Família

«É urgente impor limites aos nossos filhos!»

 
Tendo por base um apontamento da psicóloga Adriana Campos, é comum que muitos pais se queixem dos filhos argumentando que lhes dão tudo e que o seu comportamento não corresponde ao desejado.

Para esta especialista, «é urgente que os pais compreendam que ao imporem disciplina desde cedo estão a promover o autocontrolo dos filhos e a ajudá-los a serem capazes de estabelecer os seus próprios limites».
 
Apesar de darem tudo aos filhos, muitos pais são frequentemente chamados à escola devido ao seu mau comportamento e à dificuldade destas crianças ou jovens respeitarem os adultos do estabelecimento de ensino e outros. Os pais não entendem o que se passa, mas Adriana Campos não tem dúvidas de que, «o problema está na falta de regras e de limites».
 
De acordo com a mesma especialista, «em termos educativos, entramos na onda do dar muito, mas exigir pouco». Muitos dos nossos alunos sabem que o mau comportamento não será penalizado, nem na escola, que infelizmente tem poucos meios para impor autoridade, nem em casa. Depois de dois ou três dias em que o castigo vigora, o coração do pai ou da mãe amolece e, portanto, rapidamente se reconquista tudo o que se perdeu na sequência dos maus comportamentos na escola. Como não há consistência em termos educativos, rapidamente a criança/o jovem volta a apresentar distúrbios de comportamento, porque afinal os castigos, se existirem, são de tão curta duração que a/o leva a aprender que "o crime verdadeiramente compensa". Não é difícil um jovem pensar "Para que é que vou mudar de atitude, se mesmo sendo arrogante e mal-educado poderei usufruir de telemóvel, televisão no quarto e de todas as outras mordomias que felizmente tenho sempre ao meu alcance?".
 
Adriana Campos completa esta teoria com a sua prática clínica e relata: «Recentemente, devido ao comportamento disruptivo de um grupo de alunos que frequentam um CEF (Curso de Educação e Formação), dizia uma aluna: "Eu estou a esforçar-me por melhorar o meu comportamento, porque a minha mãe me tirou o telemóvel e as saídas com as minhas amigas. Só poderei voltar a ganhar isto, se o meu comportamento melhorar." Outro aluno, cujo pai fora também alertado para a importância de aplicar algumas penalizações em consequência do seu mau comportamento, dizia arrogantemente: "O meu pai não me tirou nada"».
 
Segundo a mesma especialista, quando estes jovens são encaminhados para o Serviço de Psicologia e Orientação, «procuro que os pais compreendam que os filhos não sofrem de nenhum problema psicológico e o processo de mudança passa pelo estabelecimento de regras e limites por parte da família». Ora este processo esbarra de imediato com muitas dificuldades, pois o trabalho que os pais deveriam iniciar nos primeiros anos de vida começa apenas na adolescência, quando a omnipotência e tirania dos jovens já é reinante. Nos primeiros seis anos de vida, a interiorização das regras e a tomada de consciência dos limites são mais fáceis de integrar, esclarece.
 
É de sublinhar que alguns destes pais nunca impuseram limites, «por considerarem que os comportamentos disfuncionais dos filhos seriam o resultado deste ou daquele problema familiar e não o fruto da inexistência de autoridade»; outros, porque dizer "não" e manter o "não" dá muito mais trabalho que dizer "sim". Contrariamente ao que estes pais supõem, no fundo, as crianças gostam de ouvir "não", uma vez que este significa que há alguém acima delas que as ajuda a resolver o que não conseguem resolver sozinhas, e que toma conta delas, protegendo-as contra eventuais riscos, completa a mesma especialista.
 
Usando as palavras de Daniel Sampaio, Adriana Campos reforça que,  "É preciso afirmar, sem subterfúgios, que não se pode educar sem autoridade, quer no contexto da família quer no ambiente da escola. Há temas que não são negociáveis na interação com os filhos: o respeito pelos mais velhos, a proibição da linguagem obscena, o cumprimento dos horários, a obrigatoriedade de trabalhar ou estudar, a manutenção dos limites da privacidade geracional, a necessidade de cumprir em conjunto os rituais familiares (festas significativas, datas de habitual festejo, férias da família), entre outros."
 
É portanto urgente que os pais compreendam que ao imporem disciplina desde cedo estão a promover o autocontrolo dos filhos e a ajudá-los a serem capazes de estabelecer os seus próprios limites, completa a mesma psicóloga, num artigo de opinião publicado no sítio educare.pt.
 
Fátima Fernandes