Depressão

Muitas vezes quase esquecida nas nossas sociedades e ainda por muitos, interpretada como problemas nervosos, a instabilidades cujas causas não se conhecem, a depressão é real e constitui a principal causa de incapacidades e a segunda causa de perda de anos de vida saudáveis entre as principais doenças e problemas de saúde conhecidos.

 
Os custos pessoais e sociais da doença são muito elevados e o sofrimento que este problema acarreta justifica um tratamento e uma atenção. 
 
Só para se perceber a dimensão da depressão, saiba que, uma em cada quatro pessoas em todo o mundo sofre de depressão, já sofreu ou poderá vir a sofrer desta patologia. E que, um em cada cinco pacientes que se deslocaram a uma consulta médica se sentiram deprimidos. 
 
Todos estes dados colocam-nos perante uma realidade que não pode ser descurada e arrastada com estigmas que nos impedem de procurar um apoio especializado. É objectivo desta apresentação clarificar e explicitar as principais razões que estão na base da depressão para que possa procurar um aconselhamento caso verifique alguns destes sintomas. 
 
A depressão é: 
 
A depressão é uma doença mental que se caracteriza por tristeza mais marcada ou prolongada, perda de interesse por actividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço injustificado. 
 
O facto de ter sentimentos depressivos é comum, pelo que não se deverá sentir diminuído ou a perder algumas das suas resistências, contudo necessita de uma intervenção caso verifique que esses sintomas estão a tornar-se recorrentes, sobretudo após situações que o afectaram negativamente e que perduram duas semanas consecutivas. 
 
Saiba que a depressão pode afectar pessoas de todas as idades; desde a infância até à terceira idade e, se não for tratada, poderá conduzir ao suicídio que é a consequência muito frequente das depressões graves. 
 
A depressão pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia. A depressão pode durar de alguns meses a alguns anos. Contudo, em cerca de 20 por cento dos casos torna-se uma doença crónica sem remissão. Estes casos devem-se, fundamentalmente, à falta de tratamento adequado. 
 
A depressão é mais comum nas mulheres do que nos homens: um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde, em 2000, mostrou que a prevalência de episódios de depressão unipolar é de 1,9 por cento nos homens e de 3,2 por cento nas mulheres. 
 
Principais factores de risco: 
 
-Pessoas com episódios de depressão no passado; 
-Pessoas com história familiar de depressão; 
-Pessoas do género feminino – a depressão é mais frequente nas mulheres, ao longo de toda a vida, mas em especial durante a adolescência, no primeiro ano após o parto, menopausa e pós-menopausa; 
-Pessoas que sofrem um qualquer tipo de perda significativa, mais habitualmente a perda de alguém próximo; 
-Pessoas com doenças crónicas - sofrendo do coração, com hipertensão, com asma, com diabetes, com história de tromboses, com artroses e outras doenças reumáticas, SIDA, fibromialgia, cancro e outras doenças; 
-Pessoas que coabitam com um familiar portador de doença grave e crónica (por exemplo, pessoas que cuidam de doentes com Alzheimer); 
-Pessoas com tendência para ansiedade e pânico; 
-Pessoas com profissões geradoras de stress ou em circunstâncias de vida que causem stress; 
-Pessoas com dependência de substâncias químicas (drogas) e álcool; 
-Pessoas idosas. 
 
Prevenir a depressão: 
 
Como em todas as doenças, a prevenção é sempre a melhor abordagem, designadamente para as pessoas em situação de risco, pois permite a intervenção precoce de profissionais de saúde e impede o agravamento dos sintomas. 
 
Se sofre de ansiedade e/ou ataques de pânico, não hesite em procurar ajuda médica especializada, pois muitas vezes são os primeiros sintomas de uma depressão. 
 
Se apresenta queixas físicas sem que os exames de diagnóstico encontrem uma explicação então aborde o assunto com o seu médico assistente. 
 
Sintomas da depressão: 
 
-A depressão diferencia-se das normais mudanças de humor pela gravidade e permanência dos sintomas. Está associada, muitas vezes, a ansiedade e/ou pânico. 
-Modificação do apetite (falta ou excesso de apetite); 
-Perturbações do sono (sonolência ou insónia); 
-Fadiga, cansaço e perda de energia; 
-Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima, sentimentos de culpa e sentimento de incapacidade; 
-Falta ou alterações da concentração; 
-Preocupação com o sentido da vida e com a morte; 
-Desinteresse, apatia e tristeza; 
-Alterações do desejo sexual; 
Irritabilidade; 
-Manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal, enjoo. 
As principais causas da depressão: 
 
As causas diferem muito de pessoa para pessoa. Contudo, é possível afirmar-se que há factores que influenciam o aparecimento e a permanência de episódios depressivos. Por exemplo, condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, o desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar obstáculos, etc. 
 
Note-se que é importante que o doente saiba qual a razão que justiça a sua depressão, pois isso irá facilitar o seu tratamento e empenho na sua recuperação. 
 
Algumas doenças podem provocar ou facilitar a ocorrência de episódios depressivos ou a evolução para depressão crónica. São exemplo as doenças infecciosas, a doença de Parkinson, o cancro, outras doenças mentais, doenças hormonais, a dependência de substâncias como o álcool, entre outras. O mesmo pode suceder com certos medicamentos, como os corticóides, alguns anti-hipertensivos, alguns imunossupressores, alguns citostáticos, medicamentos de terapêutica hormonal de substituição, e neurolépticos clássicos, entre outros. 
 
Diagnosticar uma depressão: 
 
O diagnóstico é feito pela avaliação clínica do doente, designadamente pela identificação, enumeração e curso dos sintomas bem como pela presença de doenças de que padeça e de medicação que possa estar a tomar. Note-se que o diagnóstico é relativamente fácil e preciso. 
 
Dirija-se sempre ao seu médico de família ou clínico geral: estes médicos podem reconhecer a presença da doença, e caso considerem necessário, podem contactar com um médico psiquiatra para esclarecimento do diagnóstico e para orientação terapêutica (o medicamento a usar, a dose, a duração, a resposta esperável face ao tipo de pessoa, a indicação para um tipo específico de psicoterapia, a necessidade de outros tipos de intervenção, etc.). 
 
Tratamento: 
 
Normalmente, através do uso de medicamentos, de intervenções psicoterapêuticas, ou da conjugação de ambas. 
 
As intervenções psicoterapêuticas são particularmente úteis nas situações ligeiras e reactivas às adversidades da vida bem como em associação com medicamentos nas situações moderadas e graves. A decisão de iniciar uma psicoterapia deve ser sempre debatida com o seu médico: a oferta de serviços é grande, não é auto-regulada, e é difícil a pessoa deprimida conseguir escolher o que mais lhe convém sem ajuda médica. 
 
Os medicamentos usados no tratamento das depressões são designados por anti-depressivos. Estes medicamentos são a pedra basilar do tratamento das depressões moderadas e graves e das depressões crónicas, podendo ser úteis nas depressões ligeiras e não criam habituação nem alteram a personalidade da pessoa. Com a evolução da ciência e da farmacologia, estes medicamentos são cada vez mais eficazes no controlo e tratamento da depressão, nomeadamente por interferência com a acção de neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, no hipotálamo, a zona do cérebro responsável pelo humor (emoções). 
 
Se o médico lhe prescrever medicamentos antidepressivos, siga as suas indicações e nunca pare o tratamento sem lhe comunicar as razões. Estes medicamentos não têm efeito imediato: pode demorar algumas semanas, 4 a 6, até começar a sentir-se melhor. O tratamento dura no mínimo quatro a seis meses. Obtenha toda a informação e esclareça todas as dúvidas com o seu médico.