Comportamentos

Fantasmas do passado: quando a dor emocional nos assola o presente

 
Neste apontamento, Soraya Rodrigues de Aragão, psicóloga clínica e psicoterapeuta, explica a importância de intervir nos traumas passados, «como forma de libertar o presente para novas vivências e conquistas».

De acordo com esta especialista, autora de diversos artigos, os indivíduos que desenvolveram algum trauma, «apresentam bloqueios emocionais, onde a marca principal é o aprisionamento de memórias dolorosas» que impedem que vivam o presente e, consequentemente sofram reações psicofísicas ao nível da saúde.
 
Para Soraya Aragão, «no trauma, a experiência é bloqueada, sendo vivenciada e transportada para o presente recorrentemente de forma intrusiva no quotidiano da pessoa». É como se o evento tivesse ocorrido naquele mesmo dia, «com toda a carga psicossomática», vivendo o indivíduo preso numa armadilha dos fantasmas das suas vivências mal elaboradas, adiantou.
 
A revivescência do trauma «é a própria presentificação da dor visceral e lancinante». Por este motivo, a mesma psicóloga ressalta «a importância do reprocessamento dos conflitos internos e dores emocionais através da reorganização de um sentido destas memórias aflitivas e emoções disfuncionais», objetivando reconquistar a homeostase psíquica, a reorganização do ser, a reestruturação cognitiva do trauma objetivando a dessensibilização e ressignificação destas dores emocionais, sublinhou.
 
Segundo a mesma especialista, a importância da ressignificação «consiste em observar e sentir o acontecimento traumático de um outro ponto de vista», de uma outra perspetiva «através de um trabalho psicoterapêutico».
 
No mesmo apontamento, alerta ainda que, há dois tipos de traumas emocionais: o pontual, mas devastador. Contudo, existe outro tipo de trauma que, embora de pouca intensidade, vai-se sedimentando pouco a pouco e resultando na formação de uma lesão emocional profunda resultante de situações stressantes sobrepostas e mal elaboradas dia após dia, mesmo sem que haja a perceção deste facto, completou.
 
Não importando o tipo de trauma, o trabalho psicoterapêutico, através das suas técnicas «transforma a areia da concha numa pérola», aproveitando uma experiência de sofrimento devastador para o fortalecimento da autoestima, para a promoção do autodesenvolvimento e fortalecimento da resiliência para que nos tornemos mais preparados diante das adversidades da vida, adiantou a mesma psicoterapeuta.
 
Para Soraya Rodrigues de Aragão, «trabalhar a dor não é uma tarefa fácil». No entanto, «este processo liberta dores presentes e resistências, exorciza fantasmas, tornando-nos mais conscientes da nossa capacidade de superação e força interior», concluiu.
 
Fátima Fernandes