Sociedade

“Estão a demolir e onde estão os benefícios para as pessoas?” – Steven Sousa Piedade

 
O Algarve Primeiro esteve à conversa com Steven Sousa Piedade, presidente da Junta de Freguesia de Montenegro que inevitavelmente abordou o tema das demolições na Ria Formosa, mais concretamente na Praia de Faro, área de jurisdição da junta de Montenegro, com o intuito de apurar a posição do autarca.

 
Steven Sousa Piedade começou com a frase que considera ser "fundamental" para facilitar o processo: “Temos de falar com as pessoas. Temos de nos sentar à mesma mesa e apresentar o que está em causa, o que se pretende e quais os reais benefícios para quem perde a sua casa”.
 
Sublinhando que, “apesar de a junta de freguesia não ter assento na Sociedade Polis Ria Formosa e de os moradores serem representados pelas associações – APRAFA - Associação para a Defesa e Desenvolvimento da Praia de Faro e pela Nascente Duna Mar, bem como as associações de Moradores dos Hangares e de Moradores da Ilha da Culatra, penso que este é um processo delicado, e que merecia que todas as partes estivessem envolvidas. A junta também tem as suas responsabilidades ao nível do território e, sobretudo na relação de proximidade com as pessoas”.
 
Lamentando a falta de informação da atual gestão da Sociedade Polis, o autarca recorda que, “já o disse várias vezes. No tempo da direção da engenheira Valentina Calixto, nunca a junta foi colocada à margem do processo. Fosse via telefónica, mail ou presencial, a comunicação foi sempre facilitada, o que não acontece com a atual presidência. A única vez que consegui falar telefonicamente com o atual presidente (Sebastião Teixeira), foi-me assegurado pelo próprio que me faria chegar a informação, mas até ao momento ‘zero’. Como posso esclarecer as pessoas que me procuram diariamente se eu próprio não disponho de qualquer informação?”
 
Ao mesmo tempo, Steven Sousa Piedade lamenta não saber, entre outras, em que ponto está a limpeza dos espaços onde ocorreram as demolições. “Soube que houve uma avaria no barco ou na máquina, que peneirava a areia e retirava os pequenos detritos desta, já enviamos um oficio a solicitar esclarecimentos sobre o assunto, mas até ao momento não obtivemos qualquer resposta.”
 
Visivelmente incomodado com a forma como todo este processo tem sido conduzido, o presidente da Junta de Montenegro adianta: “este processo começou ainda eu não tinha nascido. Cresci a conhecer o problema dos pescadores que, nos anos 60 foram empurrados para as pontas da praia para que alguns pudessem construir na zona desafetada. A população, revoltada com a situação, foi construindo as suas habitações nas pontas, muitas das vezes com autorizações verbais e sem que nunca ninguém os tivesse impedido ou houvesse qualquer intervenção”.
 
“Nos últimos 20 anos, continua o ‘braço de ferro’ entre quem é que tem razão e quais são os reais benefícios para as pessoas”, prossegue Steven Sousa Piedade.
 
“Não tenho a menor dúvida de que é essencial melhorar, requalificar e que o processo é irreversível, no entanto condeno a forma como se está a desenvolver todo o processo, à margem das pessoas, só temos conhecimento através da comunicação social, não são conhecidos nem apresentados os projetos futuros para aquele espaço, enfim”.
 
Primeira e segunda habitação, “a verdade é que as pessoas foram investindo dinheiro nas suas casas nestes últimos anos, agora pouco tempo depois vêem as suas habitações demolidas (segundas habitações), não deviam ter deixado que tal acontecesse. Não é assim que se procede”.
 
Na posição do autarca, “as pessoas entendem aquilo que lhes é explicado e acabam por aceitar quando percebem os verdadeiros benefícios e as contrapartidas das mudanças, pelo que só posso afirmar que tem havido algum receio de falar abertamente com as partes envolvidas e de esclarecer”.
 
“Não existe a menor dúvida de que temos uma área de excelência no Algarve, já foi designada de ‘pérola’ por muitos entendidos na matéria, mas para que a mesma possa servir os moradores, os farenses e os nossos visitantes, certamente que há muito trabalho a fazer, trabalho esse que tem de ser conjunto, conversado e esclarecido para que se minimizem os prejuízos”.
 
O autarca reforça, “precisamos de saber qual é o projeto, quais são as intenções de ordenamento para o local, pois assim como está, ‘em segredo’ torna-se ainda mais difícil e mais complicada a tarefa de tranquilizar os moradores”.
 
A finalizar, Steven Sousa Piedade adianta, “todos sabemos da imposição das diretivas comunitárias e que há prazos a cumprir, o que em meu nome pessoal, seria mais um motivo para conversar, para comunicar. Para se estabelecerem pontes entre entidades e comunidade, no intento de encontrar as soluções mais adequadas e agilizar o processo. Já demonstrei inúmeras vezes a minha disponibilidade e empenho em saber mais para poder esclarecer e ajudar a mediar o processo, mas as respostas são escassas ou mesmo nulas. Fui eleito democraticamente pela população, os eleitores esperam de mim apoio em momentos difíceis como este, no entanto vejo-me sem informação e de mãos atadas”.