Sociedade

Dália Paulo apostada em «dar uma nova vida a Loulé»

 
 
Um ano após a tomada de posse do novo executivo autárquico, o Algarve Primeiro quis saber mais acerca do trabalho que está a ser realizado pela Divisão de Cultura e Património da Câmara Municipal de Loulé.

 
Em linhas gerais, Dália Paulo, sublinhou que, o primeiro grande objectivo da autarquia em termos culturais, é «dar uma nova vida a Loulé», é «fazer chegar a cultura a todo o concelho, é valorizar a identidade do território e envolver a comunidade num património que é seu. Ao mesmo tempo, é aproveitar este importante recurso como forma de atracção turística, uma vez que, os visitantes acabam por se dispersar pela zona mais a litoral e “esquecer-se” do restante concelho».
 
Clarificando que, «os turistas procuram a diferença, do que lhes é proporcionado nos seus países de origem, temos de dar resposta a este novo paradigma: a necessidade de promover o contacto dos turistas com as gentes locais, com a sua matriz cultural, com a vida quotidiana, pois é isso que constrói raízes e fidelização».
 
Realçando a importância das obras que foram iniciadas pelo anterior executivo e que, «tiveram continuidade desde a tomada de posse da nova equipa autárquica, Dália Paulo reforçou que «os banhos islâmicos vieram dar uma nova vida à zona histórica e pretendemos que possam dar uma nova vida à cidade e ao concelho. Neste sentido, contamos com a parceria da Universidade do Algarve e dos seus técnicos para avaliar os locais e a continuidade dos trabalhos».
 
«Dar uma nova vida a Loulé», tem sido, para a ex-directora regional da cultura, «uma estratégia global que implica todo o concelho, que envolve investimento, capacidade de atrair investidores e de potenciar o turismo».
 
Tendo por base a ideia de que, «as pessoas têm de se identificar com a sua cultura, têm de gostar e apreciar aquilo que é um marco da sua história e, ao mesmo tempo, sentirem necessidade de estar mais próximas dos espaços culturais, é a base de todo este trabalho. 
Depois, partindo da realidade de que, Loulé é um concelho turístico, é um imperativo envolver os que nos visitam nesta dinâmica local. É fundamental que, quem vem a Loulé possa fazer parte da realidade do concelho, possa envolver-se naquilo que é “genuíno” e diferente do que existe no seu país de origem. Para isso, temos de fazer chegar a cultura aos locais onde as pessoas estão, seja de férias, seja na sua vida quotidiana.Um exemplo disso, foi a iniciativa que realizamos este verão na Praça do Mar em Quarteira em que milhares de pessoas apreciaram a exposição: “Quem nos escreve da Serra”. Esta iniciativa foi muito bem acolhida por todos quantos tiveram oportunidade de valorizar testemunhos de há 2000 anos, num espaço acessível à praia e à vida diária de turistas e dos habitantes locais».
 
Com a valorização do centro histórico de Loulé em curso, clarificou que, «o projecto “Loulé Criativo” reúne em si vários objectivos em simultâneo e que não podem ser dissociados. Por um lado, a recuperação do Centro Histórico, a sua dinamização com vista à capacidade de tornar toda a área num espaço de visita diária. Por outro, a capacidade de potenciar e atrair investimentos para a cidade, nomeadamente indústrias criativas e espaços comerciais que possam conferir uma nova vida à cultura e ao turismo. Despertar curiosidade e permitir que, quem visita Loulé, tenha algo para fazer; que possa participar em actividades e que se possa envolver na dinâmica local, é também um importante pólo de atracção turística que estamos a desenvolver em articulação com a autarquia».
 
Ainda relativamente ao projecto “Loulé Criativo”, esta responsável reforçou uma candidatura em curso à Rede de Turismo Criativo, sediada em Barcelona, «que implica precisamente esta dinâmica com a vida cultural, com a existência de programas que permitam que, os turistas experienciem novas vivências e que se sintam a fazer parte deste local. É também nosso intuito, nessa vertente criativa, valorizar e potenciar do ponto de vista turístico, o trabalho dos artesãos; permitir que mostrem a sua arte, que ensinem a fazer e que existam pessoas interessadas em aprender. Considero fundamental que não se perca aquilo que é a matriz da nossa cultura e, para tal, é preciso dar a conhecer, criar, envolver e construir raízes de continuidade».
 
Convicta de que, o concelho de Loulé reúne todas as condições para desenvolver um trabalho desta dimensão, a directora de divisão de cultura e património, não deixou, no entanto, de referir que, «tem de ser um trabalho rigoroso, consistente, com continuidade e com tempo, sob pena de tudo se perder».
 
Dália Paulo salientou ainda que, «está a ser implementada uma estratégia global com vista a desenvolver condições para que haja investimento no centro histórico, para promover inclusive a habitação na zona. Este trabalho é no fundo, criar um quarteirão cultural com potencial para atrair visitantes durante todos os dias da semana e ao longo do ano. Desta forma, ultrapassa-se a tradição de Loulé ser um local de visita ao sábado».
 
A responsável realçou o trabalho que tem sido desenvolvido em conjunto e o empenho da autarquia na realização dos projectos, bem como a parceria com a Universidade do Algarve que, tem apoiado nas escavações arqueológicas e avaliado a continuidade das mesmas através do seu parecer técnico.
 
A um ano das Comemorações dos 20 anos de Museu de Loulé, Dália Paulo «levantou a ponta do véu», prometendo um programa recheado de surpresas e um convite para fazer parte de um momento importante para o concelho. A responsável pela cultura da autarquia louletana adiantou que, «serão convidados todos os protagonistas que fazem parte da história do Museu de Loulé. Vão estar presentes as pessoas que deram vida a este espaço, os cidadãos que têm a sua opinião acerca do Museu, que vão dar vida à iniciativa: «O Olhar de…» 
 
«Teremos espaço para ouvir, para trocar experiências com aqueles que, não sendo técnicos, têm tanto para nos ensinar e oferecer. É importante saber como gostariam que fosse o seu Museu e como o projectam para o futuro».
 
Não perdendo a oportunidade de salientar que, «os museus são espaços do presente. São espaços que contam a sua história, que nos mostram a sua matriz cultural, mas que são espaços de hoje», Dália Paulo reforça a ideia de «relação entre o património, os muros e as pessoas, pois sem este envolvimento nada faz sentido. Existem muitos avanços na ciência, mas toda a comunidade técnica é unânime em afirmar esta condição que, é a base de todo este trabalho fazer sentido. Uma qualquer actividade percorre o seu tempo, situa-se num determinado marco histórico, mas tem sempre de terminar no presente, senão algo falhou».
 
Referiu ainda a parceria com o Campo Arqueológico de Mértola e a visita de Cláudio Torres como uma importante mais valia no processo de musealização que está a decorrer no concelho e recordou que, «o Museu de Loulé tem mais ramificações: Querença, Alte e Salir e, é nesta ideia de união que se consegue a força de um concelho. Com uma estrutura organizada forte neste museu, o trabalho tem de contagiar os seus pólos para um projecto conjunto e, é nesse sentido que estamos a apostar desde o primeiro momento».
 
Como obstáculos, aponta a importância de tornar os espaços acessíveis a todos, pelo que, «a autarquia já adquiriu a casa junto ao castelo com vista a ser pensada a acessibilidade, pois um dos constrangimentos que temos é mesmo a dificuldade em oferecer a visita a pessoas com mobilidade reduzida que não podem deslocar-se a todos os locais. O pólo de Salir também ainda não reúne as condições ideais, pelo que estamos a trabalhar o melhor possível para minimizar o problema».
 
No seu primeiro ano a conduzir os destinos da cultura e património de um concelho com uma vasta extensão, com enormes potencialidades e desafios, Dália Paulo considera: «temos um museu polinucleado, pelo que, todo o trabalho que se desenvolve não pode descurar o que se faz nos seus pólos e, Alte já tem uma dinâmica interessante, sendo já uma referência, que tem sido construída desde a sua inauguração. Agora temos de dar continuidade a este projecto que é ambicioso e realista, que está a envolver a comunidade e que se quer para todos em proximidade».
 
Recordou que, na sequência das Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril «se conseguiu um marco importantíssimo para toda a dinâmica em curso. Todas as associações locais se envolveram no projecto e deram o seu melhor e, é mesmo isso que se pretende, é dessa continuidade que estamos a falar, pois só assim nos estamos a aproximar dos nossos objectivos de fazer chegar a cultura a todo o território que é extenso. Temos uma área de acção que vem desde o Alentejo até ao Oceano Atlântico, mas isso é que é desafiador».
 
Para terminar, reforçou a ideia de continuidade no trabalho que está a desenvolver e no qual acredita, uma vez que, «sem cultura, não existe liberdade. É um papel dos museus promover a transformação – construir e contribuir para que os cidadãos sejam mais activos, criativos e capazes de pensar por si mesmos. Essa transformação ocorre no tempo, sendo que, é fundamental que a cultura esteja onde estão as pessoas».
 
Manifestando a sua clara intenção de dar forma ao Serviço Educativo num local específico para o efeito, confidenciou que, até ao momento, «as actividades desse departamento funcionam devido ao talento dos profissionais, mas que ainda há muito por fazer neste sentido».
 
A criação de um espaço educativo «irá promover a relação dos mais novos com o museu e possibilitar essa transformação, pelo que, «estamos a trabalhar para que essa sala tenha condições e que possa ser uma porta aberta para as novas gerações».