Família

Dicas para mães e filhas que não se entendem

Foto|Freepik
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São muitas as mães e filhas que dizem estar tudo bem na sua relação, mas os consultórios de psicologia falam de problemas não resolvidos, de traumas do passado e de sofrimento resultante desta convivência.

Na posição dos especialistas, há vários motivos que levam a que a relação entre mãe e filha não seja nem fácil, nem pacífica.
 
Em primeiro lugar, temos os conflitos entre gerações, a mudança de mentalidades, as diferentes exigências de cada tempo, a relutância à mudança de muitas mães, a necessidade e o interesse das filhas em acompanharem o seu tempo e até as questões culturais que se revestem de muita competição entre mãe e filha, seja porque uma quer ser melhor do que a outra, porque a filha é jovem e atraente e a mãe vai perdendo esses atributos com a idade, seja pela atenção do pai que a mulher encara como uma afronta ou ainda pela inteligência, pelo estilo e pela necessidade de liberdade das mais novas.
 
Se há mães que conseguem organizar-se mental e emocionalmente de forma a conseguirem aceitar a filha sem essa competição, raiva e outras emoções negativas e que prejudicam a relação, há outras que alimentam essa tensão e acabam por provocar uma convivência  tão severa que, na maioria das vezes, acaba em afastamento.
 
São muitos os especialistas que se têm dedicado a investigar esta matéria, sobretudo porque os sentimentos que revestem a relação entre mãe e filha são muito nocivos para a saúde mental e dão lugar a que não se consiga desenvolver uma relação plena de amor e compreensão como se pretende. O julgamento, a culpa, a competição, a negação, a raiva podem ser tão evidentes que a convivência se pode tornar insustentável.
 
Ao mesmo tempo, muitas filhas também relatam que as mães “se metem” demasiado nas suas vidas mesmo depois de adultas e autónomas, que sentem muita necessidade de mandar e de as controlar, o que dificulta a convivência também com o genro e com os netos.
 
Por seu turno, muitas mães dizem-se desiludidas com as escolhas das filhas, não gostam do genro, da forma como os netos são educados, da decoração da casa da filha e ainda menos da forma como esta se veste, como se comporta, condenando também o estatuto social da descendente,  a profissão, os estudos ou outras habilidades e conquistas, muitas vezes por desconhecimento ou só porque no seu tempo tal não era possível ou não lhes era acessível.
 
Alguns psicólogos também alertam para o facto de muitas mulheres terem assumido a maternidade sem que estivessem preparadas e, em muitos casos, vocacionadas, o que também é um impedimento para uma educação e convivência salutar. Os traumas de muitas mães, a forma como foram criadas, também explicam a má relação que constroem com as filhas, sem esquecer a má aceitação de si mesmas que faz com que projetem essa fraca autoestima nas descendentes
 
Um casamento pouco feliz também é uma razão para que muitas mães não consigam dar o melhor de si às filhas e, em muitos casos, explica o motivo pelo qual também não querem ver a filha feliz na sua relação, já que é muita a frustração, muitas vezes inconsciente.
 
A dificuldade em abraçar, ouvir e compreender a filha também resulta de uma infância pouco dada aos afetos e com uma mãe que não reunia tais atributos para uma convivência mais carinhosa e cúmplice, relatam muitas mães que até gostariam de ter mais abertura afetiva com as filhas e não conseguem.
 
Na mesma sequência, muitas mães, que continuam a arrastar a ideia de que têm de ser as matriarcas da família, não conseguem aceitar a liberdade, a jovialidade, as descobertas e os interesses das filhas e, acabam por punir, por criticar e por afastar as mais novas de si.
 
À medida em que a filha cresce, aumentam os conflitos, uma vez que a mãe sente cada vez mais que lhe está a perder o controle e que a jovem luta diariamente pela sua autonomia. Há mães que conseguem mudar, atualizar-se e aprender também a tirar partido do progresso e dos benefícios do novo tempo, mas há muitas que encaram as transformações como um desvio da sua rota inicial, do compromisso que estabeleceram com as suas mães e avós e recusam a evolução. É nestes casos que se verificam os maiores conflitos e problemas na relação com as filhas, explicam os entendidos.
 
Para a psicologia, é sempre possível melhorar a convivência entre uma mãe que esteja disponível e uma filha aberta a essa relação, no entanto, é preciso que ambas estejam verdadeiramente interessadas em conversar sobre todos os assuntos que lhes causam mal-estar, que coloquem os sentimentos acima do conflito e que se respeitem mutuamente. É também fundamental que ambas reúnam autonomia para pensarem por si mesmas e que já tenham desenvolvido uma boa dose de maturidade para que consigam conversar com calma. É ainda relevante que não se ultrapassem os limites do respeito, que a mãe deixe de pensar que é a dona da filha só por tê-la colocado no mundo e que a filha seja capaz de expressar o arrependimento que sente face a alguma má resposta ou comportamento mais desajustado que teve com a mãe.
 
Uma boa dose de empatia é fundamental, sem esquecer o conhecimento que ambas devem ter desenvolvido, sob pena de a conversa não surtir os efeitos pretendidos. Só quem se conhece verdadeiramente e aceita tal como é, será capaz de aceitar e de respeitar o outro, evidenciam os entendidos porque sabem que este é um ponto crucial para determinar a boa ou a má qualidade de uma relação entre mãe e filha.
 
Posto isto, ficam algumas dicas que podem ajudar:
 
1. Procure conhecer a personalidade da sua mãe/filha para melhor conseguir lidar com ela e respeitá-la.
 
2. Procure entender os motivos que levaram a que a vossa relação não tivesse decorrido como desejavam.
 
3. Coloque limites em si mesma e não permita que a sua mãe/filha os ultrapasse. Há formas de dizer as coisas, o respeito tem de existir, tal como o afeto e a necessidade de conversarem, mas isso não quer dizer que se diga tudo o que vos passa pela cabeça.
 
4. Tente ser melhor pessoa para si mesma e para a sua filha. Não é por terem vivido um percurso menos feliz que terão de lhe dar continuidade. As pessoas mudam se quiserem e se tiverem boas razões para o fazer, pelo que é isso que dará lugar à possibilidade de voltar a relacionar-se com a sua mãe/filha.
 
5. Aprenda a admirar-se, a respeitar-se e a dar-se ao respeito. Este ponto é fundamental para que mães e filhas se entendam, já que é um dos principais motivos para a discórdia.
 
6. A casa da sua filha/mãe é dela e não deve ser alvo nem de críticas, nem de invasões. A mãe ou a filha são convidadas, não as donas desse espaço e este limite não deve ser ultrapassado.
 
7. A mãe e a filha têm o direito de escolher as suas amizades, o seu cônjuge, a forma como educam os netos, como decoram a casa, como se vestem, os seus hobbies e daí por diante.
 
8. O pai e demais familiares e amigos não devem interferir na relação entre mãe e filha. Para isso, é fundamental que ambas se protejam de conversas,  críticas e comentários que em nada ajudam a melhorar a relação e a que se faça uma reaproximação.
 
9. Aproveite a juventude da sua filha para também evoluir, descobrir outros interesses e prazeres da vida. Não se acomode ao tempo, nem se permita ficar atrás do progresso. A matriarca não se aplica aos dias de hoje. A mãe deve ser autoridade, deve dar-se ao respeito e respeitar os filhos, não encará-los como sua propriedade, muito menos querer mandar na filha depois de adulta e independente.
 
10. Aceite a passagem do tempo e viva cada etapa com mais qualidade e prazer. A vida é contínua e não podemos evitar o envelhecimento. Tal como a mãe fez as suas escolhas e já foi jovem, é o tempo da filha decidir, aceitar-se e aproveitar a sua idade. É natural que se sinta frustrada com o que não viveu, mas pode sempre desfrutar de momentos de qualidade noutra idade, com mais maturidade e conhecimento. Não inveje a sua filha, mas sim, aprenda com ela!
 
Registe que, nem todas as relações são fáceis de recuperar e que nem todas se conseguem recompor, pois não havendo interesse de parte a parte, havendo muitas memórias negativas não resolvidas e maus-tratos, torna-se complexa a tarefa de um profissional vos conseguir aproximar ou pelo menos conseguir que a vossa relação tenha continuidade de forma saudável, no entanto, vale sempre a pena tentar quando há amor, respeito e compreensão.
 
Anote a forma como comunica com a sua filha/mãe tendo em conta que se trata de gerações distintas, de conhecimentos diferentes e até de objetivos pouco coincidentes.
 
Mãe e filha são livres de serem exatamente como são, de acreditarem no que desejam e de construírem os seus percursos de forma livre e sem julgamentos. É possível que consigam realizar alguma atividade em conjunto, se ambas assim o desejarem e se tiverem algum gosto em comum, mas acima de tudo, devem garantir que conseguem conviver quando assim o entenderem.
 
Fátima Fernandes