Família

Como construir uma relação de amizade entre pai e filho

 
Fala-se pouco na relação entre pai e filho, sobretudo porque as crianças estavam praticamente entregues aos cuidados e à educação da mãe.

Com a mudança de mentalidades dos novos tempos, são cada vez mais os homens que se aproximam dos filhos e, desde a tenra idade, passam a assumir um papel de extrema relevância na vida dos mais novos.
 
Se a relação com as meninas sempre foi mais facilitada pela diferença de género, há pontos negativos que marcam a convivência entre pai e filho.
 
Nos consultórios de psicologia são comuns os relatos de homens que sofreram muito com a ausência da figura paterna e que, também por isso, sentem mais dificuldades em manter uma boa relação com os filhos. Há testemunhos de um pai violento, pouco ou nada participativo na vida familiar, de um homem ocupado com o trabalho e com o sustento da família e nada dado ao diálogo e ainda menos ao afeto, tal como se registam cenários de competição, excessos de autoritarismo, ofensas graves, trocas de acusações de homens pouco preparados e conscientes do seu papel de pais.
 
Muitos filhos sublinham que o pai só aparecia para os castigar, outros relatam que mal os conheceram, que o pai tinha uma vida paralela com outras mulheres, que se dedicava ao álcool e aos amigos, que comparava o filho aos outros, sempre como pretexto para lhes mostrar o seu desagrado e daí por diante.
 
Há também os adultos de hoje que recordam com tristeza a competição com o pai que queria ser o mais forte e poderoso, o melhor, aquele que era merecedor de louros e de conquistas, o pai que determinava o destino profissional do filho e até a sua orientação sexual e, em muitos casos o casamento.
 
Há relatos impressionantes de filhos que carregam traumas de uma convivência muito dolorosa e, silenciada por longos períodos de tempo.
 
Felizmente também há muitos registos de pais que souberam amar os filhos, participar naquilo que lhes era permitido, que sabiam dar um bom conselho, apoiar no momento certo e incentivar em cenários de dificuldade, mas provavelmente, estes não são os exemplos de todos.
 
Nos tempos atuais, são muitos os desafios dos pais, pois além de terem uma agenda profissional cada vez mais preenchida, sentem que precisam de estar mais tempo com os filhos e de realizar algumas tarefas com eles, mas muitos queixam-se que não sabem como cumprir esse papel e desejo por nunca terem recebido essa influência paternal.
 
É importante evidenciar que, o papel do pai inicia-se com a gravidez, em que o homem acompanha a companheira nos vários momentos e, aos poucos, começa a saber posicionar-se da melhor forma. Nasce o bebé e a relação aproxima-se ainda mais.
 
Depois, torna-se essencial o acompanhamento diário nos mais variados momentos, sem esquecer o lazer; o tempo que passam juntos e que lhes permite construir uma relação sólida de amizade.
 
O papel da mulher é determinante para que a relação entre pai e filho seja positiva, na medida em que, é a ela a quem cabe a tarefa de envolver o marido desde cedo e nos mais pequenos detalhes. Dessa forma, o homem vai às consultas do filho, vai às reuniões na escola e dedica um tempo diário para estar com o seu descendente, seja para fazerem uma atividade desportiva, para dar um passeio, assistir a um filme, ir ao cinema ou realizar qualquer iniciativa que os aproxime e que lhes permita conversar e trocar afetos.
 
É ainda essencial que o filho se sinta à vontade para abordar qualquer assunto com o pai ao longo das suas várias etapas de desenvolvimento, mas para isso, é preciso abertura, interesse e disponibilidade.
 
O pai deve tentar entender o filho e aceitar que os tempos mudaram. Hoje sabe-se que o papel do progenitor é elementar para que um filho desenvolva uma boa autoestima e autoconfiança. É no pai que o rapaz vai encontrar o exemplo, o conselho, a palavra, o incentivo, a correção e a orientação em termos sociais. O papel da mãe é específico e também deve ser respeitado, pelo que, idealmente os progenitores devem saber posicionar-se: a mãe é muito mais vocacionada para tratar das questões familiares, domésticas e afetivas. O pai deve assegurar o posicionamento da criança ou jovem no mundo, muito embora ambos sejam complementares no que toca à educação de um filho.
 
É evidente que o pai deve chamar a atenção do filho sempre que é necessário, mas sempre com o cuidado de lhe ensinar a alternativa. A paciência também deve fazer parte do processo, já que ninguém nasce ensinado e é preciso transmitir os conhecimentos e até as dúvidas para as quais podem encontrar as respostas em conjunto.
 
O pai, tal como a mãe, deve estar disponível para ouvir o filho e para lhe esclarecer as duvidas, para o tranquilizar em momentos de aflição, para o orientar, quando a confusão se instala e para impor o respeito e a autoridade, pois a disciplina também é fundamental no processo educativo.
 
A par da mãe, o pai deve integrar em pleno a vida familiar , participar em atividades em família, mesmo que isso implique menos tempo ao computador ou noutros ecrãs. Deve empenhar-se em estar presente, já que o seu papel é de extrema importância em todas as fases de desenvolvimento do filho.
 
Deve motivá-lo para ser tal como é e não alimentar competições e lutas de poder, pelo que ensinar o valor da humildade também é um requisito importante e um excelente exemplo a dar ao filho.
 
Para ser um bom pai, é preciso ser um bom homem, um bom exemplo e alguém que quer evoluir com o filho e estar ao seu lado nos momentos mais positivos, mas também nas suas dificuldades e medos e, como uma amizade se constrói com ambas as partes envolvidas, o filho também deve dar o seu contributo para que a relação se processe de forma agradável e saudável. O principal segredo é a presença, o diálogo e o afeto, registam os especialistas, lembrando a importância de esclarecer um conflito com abertura e sinceridade, pois é o acumular de problemas que arrasa com uma qualquer relação.
 
Fátima Fernandes