Sociedade

E se o seu filho for homossexual?

 
Em primeiro lugar, a escolha é dele!

 
É importante ter em conta que, a escolha sobre a sexualidade é pessoal e não da responsabilidade dos pais. Depois, «não é pelo fato de os pais preferirem uma outra orientação sexual para os filhos, que tem mesmo de ser assim».
 
Em resumo, esta é a posição dos especialistas em comportamento humano que tentam mostrar aos pais a importância de respeitar a orientação sexual dos seus descendentes «sob pena de se perder um filho por mero preconceito ideológico».
 
Na mesma sequência Quintino Aires, psicólogo, adianta que, «a orientação sexual cabe a cada indivíduo e cabe aos pais respeitar e apoiar a decisão, sob pena de se entregar um filho à sociedade só por ter a sua preferência sexual fora dos parâmetros idealizados pelos pais. Não são os pais que fazem este tipo de escolha e, não é por se ter um filho homossexual que se deixa de ter um filho».
 
Depois de muitos anos a esconder e a sofrer com o fato de não poder assumir a sua orientação sexual, são muitos os jovens que reforçam o papel dos pais, já que os progenitores «são um pilar essencial para todo o processo. Não são os pais que decidem a nossa orientação sexual, mas são eles quem melhor nos pode apoiar nas escolhas que fazemos, seja em relação à sexualidade ou outra».
 
Só quem tem de fugir de casa e sentir a rejeição dos pais, (a nossa grande referência de vida), é que sabe o quanto custa ser diferente, ou melhor ter uma orientação sexual distinta. Não é por se gostar de uma pessoa do mesmo sexo que se perde o direito à dignidade e ao respeito».
 
A sexualidade pertence ao foro íntimo de cada pessoa, pelo que não é a sociedade que tem o direito de decidir ou de apontar o dedo aos seus membros. «A cada um cabe a responsabilidade de desenvolver o seu percurso, a sua escolha e o encontro do modo de vida que o torna mais feliz».
 
Paulo Sousa de 21 anos realça o papel dos pais quando lhes contou que amava uma pessoa do mesmo sexo. «Os meus pais foram sempre as pessoas mais especiais do mundo, pelo que temi contar-lhes a verdade, mas ao mesmo tempo, sabia que podia contar com eles para tudo. E assim aconteceu». Contei-lhes a verdade sem rodeios e sabendo que me respeitariam. «teria sido um choque se assim não fosse, pois os meus pais são a minha grande referência de vida, o meu pilar e grande alicerce».
 
Sabendo que, infelizmente não é a realidade para muito jovens, Paulo Sousa reafirma que, “os pais idealizam ser avós. É uma questão cultural, mas injusta e egoísta. Talvez no seu tempo, os pais não tivessem tido a oportunidade de escolha da sua orientação sexual, muito menos da pessoa com quem queriam casar. É esse amargo que faz com que igualmente imponham a sua opinião aos filhos, muitas vezes sem pensar e sem a contextualizarem».
 
Numa sociedade que se quer cada vez mais aberta e capaz de respeitar a diferença como parte integrante do todo e que se percebe que, é mesmo na diversidade que se evolui e dá espaço a novas conquistas, Paulo Sousa acredita que, «muitos pais só precisam de uma boa conversa, de compreensão e de mostrarem as suas fragilidades. Só deitando cá para fora o que viveram ou deixaram de viver é que os pais acabam por ser fabulosos com os filhos, pois na maioria dos casos, os nossos referenciais de famílias sofrem os seus problemas e projetam-nos para nós, sem que disso tenhamos culpa. É tudo uma questão de diálogo, de encontro de ideias e de se perceber que, aos filhos cabe as suas escolhas».
 
Se os pais souberem entender e respeitar, «mesmo que gostassem de ver uma mulher ao lado do filho ou um homem ao lado da filha, certamente que a relação vai prosseguir». Paulo Sousa terminou: «Será necessário perder um filho só pela sua orientação sexual? Faz sentido os pais carregarem um sentimento negativo face a algo tão normal e compreensível nos nossos dias? É por se amar uma pessoa do mesmo sexo que se perde o direito de pertencer aos pais?»
 
Recordando «a vergonha» que os pais dizem sentir, Paulo Sousa afirma que, «a sociedade portuguesa se preocupa demasiado com o que os outros pensam a seu respeito, mas há problemas globais que nos deveriam preocupar mais do que a orientação sexual dos filhos; dos nossos e dos outros».
 
Para muitos pais mais inflexíveis é Fábio Pereira quem assume: «os pais são ou deveriam ser livres para fazer as suas escolhas. São adultos e maduros. Pela lei da vida, os filhos ficam no mundo depois dos pais… faz algum sentido serem condenados à vontade dos seus progenitores que já fizeram o seu percurso mais ou menos feliz e que, na hora certa têm de partir?». 
 
Em casos extremos temos de ver as coisas assim, pois muitos filhos só assumem a sua orientação sexual depois da morte dos pais. Até lá, levam em sofrimento para não darem esse desgosto aos pais… isto faz algum sentido nos dias de hoje?» Filhos que não sabem apresentar e assumir «as suas escolhas aos pais, também não cresceram o suficiente para se considerarem adultos maduros e responsáveis, pois não pedimos conselho sobre a orientação sexual, mas sim, apoio dos que nos amam acima de tudo no mundo».
 
Fátima Fernandes