Família

Filhos que não obedecem aos pais. O que se passa?

 
Muitos pais queixam-se que não conseguem fazer com que os filhos lhes obedeçam e recordam que, no passado «um simples olhar do pai ou a respiração mais profunda da mãe eram suficientes para que os mais novos fizessem o que queriam».

Na realidade, pais e filhos mudaram. Os mais velhos que não gostaram da forma autoritária com que foram educados, não transmitiram esse modelo aos filhos e, em muitos casos, desligaram-se tanto da educação que deixam os filhos fazerem tudo. Por outro lado, muitos pais tentaram reproduzir o padrão agressivo que receberam dos seus progenitores, mas não conseguiram obter o mesmo grau de obediência porque a sociedade evoluiu e os mais novos deixaram de aceitar ser tratados assim.
 
No meio, estão os pais que foram maltratados na infância, mas que evoluíram e conseguiram encontrar um modelo educativo equilibrado e baseado no respeito.
 
Na posição dos especialistas, cabe aos pais a base educativa dos filhos, mas estes precisam de se atualizar e de assumir que o mundo mudou. Nas sociedades democráticas, os cidadãos têm direito de palavra, proteção e respeito pelo que, esses aspetos têm de ser incluídos na educação, seja em casa, seja na escola. Esta é uma razão pela qual os pais não obtêm sucesso na reprodução dos padrões do passado.
 
Uma criança ou jovem que seja vítima de violência doméstica pode fazer queixa dos pais na escola ou junto das autoridades competentes e os progenitores chamados à atenção.
 
Quer isto dizer que, os mais novos nascem num ambiente familiar que não se pode afastar muito dos valores democráticos da sociedade, pelo que, os pais não podem agredir os filhos como se fazia noutros tempos.
 
Segundo os especialistas em comportamento humano, os pais devem ponderar muito bem a chegada de um filho e quais as motivações que estão por detrás da parentalidade, já que, nos tempos atuais já não se procria para ter ajuda nos trabalhos do campo ou outros, muito menos para ter filhos “à medida dos pais”.
 
Os cidadãos são livres e cada filho tem o direito de ser respeitado, de fazer as suas escolhas e de seguir o seu percurso. Os pais não o podem obrigar a seguir as suas orientações, profissão, estilo de vida, vontades, ideologias e daí por diante, pelo que, os adultos devem abrir horizontes e perceber que um filho é um ato de amor e de altruísmo, não um criado para os ajudar nas lides domésticas, muito menos um seguidor passivo das orientações familiares.
 
Assim sendo, educar é muito mais fácil do que parece. Os pais ensinam o que sabem e estão disponíveis para aprender com os filhos e com as suas exigências. Conversam com os mais novos, explicam-lhes a vida e esclarecem-lhes as dúvidas. Quando os pais não sabem, podem procurar as respostas em conjunto. Os filhos valorizam muito esse esforço e empenho dos pais, mas condenam as limitações que lhes queiram impor, pois eles têm o direito de saber mais e de aprender.
 
Os pais também têm de compreender que, são eles quem ditam as regras de bom funcionamento familiar, que explicam o respeito e têm de aceitar que os mais novos cumprem aquilo que entendem, não aquilo que lhes é imposto de forma autoritária.
 
Os pais não podem agredir os filhos e muito menos devem ofendê-los com críticas e humilhações. Os mais novos também têm limites e não podem desrespeitar os pais.
 
Os filhos cumprem aquilo que lhes é explicado e obedecem quando entendem as regras e as mesmas lhes fazem sentido.
 
As crianças e jovens vivem num regime democrático, pelo que comparam o seu modelo educativo com o dos colegas. Quando a educação parental se afasta muito da regra social, começam a revoltar-se e a sentir-se injustiçados, o que precisa de ser explicado, compreendido e aceite para que a relação entre pais e filhos seja agradável e sadia.
 
Os pais também devem mostrar o seu afeto pelos filhos e contrariar o passado baseado exclusivamente em regras e autoritarismo. Educa-se com amor e carinho, explica-se o certo e o errado e leva-se os mais novos a cumprirem com esse amor, carinho e compreensão, pois é a única forma que os filhos têm de perceber o objetivo dos pais.
 
Pais que não mimam os filhos acabam por torná-los objetos de obediência e por revoltá-los contra eles. Queixam-se da sua rebeldia que é natural, pois cada ser humano precisa dela para se evidenciar e para dizer que é um ser único e especial, mas pouco fazem para os compreender porque não os ouvem, porque não sabem os seus motivos, muito menos os seus sentimentos.
 
É fundamental que, pais e filhos se envolvam no processo educativo e que todos assumam que é uma tarefa delicada, diária e que requer muita paciência de parte a parte, mas os mais velhos têm de dar o exemplo, têm de mostrar aquilo que pretendem com a educação e, acima de tudo, expressar amor pelos filhos, já que essa é a base para que os mais novos cumpram o que lhes é pedido e para que retribuam os mesmos sentimentos pelos pais.
 
Por fim, os progenitores têm de estar disponíveis para os filhos, dar-lhes atenção, tempo, um espaço de diálogo, de amor e carinho e compreender que, os tempos mudaram e que, quando os jovens ou adultos tiverem a sua liberdade, vão acabar por não aceitar conviver com pais autoritários e agressores, pelo que, não há desculpas para a desobediência porque esta só existe se os pais não souberem educar para o respeito de parte a parte.
 
Os pais são responsáveis pela educação dos filhos e estes cumprem e aceitam aquilo que entendem e que percebem que lhes é dado com bons sentimentos e valores. Assim, não são “as más companhias” que desviam os filhos, é a falta de entrega dos pais e de uma educação democrática e voltada para o respeito que garante o sucesso do desenvolvimento. Quando a educação corre mal, todo o processo falha, alertam os entendidos nesta matéria.
 
Fátima Fernandes