Comportamentos

Como lidar com as mentiras das crianças?

 
Os especialistas afirmam que é muito difícil conter um pai ou uma mãe que se apercebe que o seu filho lhe mentiu.

Tal acontece porque existe uma idealização dos adultos em torno das crianças, considerando que as mesmas, por serem tão “perfeitas” e ingénuas ao mesmo tempo, não possuem essa habilidade, no entanto, isso é um erro.
 
Segundo um trabalho de investigação realizado por Victoria Talwar, da Universidade McGill, do Canadá, as crianças começam a mentir assim que se processa a linguagem, pelo que, por volta dos 2 anos de idade, já é possível detetar alterações ao conteúdo proferido pelos mais novos, sendo que a tendência é de continuidade nas etapas seguintes.
 
Neste sentido, os especialistas reuniram os principais motivos que levam a que uma criança minta, são eles:
 
• Esconder alguma coisa para não ser castigada;
• Tornar uma história mais emocionante quando conta algo para outra criança ou um adulto.
• Chamar a atenção, mesmo quando a criança sabe que os adultos já conhecem a verdade;
• Obter algo que pretende, como por exemplo dizer à avó que a mãe a deixa comer doces antes do jantar.
 
Segundo os mesmos entendidos, é preciso ter em conta que, o facto de uma criança mentir, não traduz que ela seja má ou que se vá tornar num adulto mentiroso ou com mau caráter, mas sim  que precisa desse recurso para se proteger num determinado momento. O medo de receber um castigo, de apanhar uma palmada, de não poder fazer algo, são razões que levam a que uma criança omita a verdade e opte por contar algo à sua maneira e ao sabor da sua imaginação.
 
É importante ter em conta que, as crianças pequenas ainda não sabem definir bem a diferença entre a fantasia e a realidade, pelo que tendem a misturar esses dois mundos sem que se apercebam muito bem do que dizem. Sabem que precisam de sair daquela situação embaraçosa e dizem o que consideram que melhor as pode retirar dali. Ao mesmo tempo, dá-lhes prazer perceber que os adultos vibram com uma boa história, pelo que a podem acrescentar até que sintam que estão a ser o centro das atenções, acrescentando pormenores, inventando detalhes e daí por diante.
 
Segundo o estudo de Talwar, cerca de 38% das crianças de 5 anos nem sabe o que é uma mentira, por isso, cabe aos pais mostrar-lhes como é importante contar sempre a verdade e explicar aos poucos as consequências de uma falsa história. Na mesma sequência, os adultos nunca devem chamar mentirosa á criança, uma vez que, isso apenas irá funcionar como uma autorização para que minta sempre que lhe apetecer.
 
É comum que os pais fiquem preocupados quando veem que os filhos estão a desenvolver o hábito de mentir, pelo que importa fornecer algumas linhas de orientação para que os adultos saibam como reagir:
 
1. Dê o exemplo
 
Perante as mentiras dos mais novos, os pais devem conversar com eles e explicar-lhes a importância de dizer a verdade e, naturalmente de não mentir. Para isso, os pais devem ser um bom exemplo e estar atentos a pormenores que, em muitos casos, podem contradizer essa orientação. É comum que, alguns adultos peçam á criança para mentir acerca da sua idade para que possam pagar menos numa entrada de um evento ou que digam em frente á criança que não puderam atender o telefone porque estavam numa reunião quando, na realidade, estavam em casa. É típico este tipo de fugas à verdade e, os mais novos registam tudo e absorvem a mentira como algo natural, pelo que, os pais devem evitar este tipo de comportamento para que possam ser um bom exemplo para os filhos.
 
2. Crie uma relação de confiança
 
A relação de confiança entre pais e filhos é fundamental para que, quando os mais novos se veem em apuros, sejam honestos e capazes de dizer a verdade.  Para isso, é imperioso que a criança não tenha medo de um castigo ou  de apanhar uma palmada quando mente. O facto de os pais reagirem a uma mentira com raiva e com castigos severos dará lugar a que a criança ainda minta mais pois tem medo das consequências. O ideal é conversar, explicar a importância de dizer a verdade, mostrar que ficou aborrecido com a situação e que era importante que a mesma não se repetisse, mas tudo isto numa atitude serena. Os pais devem sublinhar que ficaram felizes porque o filho lhes disse a verdade, mesmo que tenham começado a história com uma mentira, pois só assim os mais novos terão um reforço para se orientarem.
 
3. Não relacione a mentira à ideia de castigo
 
É evidente que pode e deve chamar a atenção da criança quando esta lhe mente, mas como já dissemos acima, evite os ataques de raiva. Opte por um castigo mais leve ou por mostrar-lhe que ficou triste com a mentira, uma vez que, será dessa forma que vai aprender a dizer a verdade, mas não faça disso uma escalada de castigos e de repreensões. A conversa esclarecedora em que a criança pode dizer a verdade, é sempre a melhor opção para evitar a continuidade da mentira. Explique-lhe que a mentira provoca muitos mal entendidos e que, por isso, tem consequências, mostre-lhe claramente que uma pessoa honesta é alguém em quem os outros confiam e acreditam, transmita-lhe a ideia de que, quando se mente torna-se muito difícil provar a verdade e daí por diante ,e acredite que, essas mensagens vão surtir o seu efeito no tempo.
 
Por fim, resta-nos evidenciar a importância de ser paciente e compreensivo, mas firme ao mesmo tempo, pois não deverá fazer de conta que não percebeu uma mentira só para evitar um conflito com o seu filho, mas sim saber lidar de forma exigente e adulta com a situação.
 
Os pais não devem ter problemas em mostrar que ficaram aborrecidos com a mentira e devem sublinhar o facto de serem um exemplo positivo no que se refere à verdade, pois esse ponto também será tido em boa linha de conta pelos mais novos. Para tal, todos devem empenhar-se num estilo de vida honesto e mais agradável, completam os entendidos nesta matéria.
 
Depois e, por último, é essencial que se explique aos mais novos que, há mentiras que servem de recurso para nos protegermos e que não prejudicam os demais como sendo o caso de dizer que se está cansado para evitar ir a uma festa ou que nos atrasamos no trânsito para justificar que não conseguimos chegar a horas numa situação pontual. É evidente que o ser humano mente, e que esse recurso é quase inerente às relações sociais, mas há mentiras mais graves do que outras e que inclusivamente podem perturbar a boa convivência social e gerar muitos conflitos entre as pessoas, pelo que devem ser evitadas.
 
Ao mesmo tempo, a verdade e a honestidade devem sempre ser sublinhadas como reforço.
 
Fátima Fernandes