Curiosidades

Costuma acumular objetos? Saiba o que a ciência diz sobre o assunto

 
Em linhas gerais, os acumuladores compulsivos são pessoas que têm uma grande dificuldade em se descartar ou deixar os seus pertences, mesmo que já não tenham qualquer utilidade. Por esse motivo, é comum que a casa e até o local de trabalho dessas pessoas tenha muitos objetos acumulados, impedindo a passagem e o uso de várias superfícies.

Os acumuladores compulsivos são obcecados em armazenar coisas que não vão utilizar, mas livrar-se delas causa-lhes uma grande angústia e sofrimento. Muitas vezes, chegam a acumular objetos que encontram no lixo, mas que acreditam ter alguma utilidade ou valor se vendidos, mas na realidade acumulam-nos só pelo prazer de se sentirem “acompanhados”.
 
Numa publicação da revista A Mente é Maravilhosa lê-se que, a conhecida síndrome do acumulador causa um transtorno mental que, até hoje, levanta tantas incógnitas como especulações sendo que, o mais marcante é o facto de nos depararmos com uma condição que aparece com cada vez mais frequência, junto de uma população mais envelhecida.
 
Desde logo, é importante diferenciar o comportamento de acumulação da síndrome de Diógenes. Enquanto o segundo se limita a um acúmulo arbitrário de objetos colecionados sem valor por pessoas que muitas vezes se negligenciam e que sofrem de esquizofrenia, depressão ou comportamentos de dependência, o primeiro contém uma realidade mais chamativa.
 
Segundo a mesma revista de opinião, o transtorno de acumulação é definido pela ansiedade excessiva de se separar dos seus objetos. Por norma, são homens e mulheres que aparentemente têm uma vida normal, mas com a peculiaridade de guardar uma infinidade de utensílios de forma desordenada a ponto de ficarem sem espaço em casa.
 
Em média, este é um comportamento que aparece com maior frequência nas pessoas mais velhas; no entanto, também é sofrido pela população mais jovem. Por exemplo, alguém pode acumular torres de livros, antiguidades, roupas, brinquedos ou talheres pelo simples prazer de possuir os objetos, como se isso servisse como um reforço social e uma estratégia para se defender da solidão.
 
Numa tentativa de aprofundar o tema, a Universidade de Braga realizou um trabalho de investigação que lhe permitiu relacionar a acumulação de objetos com a depressão leve. Um dos pacientes acompanhados pelos especialistas conseguiu recuperar a sua vida normal após 9 meses de tratamento com antidepressivos, o que é um ponto a favor da compreensão desta patologia. No mesmo enquadramento, também a psicologia recomenda a psicoterapia para estes casos, na medida em que ajuda o paciente a tomar consciência de si mesmo e do seu comportamento levando-o a posicionar-se em paramêtros normais.
 
Nesta sequência, é importante conhecer as características das pessoas que são acumuladoras compulsivas e, nesse sentido é de salientar que, é comum o acumular de jornais, revistas e até correspondências comerciais. Também não conseguem jogar fora eletrodomésticos que  já não funcionam. Sentem uma conexão emocional com uma velha televisão, com um telemóvel antigo, ou com um secador de cabelo que pertenceu a um parente.
 
Ao mesmo tempo,  estas pessoas acumulam roupas velhas e não se importam com a falta de qualidade dos objetos, pelo que acumnulam velharias, guardam grandes quantidades de roupas que nunca foram usadas. O acumulador compulsivo pode focar-se apenas num único objeto ou dispersar-se por vários, chegando até à acumulação de animais, podendo ter em casa algumas dezenas deles. Refira-se também que, o armazenamento de objetos acaba por impedir o sujeito de realizar tarefas básicas como cozinhar, dormir, utilizar a garagem, a casa de banho e daí por diante.
 
Para entender  a razão pela qual algumas pessoas se tornam acumuladoras compulsivas, é importante reter que, não se trata de um distúrbio único, mas que se pode estender a um sintoma de outros transtornos. É uma realidade altamente complexa que afeta cada vez mais pessoas , no entanto, pode não se tratar de um transtorno obsessivo-compulsivo. Segundo Shirley M. Mueller, psicóloga especialista em neurobiologia, quase 50% das pessoas identificadas com transtorno de acumulação sofrem de depressão, 25% apresentam algum tipo de fobia social e 20% apresenta transtorno obsessivo-compulsivo.
 
Ou seja, é verdade que o ato de acumular responde ao comportamento compulsivo, mas o gatilho, em muitos casos, é um transtorno do humor, sublinha a mesma especialista.
 
Alguns trabalhos levados a cabo pela Universidade de Yale mostram que as pessoas que apresentam comportamento de acumulação possuem anormalidades nas regiões frontais do cérebro; especificamente no córtex pré-frontal medial. Ao mesmo tempo, o controle de pertences é entendido por algumas pessoas como um mecanismo de salvamento, ou seja, os acumuladores precisam de ter os seus pertences consigo, por mais inúteis que sejam, como um mecanismo de controle. Assim, sabe-se hoje que, mediante um  desconforto interno, uma sensação de insegurança psicológica que, estas pessoas vivenciam na decorrência de uma depressão ou ansiedade, o ato de acumular objetos e tê-los consigo gera alívio e segurança.
 
Encher a casa de coisas é uma forma de preencher vazios internos. Se a pessoa também apresentar uma alteração no córtex pré-frontal medial, já temos o gatilho para esse transtorno, revelam os entendidos na matéria.
 
No entanto, é preciso observar que, em média, o tratamento à base de antidepressivos, somado à terapia cognitivo-comportamental, tende a dar bons resultados. Para os investigadores, entendido o problema,o importante agora é, sem dúvida, ser capaz de estabelecer mecanismos adequados para prevenir e detectar o aparecimento de mais colecionadores compulsivos o mais rápido possível, uma vez que, este problema afeta o próprio e as pessoas em seu redor.
 
Após a leitura deste apontamento, é importante identificar se um familiar, colega ou amigo apresenta este tipo de comportamento para o poder ajudar, pois sozinha a pessoa raramente consegue ter essa perceção. Em casos mais ligeiros, o psicólogo pode ser um suporte, em casos mais graves será necessário recorrer a um psiquiatra, no entanto registe que é fundamental levar a pessoa a pedir esse apoio especializado pela melhoria da sua qualidade de vida e da dos outros.
 
Fátima Fernandes