Comportamentos

Consequências de educar para a culpa

 
Muitos pais ainda educam para a culpa porque também foram educados nesse sentido, porque se sentem culpabilizados por tudo o que lhes acontece e ainda porque é muito mais fácil.

Segundo os entendidos nesta matéria, os pais autoritários encontram no medo e na culpa “a solução” para levarem as crianças a fazerem o que pretendem. Os mais novos não precisam de pensar, simplesmente têm de obedecer às regras e imposições dos adultos. Desta forma, a criança não discorda, não coloca em causa o que lhe é pedido e deixa-se manipular com relativa facilidade.
 
Não age com base nas  consequências dos seus atos, mas sim, em função daquilo que os pais lhe exigem, pelo que se torna maleável e muito fácil de influenciar, no entanto, apresenta pouca liberdade de ação, de pensamento e felicidade, alertam os entendidos.
 
Para os pais autoritários, esta forma de educar é “perfeita” porque, “não dá muito trabalho transmitir as regras e colher os resultados. Os filhos obedecem sem colocar qualquer questão e crescem dentro desse modelo”.
 
Os especialistas alertam ainda que, a culpa dá lugar a um mal-estar emocional. Nasce de uma sanção simbólica e social, mas não leva à formação de indivíduos responsáveis, autónomos, maduros e conscientes de si mesmos e do mundo. A culpa condiciona a criança de tal forma que se torna difícil que a mesma compreenda os valores, a base das regras e a sua importância e que se sinta livre para tomar decisões conscientes. Uma criança educada com base na culpa só consegue reproduzir aquilo que lhe é transmitido, pelo que não é capaz de desenvolver o sentido crítico e a tomada de posição nas mais variadas ocasiões.
 
É um facto que, «usar a culpa para educar aumenta o controle que se exerce sobre a criança, na medida em que, naturalmente esta vive cheia de medos, limitações e pensamentos negativos, sendo muito mais fácil levá-la à obediência e à aceitação passiva das imposições parentais», no entanto, este modelo só agrada aos pais autoritários que se distanciam dos interesses dos filhos.
 
Por norma, estes pais não conhecem outra forma de educar, uma vez que, também já passaram pelo mesmo e, ao não terem evoluído e questionado aquilo que viveram, acabam por reproduzir o mesmo padrão. Ao mesmo tempo, há pessoas que, também pela sua educação rígida e pouco dada ao pensamento e à tomada de consciência, não se conseguem libertar da culpa, sendo que, o maior alívio que conhecem é transferir essas emoções negativas para os filhos que, por estarem numa posição inferior, acabam por ter de receber tudo sem direito a reclamações.
 
É quase como se de um círculo vicioso se tratasse. Os pais colheram a culpa da sua educação e fornecem-na intacta também aos seus filhos, mesmo sabendo que isso os prejudicou e que não lhes agradou, mas os entendidos chamam a atenção para estes pontos:
 
- A educação baseada na culpa destrói a autoestima.
É evidente que os pais têm de orientar os mais novos e de lhes fornecer as pistas para que possam aprender, mas deve existir uma margem de manobra que permita que os filhos pensem acerca do assunto e que emitam a sua opinião, já que essa é a sua forma de afirmação pessoal. A culpa leva a que a criança pense que, o que faz, pensa ou sente não é aceitável.
 
Na prática, os pais que educam para a culpa dizem aos filhos: «Não queres comer vegetais, mas todas as crianças bonitas e bem comportadas os comem sem protestar». Pelo contrário, os pais que respeitam os filhos dizem-lhes: «É importante comer vegetais para a vossa saúde. Não querem comer todos os que estão no prato, comam pelo menos metade, mas saibam que os grandes campeões comem legumes para terem muita força!». Esta posição leva a que a criança pense no assunto sem se sentir obrigada a realizar a ação.
 
- A culpa impede o desenvolvimento da consciência.
Educar não é ensinar uma criança a obedecer cegamente às regras. Educar com culpa leva precisamente a isso porque induz a criança a acreditar que é necessário agir de acordo com o que as figuras da autoridade determinam. Os mais novos educados na base da culpa não questionam os pais porque têm medo e porque consideram que é imoral fazê-lo. Com esta conduta, os pais levam a que os filhos não consigam construir uma consciência crítica e que não tenham noção das consequências dos seus atos.
 
Na posição dos especialistas, é fundamental orientar as crianças e os jovens para um modelo educativo baseado na consciência e não na culpa. Os mais novos devem pensar, analisar e formar a sua opinião acerca dos mais variados assuntos e, para isso, é fundamental que as regras, os valores e as orientações dos pais sejam transmitidas com um espaço para a reflexão e para a análise.
 
Explicar-lhes as consequências dos seus atos, é a base para que se sintam mais confiantes e para que evitem muitos comportamentos desajustados, no entanto, registe que, a educação não é um processo linear, muito menos perfeito e que os filhos não querem de forma alguma ver os pais aborrecidos com eles, por isso, é preciso muita paciência e resiliência, muito diálogo e compreensão para que o desenvolvimento ocorra de forma equilibrada, respeitosa, sadia e… sem culpas de parte a parte!
 
Fátima Fernandes