Sociedade

De que forma o TikTok pode afetar o cérebro dos mais novos

Foto|D.R
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Tal como em qualquer outra rede social, estar ligado ao TikTok apresenta pontos positivos e negativos, pelo que, se tem crianças ou adolescentes em casa, esteja atento/a a estas recomendações dos especialistas.

Em primeiro lugar, é importante registar que, o TikTok é, efetivamente, um aplicativo divertido e apelativo, que não deve ser proibido, mas sim limitado devido aos riscos que acarreta para a saúde mental.
 
Segundo os especialistas, o TikTok tornou-se numa das redes sociais mais populares dos últimos tempos devido ao facto de reunir, em vídeos curtos, os conteúdos que as crianças e jovens mais apreciam, mas não só.
 
Embora o TikTok não ofereça nada que já não tenha sido visto noutras plataformas digitais, a verdade é que combina uma série de características que o tornam especialmente atraente:
 
•Oferece vídeos curtos. O conteúdo audiovisual da plataforma é composto por clipes que duram entre alguns segundos e alguns minutos. Desta forma, a informação é concentrada e apresentada de modo conciso e apelativo.
 
•Cada utilizador recebe um conteúdo completamente personalizado. Isto deve-se a um algoritmo que capta os interesses de cada pessoa com grande precisão para lhe oferecer o conteúdo que lhe desperta mais curiosidade.
 
•Consoante a deslocação do ecrã, assim será a sequência infinita de vídeos curtos a que o utilizador pode aceder. Dessa forma, ocorre  um reforço intermitente que nos provoca a sensação de que, quase como que num passo de mágica, irá surgir um conteúdo que não podemos perder.
 
Segundo os entendidos nesta matéria, é dessa forma que o TikTok nos afeta o cérebro, já que, ativa poderosamente o sistema de recompensas, graças às descargas de dopamina geradas ao assistirmos a cada um dos vídeos. Esse facto promove duas sensações positivas no nosso cérebro: por um lado, oferece um prazer imediato e, por outro, contribui para que, através de um registo positivo, tenhamos a necessidade de o repetir infinitamente, pois é algo de muito agradável e desejável.
 
Neste sentido, é importante reforçar que, se utilizada com moderação e limites, esta plataforma é positiva pelo prazer que nos oferece, mas quando usada sem regras e por tempo ilimitado, torna-se potencialmente  prejudicial para crianças e adolescentes, devido essencialmente a estes aspetos:
 
- Diminui a concentração e afeta a memória
 
Profissionais de saúde, pais e educadores detetaram que as crianças apresentam cada vez mais dificuldades em manterem-se atentas e concentradas por períodos mais alargados de tempo. As principais causas apontadas pelos especialistas são o excesso de ligação aos ecrãs e, sobretudo a relação que estabelecem com o TikTok que, é uma das plataformas sociais mais utilizadas pelos mais novos.
 
Os entendidos chamam a atenção para o facto de os jovens estarem numa fase particularmente vulnerável, uma vez que, o córtex pré-frontal (responsável pelo controle de impulsos, memória e atenção)  está em desenvolvimento até aos 25 anos de idade. Depois, a exposição a esse tipo de conteúdo (em que se oferece conteúdo e gratificação instantânea) pode influenciar negativamente o desenvolvimento dessas habilidades cognitivas.
 
Ao mesmo tempo, essa interação intensa prejudica a capacidade de adiar a gratificação, na medida em que os utilizadores se sentem cada vez mais impacientes e a desejar um prazer imediato, devido ao hábito proporcionado por este tipo de plataformas digitais. Logo, tudo o que lhes exige tempo e esforço acaba por perder o interesse, o que faz com que as crianças e jovens estejam cada vez mais ligados ás redes e menos disponíveis para outras atividades.
 
Além de muito viciante, os entendidos alertam que o TikTok, pelas características que encerra, não prepara os mais jovens para o mundo real, já que, todos sabemos o quanto é necessária a paciência, a perseverança, a determinação e a capacidade de esperar pelos resultados de um qualquer esforço.
 
Ao mesmo tempo, o TikTok e demais plataformas virtuais, podem dar lugar a diversos problemas de desenvolvimento social e emocional, uma vez que, o excesso de concentração na rede e nas suas interações faz com que outras atividades que também são prazerosas e importantes sejam colocadas em segundo plano, como é o caso de um passeio, uma brincadeira no parque, andar  de bicicleta, contactar presencialmente com outras crianças e jovens, ler um bom livro, estar em família, visitar outros locais e daí por diante. É como se, as relações sociais se processassem todas através de um aplicativo fornecido por um aparelho digital.
 
Ainda na mesma sequência, os mais novos são expostos a conteúdos impróprios, imprecisos e distorcidos. É muito comum que, as crianças e adolescentes se comparem com as “vidas ideais” e “físicos perfeitos” que veem online, sem realmente se darem conta da mentira, preconceito ou uso de filtros que veem nesse conteúdo. Isso pode gerar problemas de autoestima e levar a transtornos psicológicos.
 
Segundo os especialistas, é possível que o algoritmo alimente problemas de saúde mental, na medida em que acaba por fornecer conteúdos prejudiciais a cada caso. Uma criança  que vive numa casa menos abastada, pode sentir-se muito infeliz e inferiorizada quando compara a sua vida com a de outra que viu na plataforma. O mesmo se passa com o aspeto físico ou outra particularidade que precisa de ser explicada por um adulto e não exibida de forma excessiva e repetitiva, a ponto de quase parecer a única possível e aceite, alertam.
 
Para além dos conteúdos agradáveis e gratificantes, o utilizador também recebe algo de que gosta menos e que lhe causa sensações negativas e medos desnecessários, o que, na posição dos entendidos, pode afetar negativamente crianças ou jovens com depressão ou um qualquer transtorno.
 
Vivemos na era digital e não podemos fugir dessa evolução, no entanto, é fundamental que crianças e adultos saibam lidar corretamente com a tecnologia e, para isso, pede-se moderação.
 
Os adultos que também se têm deixado levar pela sedução tecnológica, têm o desafio de aprender a dosear o acesso aos conteúdos para se protegerem e, ao mesmo tempo, para melhor orientarem os filhos para um uso mais adequado desses equipamentos.
 
Por que não começar já hoje a limitar o acesso aos ecrãs em casa? E que tal inventar atividades em família onde todos se possam divertir?
 
Este é o desafio e o grande objetivo deste alerta: despertar o leitor para a ideia de que existe muita vida para além das redes sociais e que a devemos aproveitar com aqueles que amamos. Boa sorte!
 
Fátima Fernandes