Comportamentos

Idade não traduz maturidade

 
São muitas as vezes em que questionamos acerca da idade e, consequentemente, por que razão a mesma nem sempre corresponde à maturidade, seja ela desejada ou a necessária para enfrentar um conjunto de desafios.

 
Para ilustrar uma primeira abordagem ao tema, nada melhor do que recuperar um excerto de quem escreveu acerca do assunto: 
 
“Aprendi que maturidade tem mais a ver com o tipo de experiências que se teve e o que a pessoa aprendeu com elas do que com o número de aniversários que o sujeito celebrou.” William Shakespeare 
 
Dado o mote para o assunto, é preciso reter que, apesar de socialmente existirem um conjunto de padrões indicados para praticar as ações e cumprir determinados objetivos, na realidade, nem sempre as coisas funcionam assim, pois atingir a maioridade aos 18 anos, não traduz maturidade para tirar a carta de condução, muito menos para casar, começar a trabalhar e sair da casa dos pais. 
 
Ao mesmo tempo, é possível que algumas pessoas atinjam essa capacidade antes dos 18 anos, tal como outras podem estar muito longe disso nessa idade. 
 
Efetivamente, define-se maturidade pelo conjunto de experiências que possibilitam a aquisição de conhecimentos, a sua reflexão acerca dos mesmos e a aprendizagem. São essas experiências que encorajam as defesas emocionais, uma maior capacidade para pensar, para medir as consequências dos nossos atos e para de certa forma prever o que pode acontecer quando se faz algo. 
 
De todo que tal só é possível quando existe um contacto com a realidade de uma forma alargada e o sujeito tem de responder à altura dos desafios. 
 
Ainda assim, não é positivo colocar os filhos em desafios demasiado elevados sem que tenhamos a mínima noção se estão preparados para tal, pois existe uma enorme diferença entre o que os pais consideram e o que se passa na realidade, bem como é muito diferente estar sob a proteção parental e, de um momento para o outro, ter de enfrentar o mundo sozinho. 
 
Quer isto dizer que, se trata de um processo gradual em que se devem colocar situações práticas, fortalecer a autoestima e construir uma riqueza emocional para que o sujeito se vá libertando e preparando para desafiar o mundo de uma forma “madura”. 
 
Todos sabemos que não é fácil e todos já passamos pelo mesmo, mas temos uma enorme tendência para descurar o outro e para o analisarmos em função do que fizeram connosco. 
 
É fácil acreditar que, com cinco anos uma criança deve decidir a roupa que quer comprar ou vestir, a escola que quer frequentar e daí por diante, quando racionalmente falando, ninguém está preparado para tomar essas decisões nessa faixa etária nem mesmo na seguinte. 
 
O facto de muitos pais terem sido forçados a crescer depressa, leva-os a transferir a mesma noção errada para os filhos que, por mostrarem muitos conhecimentos, não quer dizer que os dominem, que meçam as consequências dos seus atos, muito menos que consigam prever os perigos. Saber não implica conhecer verdadeiramente, pois todos os humanos aprendem em parte por imitação. Daí até se chegar ao conhecimento pessoal, o percurso ainda é longo. 
 
Para facilitar a tarefa, é bom interrogarmo-nos: não há duas pessoas iguais, os tempos mudam e as exigências também, como se pode querer uma repetição dos factos e uma superação de etapas sem que tenham sido consolidadas? Que vantagens existem em fazer aos filhos o mesmo que lhes fizeram numa realidade diferente? 
 
Diz-se vulgarmente que, no passado os jovens atingiam a maturidade muito mais cedo do que hoje, mas isso não se estende a todos os casos e, facilmente podemos comprovar isso, pois uma coisa é ter de fazer face à vida com uma determinada idade, outra é estar preparado para isso. 
 
As consequências desses pensamentos têm-se refletido geração após geração em que, afinal os pais não são nem os donos da verdade, muito menos reflexos de sabedoria quando o mundo lhes era vedado de um conjunto de conhecimentos, pois para além da precária escolaridade, a aprendizagem era muito restrita à família em muitos casos. 
 
Depois, os jovens de hoje sabem muito mais em termos académicos, mas a realidade emocional é muito precária face ao restante conhecimento, já que passam grande parte do seu tempo entre pares e com pouco contacto com a realidade dos mais velhos, com os saberes do passado, com as experiências familiares e daí por diante. 
 
Então se antes havia mais experiência prática, hoje há mais teórica, mas ambas reclamam consistência e falta de amadurecimento por parte dos pais e de outras pessoas mais velhas, pois antes os limites eram maiores e as oportunidades reduzidas. 
 
Hoje há muito mais liberdade de escolha e muito menos capacidade de decisão… 
 
No fundo estamos perante uma realidade inquestionável: temos adolescentes que parecem adultos e gente crescida com comportamentos de adolescentes, o que revela que, naturalmente a idade não é “um posto”, muito menos uma fonte de sabedoria, pois quando não se aprende ou não se dá oportunidade a si mesmo de retirar as lições das experiências, é como se nada tivesse acontecido. Nada se aprendeu, nada se transformou e muito menos se cultivou um ponto a favor da maturidade. 
 
Muita gente especializada afirma que, os nossos jovens estão mais imaturos devido ás facilidades deste novo tempo, mas devemos acrescentar o pouco contacto com o passado para além dos livros. Vejamos a distância entre familiares, a dificuldade de convivência entre gerações… 
 
Sem conflito não há evolução, mas o facto de muitos jovens saberem muito em termos académicos, faz com que as gerações anteriores de pais e avós que não evoluíram, se afastem pelo medo do confronto e por terem de assumir que os mais novos sabem muitas coisas. 
 
Depois, os mais jovens não têm muita paciência para conversas pouco produtivas, uma vez que, a falta de esforço em progredir deu lugar a muitos serões fechados a cultivar o passado e sem olhar para o presente. 
 
Na realidade, para se gostar, é preciso aprender a gostar e, os mais novos não estão muito com os mais velhos e desligam-se dessa realidade essencial para o seu amadurecimento enquanto pessoas. 
 
Depois, toda a gente acredita que, por saberem muito em termos escolares, não precisam de mais informação, o que é mais um erro de quem não soube incluir a escola na vida e o seu papel, pois o saber académico não é tudo e as histórias dos mais velhos são importantes desde que bem ajustadas, contadas com carinho e com disponibilidade, mas passou-se para o extremo da vergonha de estar com os mais novos e de lhes falar abertamente da vida passada como algo diferente que deve ser enaltecido e não escondido. 
 
Os mais novos estão hoje mais pobres em termos familiares, apesar de mais ricos em termos académicos, mas falta um aspeto essencial para a maturidade: o plano afetivo. 
 
O saber que os pais e avós valorizam o seu conhecimento, que lhes agrada trocar saberes e experiências, que não temos de ser chatos e de pincelar tudo de negro para dizer que a vida de hoje é mais facilitada, pois afinal, lutou-se para reduzir muitos sacrifícios, não para dizer a toda a hora que “no meu tempo era assim, precisavas ver! Não percebes nada da vida! Antigamente é que era duro!” 
 
Tenhamos em atenção que, a evolução faz com que, naturalmente se encare a vida de uma forma diferente, pelo que não é por os mais velhos falarem horrores que a juventude vai aceitar essa reflexão. É próprio da idade acreditar no futuro e querer fazer algo novo, pelo que, o travão excessivo dos mais velhos, pode ser um motivo de afastamento de quem precisa de ter esperança e de mostrar que quer um mundo melhor. 
 
De todo que, a amargura não é a melhor forma de aproximação e, é ela um fator de perda de oportunidade de contacto entre jovens e mais velhos. Note-se que seria importante a experiência e não a revolta; o resultado de uma frustração. 
 
É muito diferente alertar para o perigo e explicar a razão do que impedir a ações provocando medo e vontade de desistir, pois o jovem acaba por não viver a experiência, por não aprender e não ganhar maturidade, sendo provável que, mais tarde o cometa mesmo fora de tempo para provar a si mesmo se é capaz. 
 
É verdade que ninguém é responsável pelo progresso, mas ninguém lhe é indiferente nem deixou de fazer parte dele, por isso, deveríamos deixar de massacrar os mais novos como se eles trouxessem os males do mundo por serem de uma geração diferente! 
 
A sociedade que temos hoje é o reflexo do ontem e uma inspiração para o amanhã, pelo que podemos e devemos melhorar aquilo que se percebe que precisa de ser aperfeiçoado, com a garantia de que todos ganhamos: os mais novos ficam mais preparados para enfrentar o futuro e, os mais velhos ganham uma oportunidade única de evoluírem, de conhecer uma nova realidade, de saírem do seu “quadradinho fechado para o mundo” e de desenvolverem mais competências, pois o saber não ocupa lugar. 
 
Maturidade é mesmo isso, é não virar as costas à aprendizagem, não fugir de uma experiência enriquecedora e dar mais de nós em prol do amadurecimento dos outros, pois estamos também a crescer e a saber mais do mundo e de nós mesmos. 
 
Sem experiências não há aprendizagem e essa deve perseguir-nos ao longo de todo o percurso, não é a idade que define tal opção, mas sim a disponibilidade de cada um, pois querer é um passo para fazer. 
 
Se acreditarmos que sabemos o suficiente por termos uma determinada idade, acabamos imaturos, inexperientes, parados no tempo, amargos, frustrados e sem motivação para viver, pois a vida exige-nos fazer parte de cada etapa com entusiasmo e dar sempre uma oportunidade a um novo conhecimento… 
 
Como última nota, é importante reter que, é mais fácil aprender com mais idade do que mais jovem, pois o conhecimento anterior facilita a aquisição de novos conteúdos. 
 
Se promovermos o conhecimento nos mais novos, estamos a enriquecer muito mais o nosso intelecto, a nossa forma de ver o mundo, de dar e receber, o que aumenta a longevidade e os bons sentimentos entre as pessoas, pois ser generoso, acrescenta a vida e a saúde! 
 
Ser maduro é um privilégio, pelo que vale a pena conhecer essa forma de decidir a vida com segurança, estabilidade, convicção e uma aceitação da idade e do percurso vivido.
 
Fátima Fernandes