Família

Educação? É preciso começar pelos pais!

 
É comum ver publicações que orientam os pais para o processo escolar dos filhos, para os inscreverem num conjunto de atividades, para lhes dar uma melhor alimentação e até vestuário, mas fala-se muito pouco no essencial, na importância de educar os pais para que os filhos obtenham melhores oportunidades de vida.

São cada vez mais os especialistas que assentam na base de que, não se pode exigir aquilo que não se mostra, que não se fornece através do exemplo ou que se exige a partir de uma educação responsável.

Um pai ou uma mãe, não pode exigir que os filhos tenham um bom comportamento em termos sociais se não os prepararem para isso.

Cada vez são menos as crianças que acompanham os pais nas mais variadas situações e que aprendem a estar nos eventos e em contacto com os outros.

Pode-se exigir que os miúdos saibam comportar-se mais tarde?

O tempo dos pais é cada vez mais escasso e a escola é encarada como “a salvação” para todos os males.

As crianças passam lá grande parte do seu dia, muitas vezes são entregues por outros familiares e à saída vão para um centro qualquer para que estejam ocupadas as restantes horas do dia.

Com tantas horas de aprendizagem os pais ficam muito indignados quando olham o boletim dos filhos com notas fracas, mas não percebem que a ausência da figura materna ou paterna na escola reduz significativamente o rendimento escolar.

Os pais exigem, mas não participam na vida escolar dos filhos. O mesmo se passa com o infinito de atividades que as crianças frequentam até à idade adulta. Muitas delas os pais só pagam a mensalidade e nada mais sabem acerca do assunto.

Os jovens de hoje estão cada vez mais fechados e ligados à net e às tecnologias. É verdade, mas alguém lhes apresenta alternativas? Alguém dedica uma boa parte do seu tempo a conversar com os filhos sobre os mais variados assuntos, é capaz de agarrar nem que seja num jogo de tabuleiro e ocupar um domingo à tarde? Tudo começa porque os pais acham que é uma chatice para si e para os filhos passar assim um fim de semana.

Depois, não é prático querer fazer “a nossa vida” e termos de reservar esse tempo para os mais novos. É mais fácil que eles adquiram os seus hábitos desde cedo e que tenham os seus compromissos. De casa em casa, os jovens crescem sem criar raízes nem no seu quarto, nem na família e depois lamentam-se os comportamentos dos adolescentes…

Claro que as crianças e jovens devem fazer as suas amizades, dormir na casa de amigos, mas a estrutura familiar tem de existir e ser o porto-seguro. Um jovem não pode andar permanentemente à procura de uma pessoa com quem conversar.

Os pais devem saber assumir esse papel, saber ouvir, orientar e expressar a sua opinião. Entre as regras e a autoridade também essenciais, é imperioso compreender os mais novos e aceitar também as suas posições.

Ser pai e mãe também tem essa exigência para além do afeto, para além da educação e da responsabilidade de proteger e ajudar os filhos a “vencer” na vida.

Em primeiro lugar, é preciso preparar os filhos para a relação familiar, o local onde terão sempre apoio e só depois “soltá-los” para a vida com a certeza de que saberão regressar quando precisam.

Tendo por base uma publicação de Robson Brino Faggiani no site Psicologia e ciência sobre o comportamento humano, “o mais importante a saber é que fazemos o que fazemos porque fomos ensinados. Tudo o que realizamos é aprendido, inclusive os comportamentos inadequados dos nossos filhos.”

É de realçar que, “se os pais não ajudam o filho na escola, não lhes pedem para arrumar o quarto, não se preocupam se eles saem à noite, com certeza as crianças vão aprender que não precisam estudar, não precisam arrumar o quarto e podem sair para onde quiserem.

O facto de que os comportamentos são aprendidos é uma boa notícia: significa que podemos ensinar maneiras diferentes de agir. Podemos identificar quais são os comportamentos dos nossos filhos que são inadequados, e criar situações para que eles aprendam melhores formas de se comportar.”

Na posição do mesmo especialista, “precisamos entender melhor sobre os motivos do comportamento, já que este encerra uma necessidade. O bom e o mau comportamento indica que a criança ou o jovem querem mostrar alguma coisa.”

Tudo o que fazemos tem uma intenção. Vestimos uma blusa quente num dia frio, esperamos a nossa vez numa fila, compramos algo para nós. Em cada lugar assumimos um comportamento e uma postura diferente. Na sala de aula temos uma forma de estar distinta da do recreio ou parque infantil. Isto também se aprende através do exemplo e da presença dos pais nas mais variadas situações.

O mesmo se passa no supermercado, no museu ou no cinema. Desde pequenos, é preciso aprender a estar nas mais variadas situações e os pais são o primeiro referencial.

Uma parte do nosso comportamento também reflete o desagrado que sentimos em estar numa determinada situação. Seja porque não aprendemos a gostar de lá estar, seja porque não sabemos como nos comportar na ocasião.

“Se conseguirmos identificar em que situações e com quais pessoas os nossos filhos se comportam de forma errada, mais facilmente podemos corrigir esse comportamento e melhorar a sua conduta.”

Uma criança que faz “uma fita” na presença do pai e não da mãe, pode indicar que o pai não está a assumir corretamente o seu papel e a estabelecer limites ao filho.”

Um outro aspeto importante é o caso de uma criança que só estuda na véspera de um teste ou exame. “Muito provavelmente ela faz isso porque os pais não a incentivam a estudar diariamente.” E esta é a base para tudo na vida, até para as birras que mais não são que chamadas de atenção para algo que está errado, seja nos avós, nos pais ou educadores. A birra é sempre uma forma da criança mostrar o seu desagrado face a uma ausência de atenção.”

É fundamental que os pais assumam a responsabilidade já que são as pessoas mais importantes para os filhos e é principalmente na convivência familiar que a criança se desenvolve.

Perante esta realidade, deixamos quatro formas diferentes de lidar com as ações dos filhos:

A primeira e mais recomendável forma de lidar com os comportamentos dos filhos é premiar as ações positivas com elogios, carinhos, presentes, passeios, comidas preferidas, etc. O comportamento positivo premiado tende a ocorrer novamente. Esse prémio, no entanto, não deve vir após uma correção ou castigo.

O prémio deve ser entendido com naturalidade e sublinhando que se ficou contente com o comportamento da criança, pois isso fará com que se repita muitas mais vezes e, sem qualquer compensação. Digamos que é um incentivo que fica registado na mente da criança como algo muito positivo.

Crianças que ouvem palavras de incentivo dos pais crescem felizes, saudáveis e autoconfiantes. Os melhores pais são aqueles capazes de dar atenção aos filhos, pelo que, o prémio não pode ser entendido como uma forma de chantagem, mas sim de compensação pontual e inesperada; um reforço.

Convém não esquecer que, crianças excessivamente premiadas tornam-se mimadas e com comportamentos desajustados à realidade. Crianças que têm tudo o que querem não desenvolvem autoconfiança e têm dificuldades em lidar com a frustração.

A segunda forma de lidar com os comportamentos dos filhos é não fazer nada. Há pais que, independentemente do que os filhos façam, seja bom ou mau, nada fazem: não dão prémios, não fazem carinhos nem colocam os filhos de castigo ou chamam a atenção para o mau comportamento.

Pais que não se importam com o que os filhos fazem podem estar a criar adultos com dificuldades de aprendizagem, com baixa autoestima e baixa autoconfiança. Essas crianças podem tornar-se adultos apáticos, incapazes até mesmo de conhecer as suas próprias preferências e capacidades.

A terceira forma é motivar o filho com algum tipo de “ameaça”. Por exemplo, há pais que criam regras como “se não estudares, vais ficar de castigo” ou “se não arrumas o quarto, apanhas.” e assim por diante.

Essa forma de lidar com as ações dos filhos apenas empurra o problema e não o resolve, Filhos que crescem com ameaças não são capazes de entender os motivos para assumirem um comportamento positivo. Serão adultos desconfiados e com medo de errarem.

Os pais devem explicar resumidamente a importância de estudar e de arrumar o quarto. Perante esta constatação, será mais fácil exigir um comportamento positivo.

Devem substituir a ameaça pela responsabilidade individual, “se não fazes, és tu que perdes a oportunidade de aprender”, por exemplo.

A quarta forma baseia-se nos gritos e na violência por tudo e por nada. Apesar de parecer a mais funcional das formas, é a menos recomendada. Filhos que apanham ou são humilhados pelos pais, tornam-se adultos violentos, sem nenhum amor próprio e sem autoconfiança. Alguns estudos correlacionam a violência na infância com a criminalidade. Por isso, bater ou humilhar é a pior maneira de lidar com os filhos.

Os pais que conseguem obter comportamentos positivos sem recurso a qualquer tipo de violência, estão no bom caminho, pois conseguem mostrar com expressões faciais ou leves manifestações de desagrado que os filhos não estão a realizar o comportamento mais correto.

Os pais mais firmes e seguros, conseguem ter esta habilidade sem qualquer problema e com grandes resultados, basta saber muito bem o que se pretende com a educação dos filhos.

Uma forma inteligente de educar é tirar partido do melhor que as crianças têm e daquilo que mais gostam. Depois é só “jogar” habilmente com isso. “Gostas muito disto, então vais ter de conquistar com bons comportamentos, responsabilidade e o teu trabalho que é estudar.”

A melhor recompensa que se pode dar a um filho é brincar com ele e permitir que ele interaja com outras crianças, por isso é fácil mostrar-lhe os benefícios de ter uma boa conduta numa qualquer situação.
 
Para que não haja dúvidas, deixamos uma lista com aquilo que as crianças mais gostam:

1. Brincar: a brincadeira é fundamental para as crianças aprenderem a se relacionar socialmente e a conhecer os seus limites. A brincadeira permite desenvolver a inteligência e a imaginação. Com as brincadeiras, as crianças aprendem a diferenciar as suas preferências das de outras pessoas.

2. Receber carinho e atenção. O carinho faz com que as crianças se sintam felizes, possibilitando que cresçam com saúde, autoestima e autoconfiança.

3. Ser ouvido: permita que os seus filhos contem histórias, ainda que fantasiosas. Ser ouvido faz com que a criança se sinta valorizada.

4. Poder decidir. As crianças adoram tomar decisões. Uma vez por semana, deixe o seu filho escolher o jantar. De vez em quando, deixe-o escolher o canal de televisão e um local para passear. Isso é ótimo para a autoconfiança e dá-lhe a noção de responsabilidade enquanto que lhe permite um desenvolvimento saudável.

5. Aprender coisas novas:  as crianças são curiosas por natureza. As crianças que são incentivadas a aprender tornam-se mais inteligentes e capazes. Portanto, respondam as dúvidas dos vossos filhos e proporcionem-lhes momentos felizes em contacto com novos ambientes.

6. Não ser comparado: não é correto comparar um dos seus filhos com os irmãos ou com outras crianças. Cada pessoa é única e deve ser tratada assim.

7. Ser valorizado. As crianças adoram a atenção dos pais e o incentivo. Elogiar e valorizar o seu trabalho e empenho, é uma boa maneira de criar auto-estima e autoconfiança.

Não se esqueça de que, um lar pacífico evita crianças com problemas de comportamento. Se os pais se esforçarem e criarem um ambiente agradável em casa, vão chegar do trabalho com mais energia, pois vão encontrar paz e o carinho dos filhos.

Se os pais não dão atenção ao lar, seguramente que se vai instalar o caos entre os seus membros. Investir na paz em casa é benéfico tanto para os pais quanto para os filhos.

Já sabe, o exemplo é a base da educação!

Fátima Fernandes