Família

Como é que os pais brilhantes ensinam os filhos a pensar?

 
Na sua obra: “Liberte-se da prisão das emoções”, Augusto Cury afirma a importância de ensinar os nossos filhos a pensar, na medida em que, será a partir da tomada de consciência de si mesmo e da realidade, que a criança ou jovem irá adquirir competências para melhor se posicionar em termos pessoais e sociais.

 
Cury diz que, bons pais corrigem os filhos e que, pais brilhantes ensinam os filhos a pensar, pelo que, ao invés de corrigir os erros, os pais devem estimular a capacidade intelectual do filho, fazendo-lhe perguntas em vez de lhe aplicar castigos ou de lhe dar as respostas. Para este psiquiatra e investigador, é essencial que a criança ou  jovem aprendam a perceber onde falharam e a razão pela qual tal aconteceu, pois caso contrário, irão repetir sempre o mesmo erro até que compreendam aquilo que está na sua base.
 
Augusto Cury não tem dúvidas de que, “ao estimularmos a consciência crítica, a capacidade de pensar antes de reagir, a fidelidade, a honestidade, a capacidade de a criança se questionar, estamos a promover a responsabilidade social do nosso filho”. Tal consegue-se através do treino diário e do diálogo franco e expositivo. Para este especialista, os pais não devem impor as suas ideias, mas sim expor com uma margem de manobra e de liberdade para que a criança coloque perguntas, apresente os pontos em que tem dúvidas e aquilo que quer ver esclarecido. Os pais não sabem tudo e podem dizer num determinado momento que não sabem, mas que vão procurar obter mais informações. Podem inclusive, em conjunto com o filho, procurar esses conteúdos. Podem ler em conjunto, já que isso mostra também aos nossos filhos qual a melhor forma de nos esclarecermos e incute um hábito de pesquisa e de leitura importante. É esta abertura que vai permitir que os nossos filhos se desenvolvam de forma mais consciente e segura, pois sabem que existe sempre uma resposta para uma pergunta.
 
Ensinar a pensar é mesmo um exercício diário que todos devem fazer. Devemos aprender a pensar antes de reagir e, para isso, é essencial dar um tempo de silencia a nós mesmos para podermos refletir acerca de algo. Podemos ensinar o mesmo aos nossos filhos e educá-los para a tomada de consciência. Ao pensar será a criança que vai evitar ter determinados comportamentos, uma vez que analisa os perigos e, isto estende-se a tudo na sua vida, até à escolha dos seus amigos, pois sabe ver aqueles que têm melhores comportamentos, a decisão por atividades em que quer participar e a recusa daquilo que lhe é prejudicial, como por exemplo as drogas.
 
Para além de todas essas vantagens, ensinar a pensar também é importante porque evita que os pais tenham sempre o mesmo discurso em relação aos filhos. Quer isto dizer que, ao invés de lhe repetirmos todos os dias o que ele deve fazer, devemos deixar que ele pense acerca das suas tarefas e assuma as suas responsabilidades com coisas tão elementares como fazer a sua cama, tomar banho, lavar os dentes, vestir-se, arrumar a mochila para ir para a escola, fazer os trabalhos de casa e daí por diante. Os pais podem fazer a pergunta “já estás pronto?” e naturalmente a criança vai pensar naquilo que precisa de fazer até sair de casa ou quando regressa. Este é um estímulo para ajudar os mais novos a pensar e a perceber a importância dos seus gestos e comportamentos. Quando a criança percebe que os pais têm de esperar por ela e de lhe dizer várias vezes para se despachar, passa a ser ela a ter mais iniciativa para o fazer, ou seja, pensa acerca dos seus comportamentos. Com estes exemplos diários, passa-se para um maior nível de exigência sempre expondo o que é preciso, conversando com a criança e fazendo-a perceber a razão de existir das regras de bom funcionamento. Até a brincar é importante que a criança compreenda o seu papel e o seu valor, a importância de tomar decisões, razão pela qual a brincadeira com os pais é tão importante no desenvolvimento. Esse tempo em que pais e filhos partilham a mesma brincadeira deve ser aproveitado não para impor o que quer que seja, mas sim para que ambos tomem as decisões, para que se ouçam uns aos outros, para que os filhos se expressem livre e espontaneamente.
 
Augusto Cury explica que, “quando o seu filho comete um erro, já está à espera de uma atitude sua”. Ao lhe dizer “não”, isso causa um impacto nas suas emoções através do fenómeno RAM – Registo Automático da Memória, pelo que não produzirá um registo inteligente, e, consequentemente, não haverá crescimento, mas sofrimento. Neste sentido, os pais não devem insistir nem repetir as mesmas coisas para os mesmos erros, para as mesmas teimosias.
 
O mesmo autor realça que, “educar não é repetir palavras, é criar ideias, é encantar”, já que “os mesmos erros merecem novas atitudes”.
 
Cury evidencia que, “os nossos filhos não são computadores em que é fácil corrigir ou apagar um erro, mas possuem uma inteligência complexa”. Diariamente, pelo menos quatro fenómenos leem a memória e, no meio de bilhões de opções, produzem milhares de cadeias de pensamentos e inúmeras transformações da energia emocional. Os quatro fenómenos são: o gatilho da memória, a janela da memória, o autofluxo e o EU, que representa a vontade consciente.
 
Neste sentido, a personalidade das crianças e dos jovens está em constante ebulição, porque nunca se interrompe a construção de pensamentos. É impossível parar de pensar, até a tentativa de interrupção do pensamento já é um pensamento. Nem ao dormir interrompemos os pensamentos, por isso sonhamos. “Pensar é inevitável, mas pensar demais,  gera um desgaste violento de energia cerebral, prejudicando drasticamente a qualidade de vida, pelo que, os pais não devem ser um manual de regras, mas sim fornecer os melhores momentos e conteúdos para estimular a capacidade de pensar dos filhos”.
 
Para Cury, “as regras são boas para reparar computadores. Dizer “faça isso” ou “não faça aquilo”, sem explicar as causas, sem estimular a arte de pensar, “produz robôs e não jovens que pensam”.
 
Segundo este psiquiatra, 99% das críticas e das correções dos pais são inúteis, não influenciam a personalidade dos jovens. Além de não educar,  geram mais agressividade e distanciamento. O que fazer? Surpreendê-los! Pais brilhantes conhecem o funcionamento da mente para educar melhor, já que têm consciência de que precisam ganhar primeiro o território da emoção, para depois ganhar o anfiteatro dos pensamentos e, em último lugar, conquistar os solos conscientes e inconscientes da memória, que é a caixa de segredos da personalidade. “Estes pais surpreendem a emoção com gestos ímpares”. Deste modo, “geram fantásticos momentos educacionais”.
 
Fátima Fernandes