Sociedade

Crianças que (só) conhecem a cidade pelo vidro do carro

 
Esta é uma reflexão que muitos entendidos na área social apresentam em vários meios de comunicação social e que tem dado lugar a muitos trabalhos de investigação.

Segundo muitos cientistas, há crianças que, efetivamente só conhecem a cidade onde vivem através do vidro do carro. Tal acontece devido ao acumular de atividades diárias que reúnem, devido ao facto de os pais também não caminharem pelas ruas do local onde residem, mas também pela falta de maturidade infantil que leva a que não queiram andar sozinhas na rua. O uso excessivo de equipamentos tecnológicos também está na base desta substituição do espaço exterior pelo interior, uma vez que, é muito mais fácil aprender um jogo sobre a vida na cidade do que contactar com o mundo real.
 
São muitas as crianças que, neste tempo atual, não brincam na rua, muito menos contactam com o lado positivo e negativo da sua área de residência. Saem de uma atividade para outra, sempre de carro e sem espaço para explorarem algo tão elementar como a zona onde estão inseridas.
 
Esta situação levanta vários problemas, desde logo, a falta de conhecimento e de enquadramento do local de residência que é muito importante para que a criança aprenda a proteger-se dos perigos. Depois, o facto de não caminharem pelas ruas, faz com que as crianças e jovens temam fazê-lo em idades mais avançadas, mantendo o hábito de andar de carro. Na mesma sequência, são muitas as habilidades sociais que se perdem em crianças ou jovens quase “robotizados” que não conhecem a realidade citadina.
 
Na posição dos especialistas na área social, esta ausência de contacto dá lugar a uma ignorância desnecessária, a par de uma grande imaturidade que, começa na infância, mas que corre o risco de se prolongar pela idade adulta.
 
Muitos cientistas lançam algumas questões: como poderemos ter governantes num futuro se as nossas crianças e jovens mal contactam com a sua própria realidade? Quem vão ser os responsáveis políticos quando só temos miúdos habituados aos espaços interiores? Quem vai intervir na sociedade, nas mais variadas profissões quando os mais novos estão tão alheados dessa dimensão?
 
É fácil perceber que, os parques infantis apenas servem meia dúzia de “corajosos” que se atrevem a destruí-los porque deixou de estar na moda frequentar estes espaços de entretenimento que tanto alegravam as crianças de outros tempos, tal como se nota que, há cada vez menos crianças nas ruas, seja a brincar ou a caminhar…
 
Não pensamos no quanto essa realidade faz falta aos mais novos e que, é através desse contacto que se conhecem as particularidades dos locais e que se desenvolvem aptidões indispensáveis à boa convivência social.
 
Continua a ser importante saber quem faz o pão, quem cuida dos espaços ajardinados, quem zela pela nossa segurança, quem apaga os fogos, quem cultiva a terra e daí por diante, mas as novas gerações vivem submersas nos videojogos, observam a cidade pelo vidro do carro e, muitas vezes, também acompanhadas pelos ecrãs porque nada lhes chama a atenção no exterior.
 
Segundo os entendidos, esta reflexão deve chegar ás cidades de grande dimensão, mas também às menores, pois o problema estende-se um pouco por todos os locais sendo que, os pais devem ser também chamados para esta tomada de consciência, pois muitas vezes, andam tão alheados da sua vida comunitária, tão distantes dos espaços onde também se poderiam divertir e conviver, que se esquecem de levar os filhos a uma simples feira, ao mercado, ao museu, à biblioteca, ao parque infantil, ao jardim ou qualquer outro local onde possam estar em família e, ao mesmo tempo, em contacto com as particularidades locais.
 
O contacto com a natureza também é fundamental e deve fazer parte das escolhas para um passeio onde os mais novos possam aprender a apreciar o belo e o contraste com a agitação citadina.
 
É importante fornecer uma boa educação, oferecer regras, valores, limites e conhecimento, mas também oportunidades de aprendizagem e espaços onde os mais novos possam pensar sobre a realidade que os rodeia. O simples facto de aprenderem a orientar-se na cidade ou em qualquer outro local, é um ponto de partida para que adquiram também mais conhecimento, pois a continuar nesta linha de orientação, será através dos ecrãs que os miúdos de hoje vão aprender a vida, com todas as limitações que os mesmos encerram, já para não falar que, ao não contactarem com a vida quotidiana das cidades, acabam por desenvolver muitos medos e pânicos que seriam evitados com uma caminhada, com uma brincadeira, com a observação atenta do que se passa ao nosso redor…
 
Fátima Fernandes