Família

Estará a criar um filho narcisista?

 
Certamente que nenhum pai ou mãe deseja ter um filho narcisista, mas a verdade é que há comportamentos na educação que conduzem a esse transtorno.

 
Em linhas gerais, uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista não apresenta empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro e de o compreender), para além de ser muito manipuladora.
 
O narcisista tem a particularidade de prejudicar as pessoas em seu redor e de as fazer sofrer com as suas atitudes, razão pela qual a convivência é muito difícil e, por norma, limitada no tempo.
 
As pessoas com este transtorno apresentam muita dificuldade em manter as suas amizades e ligações próximas, sobretudo devido às suas características muito negativas, em especial “a mania” de que são mais do que os outros, a grande necessidade que sentem em prejudicar os demais para se apresentarem como superiores, também apresentam um grande egoísmo, inveja, necessidade de desencadear conflitos, egocentrismo e uma luta constante para retirarem do caminho aqueles que sabem que lhe estão acima.
 
Segundo os especialistas nesta matéria, este transtorno é considerado um distúrbio psicológico, na medida em que afeta a qualidade de vida das pessoas em seu redor, sendo que,  a educação parental assume-se com grande relevância no seu desenvolvimento.
 
Um estudo sobre egolatria infantil revelou que os pais que criam os filhos para se sentirem melhores do que os outros «não os ajudam a ganhar autoestima. Pelo contrário, prejudicam-nos, pois aumentam o risco de se tornarem narcisistas. Conclui o mesmo trabalho que, para aumentar a autoestima, o importante é fazer com que as crianças se sintam amadas, não que se sintam superiores».
 
De acordo com o mesmo estudo, «quando os pais veem os filhos como mais especiais do que os outros, interiorizam-lhes a crença de que são superiores, uma visão que está no centro do narcisismo». Por outro lado, «quando as crianças são tratadas com carinho, interiorizam a ideia de que são indivíduos valiosos, uma visão que está na base da autoestima».
 
De acordo com os investigadores, «supervalorizar as crianças alimenta o desenvolvimento de uma personalidade narcisista». É também importante ter em conta que, tal como outras características da personalidade, o narcisismo é influenciado pela genética; além disso, tem início nas primeiras manifestações temperamentais. Muitas crianças ficam expostas a este transtorno quando são criadas num ambiente de supervalorização dos pais, evidenciam os mesmos especialistas.
 
Neste contexto, há cinco comportamentos que os pais devem evitar na educação das crianças:
 
1. Fazê-las acreditar que estão sempre certas
 
Apesar de terem habilidades suficientes para acreditarem em si mesmas, muitas crianças sentem dificuldades em confiar nos seus talentos e potencialidades. Para as encorajar, os pais tendem a dar-lhes sempre razão, a mostrar-lhes que estão certas e que os outros estão sempre errados. Assim, importa evidenciar que, os progenitores devem ajudar os filhos, mas tendo sempre em conta a necessidade do incentivo, a recompensa pelo esforço e a arte para lhes mostrar que são capazes a partir da tentativa e erro, mas sem as comparar com as demais e sem desvalorizar o que os outros são capazes. Felicitar, elogiar e encorajar são a base para construir uma boa autoestima.
 
As crianças devem aprender a viver com os seus erros e frustrações, já que isso as fará perceber que umas vezes acertam, outras erram, postura que as vai afastar do narcisismo.
 
2. Fazê-las acreditar que estão acima dos outros
 
Os pais devem valorizar as capacidades dos filhos, mostrar-lhes a importância de darem o seu melhor, de se empenharem e esforçarem, mas sem caírem no erro de lhes fazer acreditar que são melhores do que os outros. Cada um tem o seu valor e deve esforçar-se por superar as dificuldades, pelo que não é positiva a competição e a comparação, pois somos todos diferentes e cada um merece ser respeitado e dignificado como ser humano único que é.
 
3. Torná-las intolerantes às críticas
 
É um facto que uma crítica não é bem recebida por ninguém, já que todos gostamos de ser aceites, no entanto, temos de reconhecer que se aprende muito através das críticas, sobretudo aquelas que são construtivas. Uma criança que cresce num ambiente em que os pais são intolerantes à crítica, também terá muita dificuldade em aceitar algo que não seja do seu agrado.
 
É importante ouvir a crítica e saber dar-lhe um sentido e um significado. Se nos ajuda a crescer e a sermos melhores pessoas, ótimo! Se, pelo contrário, é do tipo de crítica que nos desvaloriza e destrói, também devemos saber desvalorizá-la e retirar-lhe a importância. É nesta base que devemos educar os nossos filhos, pois as críticas vão existir sempre e de onde menos se espera.
Lembre-se de que, «educar uma criança para não aceitar que erra é condená-la ao desprezo dos outros».
 
4. Gabar-se dos feitos dos seus filhos e descartar-se de responsabilidades
 
Uma coisa é orgulhar-se dos feitos de um filho, outra é gabar-se das suas capacidades. Se acrescentar a esse tipo de atitude a ideia de que o seu filho não comete erros, você está a criar um narcisista.
 
É importante ficar contente com os feitos do seu filho, mas isso não quer dizer que tenha de fazer notícia disso, pois tal como a criança obteve um bom resultado, pode igualmente receber algo de menos positivo. O equilíbrio na educação posiciona-se no meio termo; umas vezes acertamos e ficamos felizes, outras falhamos e ficamos tristes. Pais responsáveis transmitem esta ideia aos seus descendentes e praticam-na também no seu dia a dia. Quando pais e filhos admitem que podem falhar, caminham para um percurso mais realista e positivo.
 
5- Falar mal das crianças que não têm as mesmas capacidades
 
Há crianças que têm mais dificuldade em obter bons resultados, enquanto que outras alcançam mais facilmente o sucesso. A vida constitui-se de pessoas distintas e com diferentes capacidades, mas todas devem ter os mesmos direitos e ser igualmente respeitadas.
 
Os pais podem evidenciar que os filhos obtiveram bons resultados, sem que isso implique ter de falar mal dos outros ou desrespeitar os demais. É fundamental ensinar este valor aos mais novos para evitar que se sintam os melhores ou que estão acima dos outros, pois isso é meio caminho andado para o narcisismo.
 
Ao fazermos este tipo de comentário em frente aos nossos filhos, estamos a promover um comportamento incorreto, pois naturalmente que os mais novos vão gozar com esse colega que obteve resultados menores. A longo prazo, ambas as crianças vão sofrer. O seu filho que vai acabar por ser desprezado por aqueles com quem gozou e, a criança gozada  que terá de lidar com a humilhação provocada pelo seu filho. Qual é o valor disso? Crianças infelizes com comportamentos que os pais podem ajudar a evitar.
 
No fundo, todos os pais querem que os filhos sejam felizes e que cresçam de forma equilibrada e saudável, por isso, tratemos os outros com respeito e igualdade de oportunidades.
 
Fátima Fernandes