Curiosidades

É possível amar e odiar alguém ao mesmo tempo?

 
Segundo a ciência, é possível explicar a razão pela qual, em certos momentos, amamos e odiamos o nosso parceiro, os nossos filhos, os nossos pais e daí por diante.

Tal acontece porque o amor e o ódio partilham a mesma área do cérebro. Nesse sentido, pode parecer estranho, mas é real: em algumas ocasiões de maior tensão, somos capazes de ter sentimentos negativos pelas mesmas pessoas que amamos.
 
Uma discussão acalorada, um mal-entendido específico ou um conflito gerado pelas diferenças de personalidade podem trazer à tona esses sentimentos negativos, de forma momentânea.
 
A verdade é que também é possível experimentar esses sentimentos contraditórios sem que a outra pessoa tenha feito alguma coisa. Na posição dos cientistas, o simples facto de amarmos alguém dá lugar a que possamos sentir essas emoções negativas quando não estamos bem connosco próprios. Ao mesmo tempo, é normal que façamos cedências para que nos relacionemos melhor com os outros, mas em certas situações perdemos essa capacidade e acabamos por sentir algo de negativo em relação a quem amamos.
 
Indo mais ao fundo da questão, as causas desses sentimentos contraditórios no seio de um casal, estão relacionadas com o facto de sermos humanos, de fazermos cedências para nos entendermos com os outros, mas nem sempre o nosso “eu” está completamente de acordo com essas opções. Ao nos aceitarmos tal como somos e ao assumirmos que temos essa particularidade ambivalente, mais facilmente seremos capazes de contornar da melhor forma, as situações em que sentimos raiva. É importante sublinhar que, esses sentimentos contraditórios se referem a todas as pessoas que amamos, pelo que não é nada contra o parceiro, os filhos ou os pais, é uma particularidade humana que só acontece porque amamos.
 
É ainda interessante registar que, essa complexa teia de sensações, perceções e emoções opostas e caóticas também nos torna humanos e nos mostra que, só nos contos de fadas é que o amor é perfeito e tudo acontece como se espera ou deseja. Na vida real, as relações são exigentes e requerem muito treino e empenho pessoal para que se processem da melhor forma possível. Todos os humanos têm de lidar com contradições, conflitos, dramas, medos, momentos de alegria e de tristeza e daí por diante. Quanto mais estivermos conscientes disso, melhor desenvolveremos a nossa inteligência emocional, sublinham os cientistas.
 
Ao mesmo tempo, temos de aprender a gerir a ténue linha entre a paixão e a aversão. Neste ponto, os cientistas descobriram que, o amor romântico partilha as mesmas regiões do cérebro que a aversão, o que quer dizer que, o subcórtex cerebral, o putâmen e a ínsula cerebral, também estão diretamente ligados ás emoções negativas.
 
Segundo o neurobiólogo, Semir Zeki, «embora assumamos que o ódio é uma emoção negativa que deve ser reprimida, a verdade é que, este e o amor partilham algumas estruturas neurológicas». A excitação neurológica que ambos geram é muito intensa, e por serem processados nas mesmas áreas do cérebro «podemos sentir as duas emoções ao mesmo tempo por alguém», evidencia o mesmo especialista e autor de diversos trabalhos nesta área. Neste sentido, é também essencial frisar que, em muitos casos também nos odiamos a nós próprios, o que revela muito bem a facilidade com que passamos de uma área para outra.
 
Afirmam ainda os especialistas que, «o ser humano é definido por uma contradição constante que vai do afeto ao desafeto e da paixão à aversão, mas geralmente essas são experiências pontuais e efêmeras, que não alteram a identidade ou a autoestima do indivíduo».
 
Apesar de existir esta explicação científica para esta realidade, não deixa de ser natural que cada um de nós se interrogue acerca das razões pelas quais sente isso ou, como é possível que tal aconteça. Na posição dos entendidos nesta matéria, a dissonância cognitiva ocorre sobretudo porque temos uma obsessão e necessidade de que todas as nossas crenças e pensamentos sejam coerentes. Neste sentido, quando sentimos uma certa rejeição ou raiva por alguém que amamos, entramos em conflito e surge-nos a angústia  designada por dissonância cognitiva. Este termo refere-se à falta de harmonia interna que é experimentada quando sentimos uma coisa e fazemos o oposto, ou quando as nossas crenças e emoções entram em contradição.
 
O segredo para vivermos melhor é aprendermos a racionalizar essas situações e aceitar os sentimentos contraditórios. Além disso, também há outro facto a ter em conta: nas relações humanas os sentimentos ambivalentes são efêmeros, ou seja, essa sensação de contradição dura muito pouco e, geralmente, o amor prevalece. A emoção do ódio é volátil e desaparece rápida e facilmente.
 
Por fim, mas não menos importante, devemos aceitar-nos como imperfeitos, já que é isso que realmente nos constitui, e assumirmos que, de vez em quando, temos emoções negativas por aqueles que amamos, mas que tudo passa quando bem aceite e resolvido.
 
Fátima Fernandes