Comportamentos

Casais que se separam pouco tempo depois do casamento

 
A festa, os convidados, um ambiente mágico, são normalmente os ingredientes para um casamento de sonho, no entanto, há casais que se separam pouco tempo depois de tudo isso, porquê?

Na realidade, não há muitos estudos que aprofundem o assunto, ainda que, sem dúvida, seja um tema que merece muito interesse e que tem motivado muitos apontamentos de entendidos em terapia de casal.
 
É nesse sentido que, recorrendo aos resumos que existem, arriscamos abordar este tema. Assim, pode dizer-se que, um dos principais motivos que leva a que alguns casais se separem pouco tempo depois de terem contraído o matrimónio é a dificuldade em se adaptarem à vida a dois.
 
Existe uma romantização do casamento que parece ainda ganhar muita expressão, pelo que, os votos que se prometem na cerimónia parecem ser muito sentidos, mas pouco realistas.
 
Suportados pelos desabafos ouvidos nas  consultas de terapia de casal, os especialistas relatam que, os parceiros se queixam da grande diferença que existe entre o namoro e a vida a dois, que existe uma grande dificuldade em conciliar os interesses de ambos, em se respeitarem, em manterem o seu tempo e espaço como quando eram solteiros e, acima de tudo, são recorrentes as queixas de falta de diálogo entre os membros do casal.
 
No caso particular das mulheres, são constantes as reclamações de falta de atenção do parceiro, de pouco entusiasmo por parte do marido em ajudar nas tarefas domésticas, tal como uma enorme dificuldade em gerir o dinheiro.
 
A vida a dois perde o encanto do namoro e, em muitos casos, passa a tornar-se num tormento porque a mulher quer que o marido mude e ele deseja que ela nunca mude e que continue a ser carinhosa, empenhada e ousada como era em solteira.
 
Ambos lamentam a diminuição do desejo sexual que era muito intenso no namoro, a maior dificuldade que sentem em fazer programas interessantes a dois e dizem faltar-lhes a “adrenalina” dos amigos e de outras pessoas que participavam na relação.
 
Pouco tempo depois do casamento surge também a pressão social para que o casal tenha filhos, facto que também acelera a relação e lhe retira uma boa parte do encantamento.
 
Na posição dos especialistas nesta matéria, o maior problema que existe para além dos relatos dos casais, é a ideia que se faz do matrimónio que, em muitos casos, não corresponde à realidade.
 
Romantiza-se a relação e acredita-se que será perfeita, que não vão existir problemas, que vão continuar a ser as mesmas pessoas após o casamento e que na maioria das situações até será muito melhor do que a vida de solteiros.
 
Muitos casais acreditam que os defeitos de cada um vão desaparecer porque se assumiu um compromisso, que ambos prometeram ser tudo e mais alguma coisa em frente aos convidados e que vão ter de seguir essa linha de orientação, o que também não corresponde à realidade.
 
Depois, descura-se muito a importância do diálogo que é a chave de qualquer relação bem sucedida. Evita-se falar naquilo que não é positivo, esconde-se o que se sente, não se fala nos medos, nas dificuldades, nas prioridades e naquilo que nos inquieta, razão pela qual, em pouco tempo, a relação se torna num sufoco.
 
Os parceiros seguem as suas profissões e dedicam-se pouco à relação, o que também  promove o afastamento e contrasta com aquilo que vivenciaram no namoro em que tinham um tempo diário para estarem juntos.
 
Se não falam abertamente no que pensavam e sentiam para não desiludir o outro, temem que, após o casamento, ao falarem vão dar lugar a que o outro se canse e se vá embora, por isso continuam a sofrer em silêncio. Ao mesmo tempo, vivem uma ansiedade enorme porque estão sempre à espera que algo novo surja e que o outro mude, mas esquecem-se do quão é importante ter paciência, mas conversar para que algo se altere efetivamente.
 
Para os especialistas nesta matéria, um dos parceiros ou ambos, sofrem de uma depressão pós casamento que os conduz à separação pouco tempo depois da vida a dois. Em muitos casos é eficaz conversar com um terapeuta de casal, mas noutros nem se dá tempo para isso porque se programa logo a separação.
 
Segundo os entendidos, para evitar os sentimentos de solidão, tristeza, desespero, pressão, insegurança e medo que podem ocorrer após a festa do casamento, é importante que se tenha em conta alguns pontos essenciais:
 
- Não pensar no divórcio como a primeira solução para todos os problemas que surgem após o casamento;
- Tentar ao máximo conversar com a pessoa que se ama e com quem se casou de forma a evitar que os conflitos ganhem outros contornos;
- Pensar que o casamento exige uma adaptação de ambas as partes, que é um processo longo e que, apenas a construção de objetivos em comum dá forma e estrutura à relação;
- Reconhecer que todos os casais passam pelo mesmo, que a culpa não é de ninguém, simplesmente o casamento não tem só o lado positivo que se demonstra nas festas, nos livros e nos poemas;
- Antes de casar, devemos já ter adquirido a capacidade mútua de conversar sobre os problemas para que essa seja a base de suporte da relação, mas se tal não aconteceu, isso deve ser um pilar a construir após a cerimónia;
- O sonho acaba uns dias após a festa, mas a vida a dois começa precisamente a partir daí. É nesse momento que se “avalia” a resiliência de ambos, a capacidade de resolverem os seus problemas e de pedirem ajuda sempre que necessário;
- As histórias de outros casais nem sempre se aplicam à nossa, pelo que, devemos ouvir mas olhar para nós próprios e para a pessoa que temos ao nosso lado;
- Não é vergonha alguma ter sentimentos negativos, pois estes também fazem parte do ser humano, devemos é conseguir conviver com eles, falar abertamente com a pessoa que está ao nosso lado e saber dizer-lhe o que estamos a sentir em cada momento;
- O outro não é, nem a solução para todos os nossos problemas, muito menos o causador de tudo o que nos faz sofrer;
- Um casal não se constitui por duas metades que se juntam para fazer uma bola mas sim, dois seres humanos que se unem com interesses, sentimentos e objetivos comuns e que querem construir um projeto de vida com as suas diferenças e afinidades;
- É também essencial que nos mostremos vulneráveis quando assim nos sentimos, que digamos o que pensamos nas mais variadas ocasiões, que sejamos francos, honestos e sinceros com quem amamos para que possamos receber esses valores em troca;
- Devemos evitar ao máximo os julgamentos em relação ao outro e aproveitar para libertar o nosso lado mais afetuoso, já que, é o medo de amar que nos torna mais ferozes, inseguros, amedrontados e que destrói um qualquer casamento;
- É natural que muitas pessoas se queiram “meter” na relação, mas ambos terão de ser fortes para conseguirem encontrar os propósitos e objetivos conjuntos;
- O casal decide se quer ou não ter filhos e qual o melhor momento para o fazer;
- O casal decide como vai querer conviver com pais e sogros, amigos e demais familiares após o casamento;
- Ambos devem decidir em conjunto e não recorrer a “frases-feitas”. Esta base estende-se a tudo, até ao uso do dinheiro. Devem analisar qual é a melhor forma a adotar para que se sintam confortáveis com tudo na vossa vida, já que, essa também é uma chave para que o casamento perdure.
 
Nestes pontos, tentamos reunir os principais fatores que levam a uma separação para que, os parceiros possam enfrentá-los e decidir qual a melhor postura a adotar para evitar o divórcio.
 
Quando o amor é forte, quando se quer mesmo manter o casamento, é importante que se desenvolva uma atitude firme a nível pessoal e depois em conjunto para que a relação resista.
 
É fundamental que o casal se una, que converse sobre todos os assuntos e que faça imperar aquilo que os uniu no namoro.
 
É verdade que podemos e devemos assumir que nos enganamos com aquela pessoa, que pensávamos que a amávamos, mas na realidade não, que apenas queríamos uma companhia num determinado momento, mas que chegamos ao casamento, tal como há pessoas que sonham com a festa, que se realizam muito com todo o ambiente em torno do casamento, mas não amam o outro e nunca se imaginaram a viver com ele, e que, quando chegamos a alguma destas conclusões devemos separar-nos, mas há também muitas situações em que vale a pena investir na relação e permitir-se desenvolver o sentimento que os une. Neste último caso, podem tentar resolver os problemas a dois, que é sempre a melhor forma de crescerem em conjunto, mas também pedir apoio a um terapeuta familiar que, certamente fornecerá boas dicas para que resolvam as diferenças, para que aprendam a lidar com as qualidades mais e menos positivas de ambos e, acima de tudo, para que acrescentem diariamente o melhor que possuem e que sentem.
 
Fátima Fernandes