Família

Consequências de crescer com um pai ou uma mãe narcisista

 
Recorrendo a uma publicação da revista A Mente é Maravilhosa, lê-se que, os especialistas na área da psicologia consideram ser muito difícil para uma criança crescer com um pai ou uma mãe narcisista.

Quando a criança aos 8, 9 ou mesmo 10 anos, já se imagina a viver uma vida de adulta, é-lhe complicada a tarefa de se visualizar sem aqueles traços característicos dos pais, daí começar logo a temer pelo seu futuro. Torna-se instável e insegura e, um dia, certamente que se vai aperceber do modo de educação errático que recebeu.
 
Segundo os mesmos especialistas, «há um excesso de traumas emocionais não curados e áreas psicológicas negligenciadas. A submissão mental a que se está submetido torna-se um obstáculo intransponível para a construção dos alicerces da boa autoestima, pilar fundamental para a gestão emocional. Essas deficiências atuam como fardos para o correto desenvolvimento psicossocial e a autoconfiança, elementos básicos para alcançar sonhos e desejos».
 
Da mesma forma, de acordo com um estudo da Universidade de Bahauddin (Paquistão), é muito comum que o perfil narcisista apareça no pai. Isso cria núcleos familiares nos quais a mulher e os filhos, ficam ancorados naquela figura dominadora que monopoliza toda a atenção e necessidade. Mãe e filhos têm a responsabilidade exclusiva de satisfazer e cuidar desse pai narcisista.
 
Perante esse mau ambiente, importa aferir os efeitos que essas experiências transportam para a idade adulta e, nesse sentido, a criança ou jovem vive dominado por emoções paralisantes que, no fundo são aquelas que não permitem que a pessoa seja igual a si mesma. São emoções que limitam a capacidade de decisão e interferem no contacto com o autocuidado e com a descoberta das potencialidades individuais.
 
Assim, um dos efeitos de crescer com um pai narcisista é viver em constante indecisão e insegurança. A pessoa tem dificuldade em resolver problemas, decidir por si mesma, atender às suas necessidades e até conhecer-se.
 
Ao mesmo tempo, reside dentro dessa criança ou jovem um terrível sentimento de culpa. Culpa por não ter reagido mais cedo, culpa por não ter lutado contra todo aquele sofrimento que se viveu na infância e uma enorme culpa também por não ter sido aquilo que queria.
 
Ainda neste sentido é importante referir que se pode tratar de um pai ou de uma mãe narcisista, sendo mais comum a figura masculina, no entanto, há muitos casos de mulheres portadoras dessa patologia. Depois, é de assinalar que, mesmo que a criança, jovem ou adulto se afaste deste pai ou desta mãe, irá transportar consigo as marcas de todo este sofrimento, razão pela qual se recomenda vivamente a terapia psicológica para ajudar no tratamento destes traumas.
 
Seguem-se os efeitos do gaslighting que se sofre diariamente. Quer isto dizer que, aquele pai ou aquela mãe nos fez acreditar que somos falíveis em tudo ou quase tudo o que fazemos. Estes pais convencem os filhos de que não servem para nada, que têm pouco ou nenhum talento e que pouco podem oferecer ao mundo com as suas características. Naturalmente que isto destrói a autoestima de qualquer ser humano e que a mesma tem de ser trabalhada urgentemente.
 
Este tipo de pais criticam tudo o que os filhos fazem, sejam hobbies, amigos, méritos alcançados e fazem com que os filhos se sintam as piores pessoas do mundo.
 
Ainda no âmbito das consequências de ter um pai ou uma mãe narcisista, temos a personalidade egoísta, que quer dizer: «o que eu preciso não importa».
 
A personalidade egoísta prefere existir, mas sem ser muito percetível. Esta criança ou jovem sabe muito bem o que é ser egoísta e, por essa razão não quer repetir esse padrão, pelo que acaba por se tornar precisamente no oposto. Torna-se numa pessoa sem vontade própria e que prefere fazer tudo pelos outros. Em muitos casos, esta forma de altruísmo torna-se patológica. Este filho ou filha negligencia completamente as suas necessidades, fica sem opinião sobre os vários assuntos e dedica-se totalmente aos desejos dos outros. Como este filho ou filha não quer ser um fardo na vida de alguém, acaba por viver na sombra dos demais. Não querem incomodar, têm medo de prejudicar os outros, então acabam por ser verdadeiras “marionetas” à mercê dos outros para se sentirem menos culpabilizados.
 
Outro efeito de crescer com um pai ou uma mãe narcisista é o apego inseguro ambivalente. Quer isto dizer que a pessoa que cresceu nesse ambiente, vive cheia de medo e de necessidades. Quer ser amada, mas teme ser magoada novamente, por isso torna-se desconfiada e contraditória, pois quer, mas teme, quer, mas não consegue e daí por diante. São as dinâmicas contraditórias deste tipo de apego ambivalente que conduz ao fracasso das relações.
 
«Quando somos criados por um narcisista, é muito difícil estabelecer relacionamentos emocionais seguros, felizes e estáveis. Temos dificuldade em confiar, mas ao mesmo tempo precisamos desesperadamente de ser amados», reforçam os especialistas.
 
Outro fator recorrente entre aqueles que tiveram que crescer com um pai narcisista é a somatização. Todo o acúmulo de emoções de valência negativa sofridas no passado e não geridas ainda está lá, especialmente a raiva. Essa emoção experimentada em face de cada desprezo, manipulação, depreciação e abuso psicológico deixa uma marca. Algo assim geralmente traduz-se em várias doenças físicas.
 
Para concluir, há muitas consequências que podem permanecer connosco como resultado dessas experiências. Agora, o mais importante é lidar com todas essas realidades. A terapia psicológica pode  permitir-nos superar essas feridas internas e moldar um presente e um futuro muito melhores, por isso, se cresceu neste tipo de ambiente, não hesite em pedir ajuda especializada.
 
Fátima Fernandes