Comportamentos

Está com uma pessoa que o/a desvaloriza? Saiba o que pode fazer

 
Muito mais comum do que possa parecer, a desvalorização do parceiro/a chega a ser uma forma recorrente de tratamento no seio de muitas relações.

Em muitos casos, senão na maioria, a pessoa afetada nem se dá conta de que é alvo de uma forma de violência porque o outro utiliza expressões como: “amor, deixa que eu faço isso porque tu és muito desajeitado”, ou “fazes sempre as mesmas asneiras, amor”, ou ainda “amor, passa-se o tempo e continuas sempre na mesma estupidez”, sem esquecer expressões como “essa roupa fica-te mesmo mal, amor”, “não tens gosto nenhum para te vestires, amor” e daí por diante.
 
A utilização da palavra “amor” antes ou depois da frase acaba por mascarar a desvalorização que lhe está implícita e faz com que muitas pessoas pensem que o outro as ama, quando na realidade, isso é uma forma de abuso psicológico que tem na sua base a submissão do parceiro.
 
Na posição dos psicólogos entendidos nesta matéria, trata-se de uma forma de abuso proveniente de uma personalidade narcisista. Este tipo de pessoa alimenta o ego a partir da desvalorização do outro e acaba por arrasá-lo, sendo comum uma fraca autoestima, cenários de depressão, tristeza e até raiva. Por seu turno, o narcisista apresenta um ego cada vez maior porque tem ao seu lado uma pessoa que cada vez reage menos, que não lhe faz frente e que se sente cada vez mais incapaz de o deixar.
 
Na realidade, a relação de dependência é de tal forma grandiosa que, a vítima não consegue fazer nada para a melhorar. Não exige, não reclama e acaba por aceitar que o/a parceiro/a é assim e que não há nada a fazer.
 
Na posição dos técnicos, há um assumir generalizado que se trata de uma situação difícil, no entanto, é sempre possível fazer algo, sobretudo porque este não é o modelo ideal nem mais adequado de relação. Assim, em primeiro lugar, a vítima precisa de tomar consciência de que a desvalorização não é amor, muito menos atenção ou respeito. Numa parceria amorosa, cada um dos intervenientes tem o seu valor, o seu lugar e merece ser respeitado, caso contrário, deixa de ser uma relação para passar a ser uma sociedade que apenas serve os interesses de uma das partes.
 
Quando a pessoa se apercebe que não merece ser tratada assim, tem sempre duas atitudes a tomar: ou tenta que algo mude, nomeadamente a forma de comunicação, a convivência diária baseada no respeito e num diálogo equilibrado, ou simplesmente coloca um ponto final na relação, pois como está não faz qualquer sentido.
 
Nos relatos das vítimas de desvalorização, é comum o assumir que se ama o outro, que não se quer terminar a relação, que se tem medo de ficar sozinho, que já se está habituado a esse modo de vida, que já não se tem idade para fazer alguma coisa e daí por diante, mas é importante reagir em prol da nossa saúde mental.
 
Há ainda casos em que ambos se tratam mal mutuamente, em que se ofendem diariamente, que se humilham e chamam nomes, pois como já não se encontra uma alternativa, vive-se o “bateu, levou”, o que também não resolve o problema de base.
 
Na maioria das situações, os casais já não reúnem condições para resolverem o problema sozinhos, pelo que, a ajuda de um terapeuta de casal pode ser um apoio precioso.
 
Nas sessões, o especialista fará com que ambos compreendam que essa não é a melhor forma de se tratarem e, se ainda existe algum tipo de sentimento positivo entre ambos, o ideal é que o mesmo ganhe expressão e que possa ser o alicerce para mudar. Ambos precisam de alterar a sua conduta, seja quem aceita a desvalorização, seja quem a pratica, pelo que se incide na recuperação da autoestima de ambos, ensina-se a conversar, a tolerar, a respeitar e a compreender o outro, partindo do respeito por si mesmo.
 
Com a ajuda de um moderador, os parceiros recupera os pontos positivos que os uniram e que ainda lhes podem fazer sentido e, em muitos casos, aprendem a conviver de uma forma mais equilibrada e salutar. Ambos passam por um processo de autoconhecimento para que tentem compreender a razão pela qual tratavam mal o outro e, percebe-se que, regra geral, são problemas ligados à infância que deram lugar a determinados comportamentos na vida adulta. Quando se assume o erro, é possível corrigi-lo e melhorá-lo, dando um novo sentido à vida a dois.
 
É também um facto real que, nem todas as relações conseguem um final feliz devido às muitas marcas negativas que as envolvem, mas que muitos casais encontraram um novo rumo para as suas vidas, com uma melhor autoestima e o encontro de uma nova relação mais inspiradora e baseada no respeito mútuo.
 
O primeiro passo é mesmo rejeitar qualquer tipo de abuso ou violência e decidir que se quer ir por outro caminho!
 
Fátima Fernandes