Comportamentos

As 3 feridas do passado que nos impedem de evoluir

 
Há quem diga: “esquece o passado e segue em frente”, mas será que se trata de um processo assim tão simples?

Quer queiramos quer não, o passado persegue-nos para todo o lado, uma vez que se trata do conjunto de experiências e emoções vividas. É como se carregássemos uma mochila ás costas com toda a nossa herança e, segundo os entendidos na área da psicologia, ainda bem que assim é, pois caso contrário, não teríamos identidade.
 
Apesar de vermos a realidade nessa perspetiva, é muito doloroso para qualquer pessoa continuar a recordar eventos negativos que viveu e dos quais, em muitos casos não se consegue libertar, devido precisamente à carga emocional que encerram.
 
Na posição dos psicólogos, há 3 feridas emocionais que nos impedem de evoluir e de sermos exatamente como somos, são elas:
 
1. O que se refere à autoestima
 
Muitas pessoas pensam que, passamos pelas situações, esquecemo-las, varremo-las para baixo do tapete e seguimos em frente, mas na realidade, não é assim.
 
Quando o nosso amor próprio é abalado por experiências vividas com os nossos pais, irmãos ou demais familiares, torna-se muito difícil ultrapassar esse trauma e seguir em frente.
 
As piadas, ridicularizações, desvalorizações, críticas constantes ou culpabilizações infundadas acarretam muitos danos para quem as sofre.
 
As diferentes formas de rejeição geram sofrimento, sem importar as condições em que ocorreram. É algo que dói para qualquer ser humano, independentemente de quem seja.
 
Quando essa rejeição acontece de forma sistemática, ocorre na infância ou em relação a figuras muito amadas, abre-se uma ferida emocional muito difícil de curar.
Como consequência, a pessoa passa a acumular um conjunto de feridas emocionais que lhe afetam diretamente o amor próprio e que a vão perseguir pela vida fora.
 
Com uma elaboração adequada  dos traumas, no entanto, é possível que as situações sejam superadas e a confiança em si mesmo volte, assim como a assertividade e o sentimento de otimismo perante a vida. Para tal, é fundamental passar por um processo terapêutico em que o psicólogo promove diversas técnicas para ajudar nesse sentido.
 
2. Comprometimento da autonomia
 
Neste caso, as feridas emocionais são uma consequência de a pessoa ter passado por vivências asfixiantes, ou seja, sem liberdade para crescer e para se desenvolver, em virtude de ter sido muito controlada e com regras muito apertadas.
 
O mais comum é que alguma figura com poder tenha exercido um domínio arbitrário, lesionando desse modo a autonomia pessoal.
 
Essas feridas correspondem a todas as ações destinadas a limitar a liberdade e a capacidade de decisão. Ocorrem quando o sujeito é corrigido e castigado, por razões pouco claras e de modos arbitrários. Também pode ocorrer quando a pessoa sofre desaprovações constantes, ou quando lhe são exigidas explicações por todos os seus atos. Pode acontecer também quando a pessoa é tratada como inútil ou incapaz.
 
Esse tipo de ferida emocional do passado gera muitas dificuldades no desenvolvimento de habilidades como ter iniciativa ou decidir sobre diferentes aspetos da vida. Fazem com que a pessoa se torne submissa e passiva, ou extremamente rebelde, ainda que sem razão aparente.
 
3. Limitações a nível afetivo
 
As feridas emocionais do passado que mais pesam sobre o presente são as relacionadas ao afeto. Estas  surgem quando as pessoas foram vítimas de abandono, distanciamento emocional ou isolamento. Geralmente os pais são os responsáveis por esse tipo de ferida devido ás suas atitudes com os filhos. Por norma, estes progenitores também foram alvo dessas feridas, pelo que acabam por reproduzir o padrão com os seus descendentes.
 
As feridas relacionadas com a carência afetiva fazem com que a pessoa se sinta imensamente sozinha em muitas circunstâncias, sobretudo naquelas em que já se sentia mais vulnerável quando era criança. Tal situação faz com que o indivíduo sinta que não é importante para ninguém e que se desvalorize também, enquanto que se sente incompreendido e rejeitado.
 
Segundo os especialistas, estas feridas de afeto também são responsáveis por consequências graves para quem as possui. A principal delas é a de se tornar uma pessoa muito dependente dos outros, já que precisa constantemente de uma aprovação dos demais, o que a leva a passar por cima de si mesma e por descurar os seus interesses e desejos. O seu humor também é muito variável, sempre em função da atitude alheia.
 
Na posição dos entendidos, é muito difícil passar pela infância e pela adolescência sem que se registem alguns traumas, no entanto, há pessoas que vivenciam experiências de vida muito complexas e que lhes impedem a felicidade. Essas pessoas também sentem muita dificuldade em evoluir devido aos pesos que carregam e que lhes limitam os pensamentos e as ações e, acima de tudo, a imagem que têm de si mesmas que não as deixa seguir num sentido diferente.
 
Ao não irem ao fundo das suas memórias e dos seus traumas, estas pessoas acabam por viver um sofrimento profundo e muitas dificuldades de afirmação, pois estas feridas comprometem a própria personalidade e a forma como o indivíduo se apresenta perante os demais.
 
Apesar de ser muito doloroso voltar atrás, contactar com as nossas feridas e refletir sobre elas, é muito importante que se faça esse processo para que se possa evoluir. Os psicólogos reconhecem que se trata de um trabalho complexo e demorado, mas que vale a pena percorrer em nome de uma vida com mais qualidade, satisfação e bem-estar.
 
Fátima Fernandes