Comportamentos

Confira os sinais das vítimas de maus-tratos na infância

Foto|Freepik
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Na posição dos vários especialistas que estudam esta matéria, existem vários sinais que indicam que uma criança sofre maus-tratos, sejam eles de violência ou de negligência.

Todos devem estar despertos para esta realidade, sabendo que, muitas vezes esse comportamento abusivo é proveniente dos pais, principais cuidadores e responsáveis por educar e proteger a criança, ou de outros membros da família e até da comunidade onde a criança está inserida.
 
Em linhas gerais, uma criança que é maltratada apresenta estes sinais:
 
- Alterações no comportamento;
 
- Excesso ou falta de sono;
 
- Sono agitado, temores noturnos e insónia;
 
-  Excesso ou falta de apetite;
 
- Comportamento agressivo que é uma reprodução daquilo que sofre;
 
-  Irritabilidade ou apatia;
 
-  Desinteresse por tarefas de que gostava;
 
- Retração ou mutismo;
 
- Recusa em ficar com uma determinada pessoa ou dificuldades em querer ir para casa;
 
- Relatos de não gostar de determinada pessoa;
 
- Desenhos reveladores de situações ou estados sombrios;
 
- Diminuição do rendimento escolar e marcas físicas de agressão.
 
No caso específico da violência sexual, é preciso que os adultos estejam atentos a sinais de tristeza, desabafos que comprovam esse estado de espírito, marcas de ansiedade, medo fora do comum e que apresente comportamentos sexualizados pouco apropriados para a sua idade.
 
Relativamente à negligência, é importante registar que estes sinais são muito menos expressivos, mas tão perturbadores que acompanham a pessoa pela vida fora, logo, também devem ser investigados e apoiados.
 
A negligência emocional (que ocorre quando as necessidades da criança não são atendidas), revela-se através dos seguintes sinais:
 
• Quando os pais ou cuidadores ignoram as necessidades da criança; especialmente as emocionais.
 
•Quando lhe   ridicularizam e menosprezam as emoções.
 
•Quando os pais reagem de forma agressiva e pouco adequada aos pedidos e necessidades da criança;
 
•Não permitem que a criança se sinta protegida e com algum tipo de controle sobre o seu ambiente;
 
•Não demonstram amor, afeto, cuidado, carinho e, pelo contrário, utilizam expressões destrutivas, humilhantes e pouco abonatórias para a criança, fazendo com que se sinta mal, envergonhada e sem qualquer valor.
 
Todo e qualquer tipo de violência deixa marcas na personalidade, na autoconfiança, na autoestima e na forma como esse ser humano vai gerir as suas relações na vida adulta, daí ser muito importante não só prevenir todos e quaisquer cenários abusivos, como ajudar a pessoa a melhorar a qualidade de vida ao longo do seu percurso.
 
Para identificar alguém que tenha sofrido maus-tratos na infância, registe como se apresentam os adultos que passaram por situações muito dolorosas, especialmente no seu ambiente familiar, onde deveriam ter sido cuidados, amados e protegidos.
 
Por norma, são pessoas que aparentam estar bem e ter tudo sobre controle, são afáveis, gentis, conciliadoras, cuja companhia é agradável; mas, se as observarmos com mais atenção, vamos perceber que, por trás de uma grande generosidade e vontade de ajudar os outros, escondem-se marcas de muito sofrimento.
 
Se há pessoas que sofreram maus-tratos na infância e que se tornam revoltadas, agressivas ou vingativas, há muitas que se apresentam de forma totalmente oposta, o que parece camuflar a dor que sentem. Na sua maioria, as pessoas que sofreram de negligência emocional parecem ter medo do mundo precisamente porque lhes faltam requisitos elementares para que se afirmem tal como são.
 
Em linhas gerais, são adultos com estas características:
 
- São pessoas complacentes, que se preocupam muito em agradar e em cumprir exatamente o que os outros desejam e esperam delas. Este é o seu traço principal, uma vez que, precisam de ser aceites e de esconder a sua vulnerabilidade.
 
Este é um processo inconsciente que as leva a darem tudo aos demais em troca de um pouco de atenção e de algo que as ajude a compensar a enorme carência emocional que sentem.
 
- Para evitarem os conflitos a todo o custo, estas pessoas rapidamente tentam acalmar as partes, pedir desculpa e até aceitar a culpa de tudo. Chegam ao ponto de pedir desculpas até em nome de outros para se protegerem e não participarem em situações dolorosas.
 
- O principal medo destas pessoas é que possam ser consideradas “más”, por isso, são muito sensíveis à crítica e aos comentários dos demais. Ouvem tudo com muita atenção e desfazem-se em desculpas para evitarem esse rótulo. No fundo, não querem ser más como a pessoa ou pessoas que as maltrataram, por isso tentam por todos os meios, parecer pessoas “boas”, até acima da média.
 
-  São pessoas que nunca falam das suas emoções ou expressam o que sentem porque foram habituadas a ter de permanecer em silêncio, a não poderem partilhar sentimentos e a serem criticadas quando falavam. Eram rotuladas como “chatas” e “aborrecidas”, pelo que estão sempre prontas para ajudar os outros, mas nunca reclamam ou expressam necessidades.
 
- Não conseguem confiar nos outros, o que também as remete para o silêncio.
 
-  Vivem um constante sentimento de tristeza e sentem um vazio enorme dentro de si, mas disfarçam ao máximo esse estado  para que ninguém lhes pergunte o que se passa.
 
- Têm um enorme medo de incomodar os outros, de os aborrecer com os seus problemas, razão pela qual também não falam. Num grupo ou numa qualquer outra relação, são excelentes ouvintes, confidentes e estão sempre disponíveis para o que for necessário, pois o importante é que ninguém lhes pergunte como estão e o que se passa. Quando tal acontece, dizem sempre que está tudo bem, não deixando qualquer sinal de que possa não estar.
 
Note-se que, estes comportamentos são o reflexo de uma educação negligente, em que a pessoa era maltratada, desvalorizada, gozada e humilhada de toda a forma.
 
Para ultrapassar estas marcas, a pessoa em causa deve tomar consciência do que lhe aconteceu, permitir assumir e sentir a sua história, ser capaz de reconhecer que teve uma infância muito dolorosa e pedir ajuda, pois um psicólogo especializado poderá fazer uma intervenção profunda e eficaz. É ainda importante que a vítima saiba que tem o direito de ser feliz, de se afastar de quem a maltrata e iniciar um novo percurso, já que essa é a base para que se inicie um tratamento e um novo caminho.
 
No caso das crianças, os pais devem estar atentos aos sinais e pedir ajuda especializada, em caso de desconfiança de qualquer tipo de abuso.
 
Na comunidade, os sinais também não devem passar despercebidos, uma vez que, em muitos casos, são os pais os abusadores e quem maltrata de alguma forma a criança. Também é comum que a mãe ou o pai protejam o abusador quando se trata de um membro da família, por isso, professores, educadores, médicos ou outros profissionais que contactem com a criança devem dar o alerta o quanto antes.
 
Fátima Fernandes