima de tudo, perceber que, “ser importante” é ser verdadeiro para consigo mesmo, a tal ponto que se identifica facilmente quem é nosso amigo, quem nos faz bem e quem devemos afastar das nossas relações… Só assim teremos o controlo da nossa vida, pelo menos emocional, que é a base para enfrentarmos o mundo, para superarmos os conflitos e seguir em frente com capacidade de aprender mais!
 
“Ser importante”, por muito que se tenha desvalorizado isso, é saber, é resolver, é superar, é decidir e, se possível, ser um “exemplo” ainda que discreto para outras pessoas.
 
Tendo por base esta perspetiva, vale a pena refletir se é assim tão valioso “andar atrás” da moda sem autor, onde nunca se sabe quem é responsável pelo que se passa, vive ou sente… 
 
Nunca se percebe porque razão andam todos com tecnologias debaixo do braço, ao mesmo tempo e sem capacidade de mais nada. Tal como ainda não se identificou quem nos tirou o prazer de ler, de pensar, de estar com os outros presencialmente… Ninguém se assumiu como responsável pela dependência do “fast food” e, muito menos conhecemos o rosto de quem nos fechou num circuito de máquinas sem espaço para o contacto ao ar livre e para o trabalho com gosto… “É a moda do novo tempo!” Mas só segue “a moda” quem não tem alternativas.
 
Vale a pena pensar no quão nos temos tornado “carneiros” que só olham para a frente, que hipotecam as suas vidas, as suas relações e emoções em torno do vazio; daquilo que se diz ser agradável, que se passa a vida toda á procura e que não se encontra…
 
Não se encontra porque é dentro de cada indivíduo que nasce e cresce a importância das coisas. É no interior que se concentra a riqueza e a capacidade de valorizar o exterior. Se nos sentirmos importantes para nós mesmos, saberemos fazer escolhas inteligentes e, naturalmente encontrar quem nos devolve essas emoções e conquistas. 
 
São muitos os estudiosos que afirmam estarmos “no fim de um ciclo e que, muita coisa vai mudar”, no entanto, se estivermos todos à espera da “nova moda” em que as “selfies” passam ao ridículo, em que vamos ter de decalcar os pensamentos bonitos para dizermos que não somos fúteis e citar uns autores reconhecidos para mostrar inteligência, estaremos apenas a mudar o conteúdo, porque a forma é exatamente a mesma!
 
Os astros dizem que o ciclo do Sol, da vaidade e do exibicionismo, em que “todos parecem eternas crianças” sem capacidade para resolver problemas, vai dar lugar a um tempo de maior exigência. Assim sendo, estaremos todos à procura de uma nova “tendência” para seguir, porque nos temos habituado a receber as ordens do marketing e das redes sociais?!
 
Ou será que vamos acalmar, analisar, pensar e perceber que, se continuarmos “atrás da última moda”, não vamos encontrar a Pessoa que temos dentro de nós. A tal essência que sendo importante, dá sentido ao ser humano e uma importância à vida!? 
 
Fátima Fernandes