Família

Crescer sem a presença da mãe

 
Quando nos cruzamos com uma pessoa na rua, no local de trabalho ou num qualquer contexto social, não nos passa pela cabeça o que a mesma pode esconder em termos emocionais.

Segundo a ciência, muitos dos comportamentos que apresentamos são um reflexo da forma como fomos criados, do ambiente familiar que recebemos e também daquilo que não tivemos.
 
Nesse sentido, uma criança que cresce sem a presença da mãe, pode até tentar ser agradável para captar a atenção dos outros, bem educada para que gostem dela e apreciem as suas ações, mas no fundo de si, residem sentimentos muito difíceis de explicar e de aceitar.
 
Há mães que são pouco presentes devido ao trabalho e à necessidade de gerir horários complexos, também há mães que se ausentam por alguns períodos de tempo pelos mais variados motivos e, ainda há mães que se afastam dos filhos sem uma justificação.
 
Para a criança, qualquer ausência da mãe é carregada de significado, na medida em que, em si reside o medo do abandono e a consciência de que é frágil e que necessita daquela protetora, mas quanto maior for a ausência, maiores serão os danos para a sua saúde, em especial, a psicológica e em termos emocionais.
 
Está provado que, as crianças, especialmente até aos seis anos de idade, que se confrontam com ausências constantes e prolongadas da mãe, desenvolvem sintomas de ansiedade, medos, fobias, distúrbios alimentares, alterações no sono, entre outros. Tal acontece porque a criança precisa desse porto-seguro, especialmente numa fase de vida em que se sente vulnerável, com necessidade de descobrir o mundo, mas com muito medo, para além de estar sempre assustada com receio que a mãe não regresse. É de tal ordem a instabilidade que estas crianças vivem que, não é recomendável, de forma alguma que uma mãe não marque presença diária na vida de um filho.
 
Pode dar-se o caso de a criança não se aperceber do conjunto de medos e sensações desagradáveis que vai acumulando com tais ausências, mas à medida em que vai crescendo, são muitos os sinais desse afastamento e de uma relação pouco consistente.
 
É normal que estas pessoas tenham problemas a nível emocional e que não saibam em quem podem confiar, que sintam dificuldades em manter relações com outras pessoas ou que, pelo contrário, se liguem tanto a alguém que sofram de uma relação de dependência. Seja qual for o cenário, não é nem saudável, nem agradável passar por esta situação, alertam os entendidos.
 
Ao mesmo tempo, é frequente que estas crianças não manifestem o que sentem, pois temem que, se disserem algo à mãe quando ela lhes aparece, que a mesma se vá embora e que já não volte. Assim, acabam por acumular um conjunto de emoções negativas que passam pela raiva, pelo ódio, pelo desprezo, entre outros indicadores de uma dor profunda.
 
À medida em que se vão desenvolvendo, estas crianças, jovens e posteriores adultos, passam a sentir que a pessoa que mais as deveria ter protegido e amparado, acabou por abandoná-las, razão que as leva a não conseguirem manter uma relação saudável e de confiança com a sua progenitora.
 
De um modo geral, uma relação com uma mãe ausente dá lugar a muitas dúvidas, afastamento e á falta de um vínculo de qualidade que é considerado essencial para um desenvolvimento sadio e para o bem-estar físico e emocional. É provável que muitas destas pessoas, desenvolvam desde cedo, problemas alimentares, excesso de ingestão de alimentos para compensar a carência ou, pelo contrário, jejuns prolongados para chamar a atenção e dizer que se está em sofrimento, o que, em muitos cenários, acaba por perseguir o sujeito pela vida fora.
 
Segundo os cientistas, é também muito recorrente que, pessoas que cresceram com uma mãe ausente ou praticamente sem ela, se sintam muito frágeis, com muitos medos e que, não sejam capazes de estar sozinhas, o que dá lugar às relações de dependência que referimos acima. Quando estão acompanhadas, conseguem ter algum grau de segurança, mas quando o outro se ausenta, instala-se o terror, razão que as coloca sempre em sobressalto e com os olhos fixos no outro, pelo receio que já não volte, tal como lhe aconteceu com a figura materna.
 
Por fim, os especialistas reafirmam: «a criança que vive com uma mãe ausente desenvolve um comportamento que segue uma sequência típica: protesto, desespero e estranheza. A ausência não inflama o carinho, mas enlouquece as emoções. No final, a saída é bloquear os sentimentos amorosos. Além disso, às vezes, cultiva um ódio surdo por ter sido submetida a esse círculo vicioso fatal de querer e perder».
 
Posto isto, percebe-se que a ausência de uma mãe pode dar lugar a seres humanos agressivos, distantes e tristes. Pessoas que têm de aprender a viver sozinhas e que vão ter muitas dificuldades em confiar, em partilhar, em dar e receber afeto.
 
Idealmente, quando se planeia a parentalidade, deve-se ter em conta a disponibilidade, o tempo, a capacidade de aceitar aquela criança, de lhe dar amor, cuidado e atenção, já que é muito doloroso crescer sem a presença de uma mãe ou com uma progenitora que só se limita a dar alimento e espaço para que o bebé durma e que não a incomode. Estar ausente também passa por estar na mesma casa, por estar presente em termos físicos, mas completamente afastada em termos emocionais e sem qualquer disponibilidade para ouvir, para aconselhar, para explicar e acarinhar.
 
Costumamos ver adultos muito simpáticos e disponíveis, sempre prontos para ajudar e para agradar… em muitos casos, são pessoas que tiveram de aprender a sobreviver sozinhas, a terem de colocar uma máscara de uma falsa felicidade para conseguirem integrar-se minimamente num grupo, mas, no fundo dos seus olhos, persiste a tristeza de nunca ter aprendido verdadeiramente o sentido do amor, do carinho e da capacidade de confiar em alguém.
 
Fátima Fernandes