Comportamentos

Dicas para lidar com crianças difíceis

 
É comum que muitos pais se queixem do mau comportamento dos filhos e que pensem que estes o fazem de propósito e, para lhes desafiar os limites. No entanto, os psicólogos pedem alguma compreensão aos adultos, uma vez que, «se trata de um processo fundamental de autoafirmação».

«A autoafirmação das crianças não é um comportamento contra o adulto, mas sim uma importante fase do desenvolvimento infantil», sublinham os mesmos especialistas reforçando que, «é através da oposição, da negação e das birras que as crianças afirmam a sua identidade». Tal começa entre os 24 e os 36 meses, precisamente na fase em que a criança se apercebe de que é um indivíduo, uma vez que até então não tinha chegado lá, porque estava mais concentrada no exterior.
 
O processo de afirmação serve para mostrar aos adultos que, «a criança se está a preparar para construir o seu natural percurso de independência. Sendo assim encarado, tudo será mais fácil, completam os mesmos entendidos.
 
Se o leitor tem um filho com dois anos de idade, é natural que se aperceba dos muitos “não” que diz a tudo, das expressões de raiva que apresenta quando não consegue o que quer e do choro frequente. Tal acontece porque a criança quer afirmar-se no mundo e mostrar aos adultos que também faz parte dele. «Não é para desafiar os pais, muito menos para irritá-los ou para lhes desobedecer. A criança está empenhada no seu próprio processo, não o faz para provocar quem quer que seja, daí ser tão importante a compreensão dos adultos nesta fase».
 
Segundo os profissionais de psicologia, a autoafirmação está presente em todos os seres humanos e é a característica que permite que nos compreendamos e expressemos como indivíduos. É graças a esse processo que,  aprendemos a defender os nossos interesses, direitos, opiniões e sentimentos. Sem passarmos convenientemente por esta fase, tornamo-nos pessoas tristes, dependentes e com muita dificuldade em expressar as nossas emoções, escolhas e opiniões.
 
No caso das crianças, ocorrem dois fenómenos que nos levam a pensar que essa necessidade de afirmação é negativa. Por um lado, é comum acreditarmos que os menores devem obedecer às ordens dos adultos sem as questionarem. Por outro, antes dos dois anos, os filhos não apresentam esse tipo de atitude desafiadora, de modo a que o seu aparecimento repentino pode surpreender e confundir os pais.
 
Na verdade, a criança não mudou de personalidade ou tem um problema de comportamento, simplesmente está a passar por um estágio natural de desenvolvimento que a leva a querer afirmar-se como pessoa diferente e tentar fazer valer as suas opiniões, desejos e pontos de vista. A oposição aos adultos é uma das principais ferramentas que encontra para o conseguir e por isso é comum recusar qualquer pedido ou sugestão dos pais.
 
Partindo da base de que se trata de uma fase normal e que deve ser vivida de uma forma saudável, cabe aos pais reunirem algumas ferramentas para que melhor possam ajudar os filhos e minimizar os incómodos inerentes a este processo. Para tal, os especialistas deixam algumas dicas preciosas:
 
•Use o máximo da sua compreensão e capacidade criativa no sentido de permitir que a criança tome algumas pequenas decisões. Tente negociá-las o melhor possível cedendo nuns pontos e afirmando outros. A criança pode vestir a sua blusa favorita desde que use um casaco sugerido pelos pais. Pode, por exemplo, levar um brinquedo para a rua, desde que o leve consigo, entre outras soluções que os pais vão encontrando.
 
•Defina os limites estritamente necessários e seja flexível. É um facto que, existem situações em que não é possível negociar e, em que os adultos têm de mostrar o caminho; mas em muitas outras ocasiões é possível levar em consideração a opinião do filho.
 
•Permita a expressão emocional do seu filho. Embora os limites que fixou sejam necessários e devam ser respeitados, o pequeno tem o direito de sentir raiva ou tristeza quando não consegue aquilo que deseja. Use frases como:  “É normal que fiques com raiva; no entanto, não podes partir os objetos ou deitar as coisas fora”. “Quando te sentires assim, podes falar comigo e juntos, podemos dar um passeio.” É importante que o valide, que o compreenda e respeite.
 
Por fim, os pais devem ter em conta a importância da opinião da criança. A obediência cega não leva a lado algum e apenas impede que se expresse livremente como é normal. Com as estratégias adequadas dos pais e demais adultos, aos poucos, os mais novos vão perdendo essa forma de atuação, passando a conversar sobre o que os inquieta, sobre o que pretendem e sentem, o que torna todo o processo mais fácil. É tudo uma questão de tempo, de muita compreensão e paciência! para lidar com crianças difíceis
 
Fátima Lopes