Comportamentos

Identifique as 10 características comuns à maioria dos agressores

 
É raro o dia em que não se fala de um caso grave de violência doméstica num qualquer ponto do nosso país e num qualquer meio de comunicação social. Sabendo que há muitos mais casos e que não são denunciados por medo, por vergonha ou porque a vítima não toma consciência da gravidade da situação que está a viver, recorremos a uma publicação da MAGG, onde um especialista reúne os 10 pontos comuns à maioria dos agressores para que se conheça melhor o perfil destas pessoas e para que a vítima se possa proteger.

Segundo a mesma publicação, fala-se muito nas vítimas, mas também é importante «refletir sobre os agressores». Ainda que seja difícil traçar um perfil exato, a psicologia já conseguiu identificar algumas características mais transversais (e aqui, além da violência doméstica, incluem-se outras formas de violência, como o bullying), explica à MAGG o psicoterapeuta da Clínica da Mente, Pedro Brás.
 
Na posição deste especialista, "o agressor é uma pessoa igual a todas as outras, que pode ter graves problemas psicológicos ou ter passado por vários momentos traumáticos que condicionaram as suas emoções e ações”.
 
De acordo com o mesmo psicólogo, é importante estar ciente dos traços de personalidade mais comuns, já que isso ajuda a identificar um agressor; ajuda a que este se identifique como agressor e ainda é uma forma de obter mais informações para podermos resolver os problemas e viver com mais qualidade e harmonia.
 
Para Pedro Brás, é importante reter que, na base de todas estas agressões está o desrespeito pelo outro. "E isto tem muito a ver com a educação e os exemplos ao longo da vida. Na violência doméstica, nota-se que tanto a vítima como o agressor têm comportamentos aprendidos pelos seus pais. É comum a mãe do agressor ou o próprio agressor ter sido vitima de violência doméstica. Ele não aprendeu a respeitar”. Como consequência disso, Pedro Brás ressalva que, se dá uma espécie de mimetismo: “Uma vítima de bullying pode tornar-se num bully depois. É quase como se os agressores aprendessem uma linguagem de violência”.
 
Segundo a mesma publicação da MAGG, eis as 10 características que vítimas e agressores devem saber identificar:
 
1. Carência afetiva: "Pessoas que têm carência de afetos, que nunca foram amadas ou protegidas. Não conviveram em ambientes afetuosos”.
 
2. Crenças: "Pensamentos errados e crenças erróneas, nomeadamente sobre as diferenças de género. Considerando a mulher ou a criança como um ser inferior, o que por si só justificaria a ação violenta”.
 
3. Dificuldade de comunicação: "Nesta característica enquadram-se dois tipos de agressores: os tímidos, que têm dificuldade em comunicar (medo, vergonha) e os rudes, que só conseguem comunicar através das agressões verbais, gritos e palavrões", explica. "A incapacidade de comunicar e de se relacionar com os outros pode levar a comportamentos ofensivos e violentos".
 
4. Dificuldade em resolver problemas: "Pessoas que têm dificuldade em lidar com os problemas e gerir as emoções associadas aos mesmos podem partir para a agressão com mais facilidade do que as pessoas que gerem eficazmente estes processos”.
 
5. Baixa autoestima: "Pessoas que não gostam de si, que não se sentem amadas, que não acreditam no seu valor, tendem a tornar-se desconfiadas e defensivas. Sendo que a melhor defesa é o ataque, as pessoas com estas características tornam-se facilmente agressores”.
 
6. Baixa tolerância à frustração: "A incapacidade em lidar com problemas, a intolerância à rejeição e à frustração são características que favorecem comportamentos agressivos”.
 
7. Dificuldades específicas, como ciúmes patológicos: "Pessoas ciumentas, que têm dificuldades em confiar nos outros, provavelmente porque já foram alvo de traições no passado, são pessoas tendencialmente agressivas para os seus companheiros".
 
8. Demonstração de machismo: "Homens que viveram em seios familiares tradicionais, com ideias machistas enraizadas são pessoas tendencialmente machistas, com sentimentos de posse e de pertença perante o parceiro, o que pode levar a comportamentos extremamente agressivos e desproporcionais”.
 
9. Álcool e outras drogas: "O uso de substâncias psicotrópicas está frequentemente associado ao perfil dos agressores. Obviamente que estas substâncias alteram a perceção da realidade, tornando, muitas vezes, as pessoas agressivas. Contudo, apesar do uso de substâncias estar intimamente ligado ao perfil do agressor, este motivo nunca pode ser desculpa para a agressão”.
 
10.  Alterações de personalidade: "Características de personalidade como o narcisismo ou a fobia social, são traços frequentemente associadas ao perfil dos agressores. Este tipo de pessoas tem uma má relação com os outros e não se sabe relacionar”,  explicou o mesmo psicoterapeuta acrescentando que, “os primeiros porque são fóbicos socias - não gostam de ser o centro das atenções e evitam qualquer tipo de contacto com os outros -  e os segundos, em oposição, porque querem ser o centro das atenções e relacionam-se de forma exagerada e invasiva com os demais.  Qualquer uma destas características não é saudável no relacionamento humano, motivo pelo qual pode levar a comportamentos ofensivos como estratégia de defesa", concluiu o mesmo especialista.
 
Nunca é demais reforçar que, existem vários tipos de violência, que as vítimas podem ser homens, mulheres, crianças, idosos ou pessoas de qualquer idade e extrato social, pelo que, o conhecimento é sempre a melhor arma de defesa contra qualquer tipo de violência, seja ela física, verbal, psicológica ou outra.
 
A vítima deve pedir ajuda especializada podendo recorrer à APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, às forças de segurança da sua área de residência sendo que, o importante a reter é que não se pode condenar a uma vida de agressões ou de abusos de qualquer espécie.
 
Saber identificar um agressor facilita o processo de tomada de consciência e abre caminho para uma mudança de vida de parte a parte: o agressor pode aperceber-se dos seus comportamentos e pedir ajuda especializada para os melhorar e, por seu turno, a vítima pode reconstruir a sua vida longe desse tipo de agressão.
 
Fátima Fernandes