Comportamentos
As mulheres (também) tratam mal os homens
É evidente que este tema daria espaço a um conjunto de questões e reacções mais ou menos negativas, porque nos habituamos a colocar a mulher no centro da vitimização, porque se criaram ideias que o tempo ainda não conseguiu desconstruir, e também porque há muita falta de sensibilização para a vida emocional em ambos os géneros.

 
Nos nossos dias, ainda se acredita que “um homem se quer mal tratado para que se mantenha apaixonado e para que seja mais dedicado” , ou “O homem tem de se sentir superior à mulher, mesmo que, na prática, a última palavra seja sempre a dela!” Temos ainda muitos casos de “o marido serve para trabalhar e para sustentar a família. Os filhos e a casa são da responsabilidade da mulher que não faz nada!”
 
Desde logo, é caso para perguntar se existe algum fundamento neste tipo de ditos populares e de crenças que perduram em muitas famílias…
 
Em pleno séc. XXI, ainda parece que se dissocia o relacionamento conjugal da vida familiar, quando nada resulta sem que os alicerces estejam bem cimentados e sem que exista a partilha de tarefas e de saberes. Não há filhos equilibrados sem uma relação estável entre os membros da família, tal como é difícil encontrar uma “boa mãe” quando esta é agredida seja de que forma for pelo companheiro, ou quando a criança assiste diariamente a discussões de pais que não se entendem.
 
Se a separação abriu portas à felicidade de muitos casais que não encontravam a harmonia nesse relacionamento, também é uma realidade que, nem sempre se projecta o futuro quando se namora. São muitos os casos em que homens e mulheres se dizem “enganados” com a opção emocional, o que acaba por ser um constrangimento até que se coloque um ponto final no sofrimento.
 
Efectivamente há pessoas melhores que outras e relacionamentos mais compatíveis e duradouros que outros. Quando não se encontra a “pessoa ideal”, ou pelo menos aquela em que acreditamos para conduzir uma relação no tempo, temos sempre duas opções, ou aguardamos e procuramos alguém que melhor se ajuste ao nosso estilo de vida e personalidade, ou terminamos uma relação que já “foi de sonho” e que nos conduz à infelicidade, na certeza de que, não adianta alimentar uma convivência destrutiva para todos, sendo que os filhos são os principais prejudicados das “más opções” dos adultos.
 
É também claro que, muitas mulheres, por questões culturais associadas “à má imagem” que se transmite socialmente, preferem dizer ao mundo a vida triste que levam a resolver o problema onde o mesmo deve ser tratado: em casa. Depois, assistimos a casos de denúncias, muitas vezes infundadas de abusos aos filhos por parte do pai, de violência doméstica, onde tudo é apontado, desde a falta de dinheiro, a violência física e verbal e daí por diante. Tudo serve para destruir a imagem do parceiro quando não se tem coragem para assumir que o amor acabou ou que nunca existiu entre ambos, ou simplesmente “tudo vale” para tentar reconciliar aquilo que não faz qualquer sentido para o casal em ruptura.
 
O tempo que a mulher perde a lamentar a sua “má escolha”, deveria ser canalizado para construir uma vida alternativa, dando oportunidade ao marido de também o fazer e de reconstruir um percurso novo para os filhos. Mas a cultura acaba por reprimir a coragem e, a falta desta, muitas vezes pode ser fatal, uma vez que, os dois adultos que decidiram viver juntos, não tiveram a honestidade de assumir que não se sentem bem em conjunto. Este cena´rio tem dado lugar a muitos conflitos, a violência extrema e morte.
 
Sabendo que, a responsabilidade de um relacionamento é partilhada por ambos, é cada vez mais um imperativo alertar para a necessidade de resolver em tempo útil, aquilo que está errado e evitar o ambiente destrutivo que, na maior parte dos casos, já nem dá espaço ao diálogo para o encontro de soluções e para a afirmação do respeito.
 
Tendo por base estes alertas, nunca é demais sublinhar que, não se pode encarar uma relação seja ela de namoro ou de casamento nem como “ele vai mudar e depois vamos ser felizes”, “não nos damos bem, mas com o nascimento do bebé, tudo vai ser melhor”, “eu não gosto muito dele, mas sei que será um bom pai” e daí por diante, pois nada disto se encaixa nos ideais de um relacionamento, muito menos da construção de uma vida a dois.
 
Cada vez mais é preciso assumir um relacionamento como um acto de maturidade e de responsabilidade do qual terá de resultar o bem-estar familiar e, isso só acontece com consciência da opção conjunta.
 
Com características distintas, homens e mulheres ambicionam ser felizes, o que muda é a forma como cada um encara a vida e como a conduz rumo a esse bem-estar. Não é por acaso que, nem todas as pessoas são compatíveis ou têm possibilidade de construir um projecto em conjunto. 
 
Assim, a base de uma relação é encarar o homem como alguém que também quer dividir a sua vida com outra pessoa, que quer construir uma família, estar presente em todos os momentos e desfrutar da mesma felicidade.
 
Tudo começa na decisão do namoro, do casamento, da compra ou arrendamento do espaço que vai dividir, a escolha dos móveis, o melhor momento para assumir a parentalidade e assim sucessivamente. Por se tratar de um projecto a dois, é o casal que deve tomar estas decisões em função do seu grau de preparação para desenvolver cada etapa o melhor possível. É preciso ver que, quando estas decisões são tomadas apenas por um dos elementos, em pouco tempo vão existir as cobranças, os arrependimentos e a incapacidade de um para prosseguir os objectivos. 
 
Por muito que seja colocado à margem de alguns assuntos, o homem também gosta de participar nas decisões desde o início, pelo que deve ser envolvido desde o primeiro minuto.
 
Essa é a base para uma relação, o ponto de partida para que o casal encontre as suas compatibilidades, para que se desenvolva e evolua em conjunto. 
 
Assistimos muitas vezes a casamentos em que “toda a gente dá palpites” e o casal pouco aparece nas decisões. Em regra é a mulher que é “chamada” a responder na decoração, nas lides domésticas e nas principais decisões familiares, o que em pouco tempo a desgasta, a torna insegura e pouco capaz de receber o apoio do companheiro que, entretanto também já não está presente.
 
Tal como a mulher, o homem também tem momentos de fragilidade, de insegurança, tem medos, necessidade de desabafar e de chorar. Gosta de compreensão e de se sentir respeitado mos mais variados momentos, mas este facto, por ser tão simples, acaba por ser descurado e desvalorizado!
 
Instituiu-se a ideia do “sexo forte” que ainda domina muitas mentes e não se percebe que, a força física que não é uma realidade em muitos casos, afasta competências intelectuais, emocionais e criativas, “não prestas para nada na cozinha!”, “deixa que eu trato da roupa e dos miúdos, não percebes nada disto!” e acaba-se por reduzir significativamente o que seria o universo masculino a escassas tarefas que não passam do seu mundo profissional e fora de casa. 
 
Com o passar do tempo, o mundo masculino vai-se afastando tanto da realidade familiar que, se torna muito difícil o encontro para o diálogo, para os afectos e restante vida familiar idealizada no namoro.
 
O homem deve fazer parte de tudo o que diz respeito à vida familiar, pois só assim poderá tirar partido dos melhores momentos e apoiar nos mais difíceis. Esta condição reduz os perigos de afastamento, tal como de qualquer tipo de agressão, já que é muito menos provável alguém que se sente amado, destruir a vida de que faz parte. 
 
O mesmo se passa na relação com os filhos. Um pai presente permite o desenvolvimento de valores muito diferentes daquele pai que sai do trabalho e se dirige para o bar por falta de espaço familiar.
 
Está mais que provado que a figura masculina é fundamental na educação das crianças, pelo que, com pais juntos ou separados, os mais novos têm o direito de estar com o pai e de manter uma relação como a que (supostamente) têm com a mãe.
 
É de ter em conta que, tal como a mulher não gosta de se sentir pressionada, igualmente o homem não aceita essa forma de estar na vida emocional. Muitas mulheres “tratam mal” os companheiros por serem “a mãe” dos filhos. Essa submissão destrói um relacionamento em tempo recorde. Não há filhos sem que exista “um pai e uma mãe”, logo esta é mais uma ideia a abolir para melhorar os relacionamentos.
 
Muitas mulheres queixam-se de ciúmes e de agressões na sequência dessa inquietação, mas também elas dão (muitas vezes) lugar a esse modelo, seja pela falta de atenção ao marido, seja pelo excesso de apego a amigas e ao pouco afecto dado ao companheiro, ou pela forma como se comportam socialmente e no grupo de amigos.
 
Muitas vezes, as mulheres só se sentem amadas porque o marido tem ciúmes! Será isto uma prova de amor? Será preciso isso para mostrar que existe um sentimento que nunca poderia ser amor?
 
Claro que não existe exemplo mais ridículo de amor e de base emocional num namoro ou casamento, pois para além de revelar uma profunda falta de auto-estima, estas mulheres estão a dar lugar a uma retribuição dos maridos, isto já para não falar na violência que daí resulta na maioria dos casos, pois com a perda do respeito e do verdadeiro afecto, tudo pode acontecer a qualquer momento.
 
Tal como uma mulher não deve aceitar um marido ciumento ao seu lado, também não lhe deve dar esse tipo de “despertares” que só a diminuem e prejudicam. E qual é o valor disso? Há tantas formas de manifestar afecto no dia-a-dia, temos é de aprender a analisar a realidade noutra perspectiva. Um marido cuidadoso, amigo e que esteja presente em todos os momentos, é muito mais “valioso” que qualquer cena para tentar demonstrar o que quer que seja. 
 
Não nos esqueçamos de que a sociedade se habituou a “lindas histórias de amor”, mas que não tem sabido lidar com o fim desses “contos de fadas em que tudo valia para cativar o outro. Hoje percebe-se que o amor se vive diariamente e que não precisa de provas, mas de atitudes.
 
Quando as mulheres reduzem o universo de interesses dos maridos, devem ter em conta que isso os torna menos criativos, participativos e dedicados, pois um indivíduo que só se interessa por futebol, pelo trabalho e “por copos”, não consegue acompanhar o raciocínio de quem tem tantas tarefas por resolver no quotidiano.
 
É mais fácil envolvê-lo desde cedo na vida familiar e mostrar-lhe o leque de oportunidades que podem aprender e desenvolver juntos!
 
Muitas mulheres defendem-se “mas eu pensei que ele mudasse depois do casamento!” Claro que na adolescência se assume um tipo de comportamento e com o passar da idade se desenvolve outro, mas para isso é preciso que seja o sujeito a querer e a conseguir amadurecer ao seu ritmo. Jamais será uma mulher a fazê-lo, simplesmente a relação pode  ser tão gratificante que, o homem amadurecido se sinta motivado para descobrir novas facetas e capacidades.
 
Se estiver mais mais dedicado à sua vida familiar, naturalmente que os vícios e o estilo de vida do passado vão perdendo força.
 
O mesmo se passa com a mulher que engravida e que se vê “obrigada” a assumir um relacionamento… em pouco tempo, os filhos vão ser os alvos dessa imaturidade e culpa.
 
Para finalizar, tratar bem um homem, é respeitá-lo com a mesma capacidade com que as mulheres querem ser respeitadas, é dar liberdade em troca dela, afecto partilhado e dividir um projecto de vida com dois protagonistas orientados para um percurso compatível e que se encaixa na maior parte dos pontos de vista. Não é fácil! Mas seguramente que não há uma receita para a felicidade que “não toque” neste ponto essencial.  
 
Fátima Fernandes