Comportamentos

Casais: Aprenda a aceitar o seu parceiro tal como ele é

 
Todos conhecem frases como “ele vai mudar, vou torná-lo à minha maneira, tenho de conseguir que ele pense como eu” e daí por diante, tal como é familiar o ditado: “A mulher casa à espera que o homem mude.

O homem casa desejando que a mulher não mude. Como resultado, o homem não muda e a mulher muda sempre”! Na prática isto quer dizer que ambos estão errados na forma como vivem uma relação amorosa, uma vez que, “ninguém tem a capacidade de mudar o outro, nós apenas o podemos piorar”.
 
Segundo os especialistas em terapia de casal, o primeiro passo para viver uma relação estável e duradoura é aceitarmo-nos tal como somos e aprendermos a aceitar o outro tal como ele é. Para tal, devemos passar do sonho para a realidade e tentar perceber se nos apaixonamos por uma pessoa ou pela idealização que fizemos dela, já que isso é muito comum, mas é a base do problema. Muitas pessoas idealizam que o outro será a solução para todos os seus problemas, que corresponderá à figura de uma novela ou de um romance e, quando começam a dividir o mesmo espaço, entram logo em campo numa tentativa de modificar aquilo de que não gostam no outro. Como resultado, passa a ser infeliz quem percebe que o outro não aceita as suas características, e passa a ser infeliz quem se dedica a mudar o outro e não consegue obter resultados.
 
Ao percebermos que estamos ao lado de uma pessoa real e não imaginária, temos que ser capazes de ver as suas melhores qualidades, mas também aquilo que é menos positivo. Ao mesmo tempo, temos de fazer o mesmo exercício pessoal e assumir que também não somos perfeitos e que jamais vamos conseguir corresponder a tudo o que o outro desejaria.
 
A primeira grande questão a fazer já neste momento é: “Até que ponto eu aceito o meu parceiro tal como ele é?” A partir daqui está aberto o caminho para compreender melhor o que possa estar a impedir a sua relação de fluir naturalmente e de uma forma agradável e feliz. Ambos precisam de se sentir em liberdade, de se mostrarem tal como são e de perceberem que o outro os aceita e respeita, recomendam os especialistas nesta matéria.
 
Depois, é um facto que, desde que queiramos e amemos, todos nos adaptamos à vida a dois, logo, naturalmente mudamos algumas das nossas características com o passar do tempo. É normal que a própria idade nos leve a amadurecer aspetos que ainda não estavam bem definidos no início da relação, pois passamos por muitas experiências e aprendemos com elas, por isso não é necessário que o outro se empenhe na nossa mudança, muito menos que nós o façamos.
 
A própria vida nos desperta para outras realidades, nos apresenta alternativas a um determinado formato e, a própria convivência com outra pessoa nos chama a atenção para outras possibilidades, pelo que, o permanente desejo de mudar o outro não faz qualquer sentido para os especialistas em terapia de casal.
 
Certamente que, nenhum de nós gostaria de carregar o peso de saber que o outro está infeliz por ter de corresponder aos nossos desejos e idealizações, então por que razão o fazemos? Qual é o motivo que nos leva a fazer do outro um objeto para a satisfação das nossas necessidades e, em muitos casos, culpabilizamo-lo por não corresponder às nossas expetativas? Tal acontece precisamente porque amamos uma fantasia e não uma pessoa real, alguém que se faz transportar pela sua luz, mas também pelo seu lado mais sombrio como todos os humanos. Mas idealizamos alguém perfeito, uma pessoa que pense como nós e que reaja de forma idêntica.
 
Em termos práticos, é importante perceber as consequências de querer mudar alguém. Nesse sentido, uma pessoa que critica a organização e método do seu parceiro, está a fazer com que ele se sinta o oposto: desorganizado e com déficit de atenção, pelo que vai acabar por fingir ser uma pessoa que não é só para agradar. Claro que, mais cedo ou mais tarde, ambos vão esgotar-se e perceber a realidade, sendo de esperar a acusação mútua, a discussão e, em muitos casos, a separação por se tornar insuportável este modo de viver.
 
O mesmo pode acontecer quando um é extremamente sedutor e efusivo nas relações sociais e o outro é obsessivo, ciumento e inseguro. Também se entra em conflito quando um dos parceiros é afetuoso e demonstrativo e o outro é literalmente uma pedra de gelo. Claro que, quando nos preocupamos em conhecer uma pessoa e não a fantasia, procuramos alguém mais compatível connosco, pois todos sabem que, os opostos não se atraem, pelo que, na maioria das vezes, “o erro” ocorre logo no namoro; quando se começa a idealizar o que o outro será no decurso da relação e não o que realmente nos mostra. Nem todas as pessoas são compatíveis, por essa razão conhecemos vários e apaixonamo-nos por aquela que nos devolve boas emoções e semelhanças e, a partir daí aprendemos a tirar partido dos pontos em comum.
 
Os especialistas também alertam para os perigos de se observar o outro superficialmente, pois leva a frases como: “como é possível tu seres assim quando eu sou tão diferente!”, ou “qual é a razão pela qual tu não fazes isto como eu?”, ou ainda “se tu fosses como eu, a nossa vida seria mais facilitada!”
 
Esse tipo de questão faz com que os casais fiquem presos a uma dinâmica que se retroalimenta. As diferenças, ao invés de serem entendidas como complementares, são apresentadas como fontes de críticas.
 
Explicações ou justificativas não serão válidas, uma vez que todas são desenvolvidas com base nessas características de personalidade. Ambos ficam aprisionados no perímetro do casal.
 
É ainda de anotar que, em toda e qualquer relação amorosa, ocorre um jogo emocional, o problema é quando o mesmo se sistematiza e desperta mais do mesmo, chegando a um ponto destrutivo e saturante. Assim, para que ocorra uma mudança, é necessário fazer uma modificação total ou parcial nas regras desse jogo para provocar o crescimento de uma nova estrutura.
 
Embora a interação com o outro seja importante, as características base da personalidade, o estilo relacional de cada um, as crenças e valores pessoais fazem com que as diversas relações ressaltem essas particularidades numa maior ou menor extensão.
 
Depois, quando  se interioriza que se quer mudar o outro, perde-se a noção do razoável, o bom senso e o respeito, num processo que parece não ter fim. Na posição dos especialistas nesta matéria, «quando os membros do casal ficam presos no jogo de querer mudar o outro, de acordo com parâmetros e desejos pessoais, procuram fazer com que o parceiro corresponda às suas próprias expectativas. Estas não são nem mais, nem menos, do que os desejos e ideais que pretendem depositar no outro», pelo que, será uma luta infrutífera para ambos. Só quando a separação acontece é que a maioria das pessoas se apercebe de que passou mais tempo a tentar mudar o outro com o intuito de o colocar à sua maneira do que a viver o bom e positivo da relação. Na maioria das vezes, quando se dão conta do erro já é tarde demais.
 
Assim, o segredo passa pelo autoconhecimento. Quanto mais nos conhecermos e aceitarmos tal como somos, mais facilidade teremos em aceitar e respeitar o outro tal como ele é.
 
Ainda neste ponto, os entendidos sublinham que é possível tentar mudar a outra pessoa, desde que as demandas sejam saudáveis para o relacionamento, a questão é analisar quais são as formas que são utilizadas para isso, onde se localiza o ponto de conciliação, o que é razoável e o que é uma idealização mal colocada. Quando o casal não consegue fazer esse processo sozinho, o que acontece em muitos casos, deve-se procurar ajuda especializada. Um bom terapeuta de casal fará um trabalho com ambos no sentido de ultrapassarem os conflitos, os medos e tudo aquilo que está a impedir o diálogo e o entendimento entre o casal, por isso, se não consegue aceitar o seu parceiro tal como ele é, analise-se, procure perceber o que se passa consigo e converse com a pessoa amada sobre o assunto, sabendo que podem sempre pedir a ajuda de um mediador que fará um conjunto de exercícios para vos ajudar a salvar a relação.
 
Também há casos em que a rutura é inevitável, no entanto, podemos e devemos aprender com esse desfecho para melhorar a próxima relação.
 
Fátima Fernandes