Família

Dicas para pais arrependidos da educação que deram aos filhos

Muitos pais só se apercebem dos erros que cometeram na criação dos filhos quando chegam à terceira idade.
Muitos pais só se apercebem dos erros que cometeram na criação dos filhos quando chegam à terceira idade.  
Foto (Freepik)
A educação é um processo longo e difícil, razão pela qual é impossível que não ocorram erros.

Muitos pais só se apercebem dos erros que cometeram na educação dos filhos, quando chegam à terceira idade e analisam os comportamentos dos seus descendentes e a forma como são tratados por eles.
 
Em muitas situações, a má relação que se estabelece entre pais e filhos quando todos já são adultos, revela muito bem que há aspetos que não correram bem na educação.
 
Na posição dos especialistas, tudo seria mais facilitado se houvesse o hábito e a abertura dos pais para conversarem com os filhos, explicarem-lhes os motivos pelos quais agiram desta ou daquela maneira e, acima de tudo, assumirem que não há um modelo de educação perfeito, pelo que há sempre falhas e todos erram.
 
Depois, os pais que carregam culpas por não terem educado os filhos da melhor maneira, além de sofrerem muito e de viverem numa permanente angústia, não conseguem aproximar-se dos filhos e ainda menos pedir-lhes desculpa pelo sucedido, o que leva a que a terceira idade seja, em muitos casos, muito dolorosa.
 
No lado dos filhos, vive-se uma grande angústia pela falta de diálogo, pela incapacidade de os pais conversarem sobre o que se passou e, em muitos casos, dá-se o afastamento porque não se acredita que a sua presença seja importante para os pais que não manifestam amor e compreensão.
 
Se pais e filhos assumirem que a educação é uma descoberta e que ninguém sabe tudo sem passar pelas experiências, certamente que vão lidar muito melhor com o erro. É importante que os pais também sejam capazes de aceitar as falhas dos mais novos para que o processo seja recíproco.
 
Segundo os psicólogos, há pais que vivem verdadeiros tormentos pelo medo e pela vergonha de dizerem aos filhos o quanto gostam deles, que os aceitam, que erraram no passado, que foram muito rígidos, violentos e até injustos, mas que estão arrependidos e que não voltam a cometer a mesma falha.
 
Dizem os mesmos especialistas que, muitas vezes, é só isso que falta aos filhos: um ato de humildade, um pedido de desculpa dos pais  e um gesto de carinho e compreensão que pode modificar a relação para sempre.
 
Há casos em que um terapeuta familiar pode dar uma ajuda preciosa, há situações em que, entre si, as famílias conseguem conversar e encontrar o amor que as une.
 
Segundo os especialistas, estes são os principais motivos de arrependimento dos pais:
 
•Não terem sido capazes de ouvir os filhos, de conhecerem os seus medos, os seus problemas, as suas dúvidas e as suas angústias;
 
•Terem estado muito focados no trabalho, no que a sociedade pensa a seu respeito, na opinião de outros familiares, concentrados em reunir riqueza e bens materiais e daí por diante;
 
•Não demonstrar afeto suficiente;
 
•Ser muito crítico;
 
•Demasiado permissivo;
 
•Não ter tentado compreender o filho;
 
•Não ter brincado o bastante durante a infância;
 
•Gritar, bater, humilhar, ofender, minimizar, comparar com outras crianças, irmãos ou familiares,  culpar ou punir o filho.
 
De acordo com os entendidos, uma boa conversa com os filhos vai permitir que se perceba até que ponto estas falhas tiveram impacto na vida e no desenvolvimento dos mais novos e também o lado positivo que eles retiraram da educação, pois também há muitos momentos bons registados na memória de ambos e que precisam de ser validados.
 
Muitas vezes, é a culpa que os pais carregam que os impede de serem melhores pessoas e de abrirem o coração, mas se perceberem que a comunicação entre pais e filhos pode aliviar esse sentimento tão negativo e destrutivo, certamente que vale a pena tentarem seguir num percurso alternativo e gozar com mais liberdade e alegria os últimos anos de vida.
 
Na mesma sequência e, para aliviar a culpa, os pais devem também ter em conta que, apesar de serem a referência dos filhos e a base da educação destes, há também fatores que pesam muito nessa balança, são eles:
 
1.As diferenças geracionais
 
Cada geração tem características próprias, como valores, objetivos e preferências pessoais. É comum que pessoas de idades diferentes entrem em atrito ocasionalmente por terem crescido em ambientes distintos e recebido outras mensagens do meio.
 
A diferença de gerações pode tanto influenciar no estabelecimento do laço entre pais e filhos como causar desentendimentos entre pais e avós, que possuem ideias diferentes de como cuidar de uma criança.
 
2.Condição de vida
 
Alguns pais precisam de trabalhar muito para conseguirem sustentar a família, pelo que passam muitas horas fora de casa e dedicam pouco tempo aos mais novos. Muitas vezes, quando chegam a casa, já não têm paciência nem vontade de estar com os filhos, o que também promove o afastamento e condiciona o diálogo.
 
Pense que, sem esse esforço, não teria sido possível sobreviver e alimentar a família e, afinal, agora que está mais livre, pode dar mais atenção e conversar abertamente com os seus filhos quando é possível a todos. Esta é uma boa forma de minimizar a culpa.
 
3.Influências externas
 
Palpites de familiares e amigos, amizades e relacionamentos mal-intencionados dos filhos, mensagens transmitidas pelo meio (escola, entretenimento, instituições religiosas, instituições governamentais), redes sociais, entre outros. Todos somos influenciados por agentes externos e, nem sempre fazemos aquilo que gostaríamos e da forma mais adequada porque somos humanos e é fácil seguir uma ideia ou uma sugestão. Arrependemo-nos, mas já não podemos voltar atrás, mas ainda assim, temos sempre a possibilidade de pedir desculpa e de evitar cometer os mesmos erros, já que só isso é que permitirá ganhar confiança.
 
4.Traumas
 
Todos os pais carregam traumas e os seus conflitos internos, pelo que, é natural que também transmitam uma parte dessa herança aos seus filhos. Os pais também já tiveram uma infância e certamente que foi difícil, mas isso não quer dizer que tenham de fazer aos filhos o mesmo que lhes fizeram. Podem sempre dialogar com os filhos e tentar corrigir uma má palavra, um gesto menos adequado, uma palmada e daí por diante. O problema é fazer e não falar sobre o assunto, é não se dar uma oportunidade de mostrar que não se gostou da experiência e que se está disposto a melhorar o comportamento. Registe que, um pai ou uma mãe que não gostou da dor que os seus pais lhe causaram, não pode reproduzir o mesmo nos seus filhos, pois isso aumenta e muito o sentimento de culpa. É preciso sim fazer algo novo; ter uma atitude mais próxima e assumir que se falhou.
 
Seja honesto para consigo mesmo, analise o que lhe fizeram e o que já fez também aos seus filhos e pondere conversar com eles sobre o assunto.
 
5.Falta de conhecimento
 
Hoje sabe-se o valor da infância e dos pais na educação e no desenvolvimento dos filhos, mas no passado, dava-se pouca ou nenhuma importância a esses aspetos, pelo que é normal que, à luz da atualidade, muitos pais percebam que fizeram muitas coisas mal, mas no seu tempo, eram dadas como corretas. Isso também é importante dizer aos filhos e mostrar que se quer aprender agora e fazer melhor.
 
O primeiro passo para lidar com a culpa de ter errado na criação dos filhos é pedir desculpas aos mais novos e a si mesmo, porque o conhecimento que tem hoje é muito diferente daquele que tinha no passado. Certamente que, com o que sabe agora, já evitaria fazer as mesmas coisas e, é isso que precisa de dizer aos seus filhos.
 
É fundamental que seja capaz de se chegar aos seus descendentes e de falar abertamente sobre os seus sentimentos. É crucial dizer-lhes que não fez tudo da melhor forma, mas que está disposto a remediar o que ainda lhe for possível, tal como é imperioso transmitir-lhes a noção de amor que, pode ter estado camuflada na culpa, mas que é grande e forte.
 
Segundo os especialistas, não é fácil para muitos pais conseguirem conversar com os filhos e falar-lhes de amor e de arrependimento, mas essa é a base para que todos vivam mais leves, mais felizes e com mais qualidade de vida. No fundo, o que é que perde se abrir o coração e se disser o que sente?  Pense na qualidade de vida que pode adquirir ao descobrir uma pessoa leve, resolvida e madura. Pondere fazer melhor com os seus netos e permitir que os seus filhos também aprendam com os seus erros e que não os queiram repetir enquanto pais, pois o conhecimento transmite-se de geração em geração e, quando os mais velhos têm uma atitude positiva, todos ganham.
 
Não fique à espera que sejam os seus filhos a pedirem-lhe desculpa pela forma como foram educados, muito menos que sejam eles o exemplo que o pai e a mãe têm de dar, por isso, saia do seu mundo e liberte-se , pois certamente que os seus filhos vão desenvolver uma posição muito mais positiva a seu respeito. E… de que serve o orgulho quando se está tão fragilizado pela culpa?
 
Fátima Fernandes