Sociedade

Ignorância: a maior doença da Humanidade

 
“O tolo, quando erra, queixa-se dos outros; o sábio queixa-se de si mesmo.” (Sócrates, 469-399, AC).

 
Mas afinal o que está por detrás da ignorância?
 
A par da falta de curiosidade em aprender, da ausência de estímulos que levem o indivíduo a despertar a consciência, está a negação do conhecimento científico e a desvalorização da sabedoria por ele transmitida.
 
Para o grupo de investigadores do Escola Brasil, “a ignorância é a maior doença da Humanidade, seja pela forma como se educam os indivíduos para uma fraca consciência de si mesmos e do mundo, seja pela ação dos meios existentes que, nem sempre são o melhor veículo de aprendizagem e que acabam por conduzir as pessoas para a ignorância sem que se apercebam.”
 
Os cientistas citados pelo Uol realçam que, tanto é ignorante quem não sabe, quem não quer saber, como quem desvaloriza o conhecimento comprovado, ou duvida do saber científico obtido através dos seus métodos rigorosos.
 
Ao mesmo tempo, também não se pode considerar como sábio alguém que se dedica a uma determinada matéria e que descura as demais.”
 
Nos nossos dias sabe-se que o saber tem de ser pautado pela abrangência; pela capacidade de relacionar conceitos e de compreender o mundo, ainda que de forma menos aprofundada. “Lutar contra a ignorância é integrar o mundo de que fazemos parte. É saber refletir acerca dos fenómenos e intervir com os meios disponíveis, sabendo que, só com um saber abrangente e respeitando o conhecimento dos outros especialistas, se integra o todo.” 
 
Depois, não se pode perder de vista o percurso e o trabalho de cada um. É desse esforço pela procura de saber mais que resulta a sabedoria que, por sua vez, será colocada em causa por outras especialidades, dando lugar a novos conhecimentos através dessa construção orientada, sistematizada e comprovada cientificamente.
 
A mente, que é a principal atividade do cérebro, só é capaz de criar, fazer descobertas e orientar com acerto o comportamento das pessoas, se tiver um registo de conhecimentos positivos e sadios nos seus neurónios. São essas informações que vão suportar o comportamento positivo. “Não é acumulando e condicionando o cérebro com os péssimos e nefastos exemplos de muitos meios de comunicação, principalmente da televisão, que vamos esperar melhores comportamentos das pessoas e condições humanas dignas de vida. Pelo contrário, os exemplos diários desses veículos de comunicação estão a conduzir-nos à falência total da moral, da decência, do respeito, da honestidade, da cultura, da normalidade das coisas e da própria sobrevivência dos Humanos.”
 
No Uol lê-se ainda que, “ de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus; o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto!” 
 
O importante é pesquisar e ver as motivações internas que levam os indivíduos a destruírem ou construírem um mundo melhor e, nesse sentido, pode-se afirmar que, “o ignorante reage com os músculos e o sábio, com o cérebro! Daí se deduz que aquele que é mentalmente pobre (cérebro com poucas gravações) é potencialmente mais agressivo que alguém culturalmente enriquecido.” 
 
Os mesmos investigadores clarificam que,, “quando se verifica a qualidade intelectual dos habitantes das localidades onde acontece o maior número de agressões físicas, homicídios e outros delitos, facilmente se percebe a diferença entre o conhecimento e a sua ausência.”
 
Perante esta realidade, faz sentido compreender de que modo a mente utiliza, para si e para os outros, o conhecimento que o seu cérebro acumulou e, a resposta é dada pelos mesmos cientistas: “os avanços tecnológicos modernos propiciaram mais conforto e longevidade. Na verdade, prolongaram a duração de vida, mas deterioraram o viver, tornando o homem num ser triste e vazio.”
 
Na aprendizagem, para se obter o conhecimento, o cérebro capta para o seu interior os factos e acontecimentos do meio ambiente que, “estimulando os nossos cinco sentidos, são encaminhados aos seus neurónios, afim de serem gravados e armazenados para a sua utilização pela mente, no comportamento do dia-a-dia.”
 
O processo de registo da informação começa pela visão,  passa pela audição, pelo olfato, pelo gosto e pelo tato. “As vias de acesso ao cérebro são os nervos que levam as ‘coisas’ do mundo (imagens, odores, sons, etc.) codificadas sob a forma de corrente eletroquímica (mais química que elétrica nos humanos) que no interior cerebral esses estímulos são descodificados e seletivamente gravados e armazenados em grupos de neurónios específicos para cada tipo de ‘coisa’ que foi captada pelos órgãos dos sentidos.”
 
Como o cérebro é todo interligado e as suas áreas são interativas entre si, com o seu meio interno (fisiológico) e com o ambiente externo (mente-comportamento), podemos imaginar o que é a vida mental de uma pessoa, onde biliões de neurónios se relacionam e interagem num processo abrangente de trocas.
 
“Todas as atividades do homem são regidas pela mente do seu cérebro. Não existe comportamento animal que não se origine da mente, que por sua vez, se origina das ‘coisas’ que o seu cérebro gravou e guardou.”
 
Que fique bem claro: “não há comportamento sem a existência de uma programação criada pelas gravações das ‘coisas’ do mundo que foram guardadas no cérebro; isto é, arquivadas na memória do tecido cerebral.”
 
É a qualidade “dessa programação mental” que vai determinar os comportamentos dos indivíduos, reforçam os mesmos investigadores no Uol realçando que, “se assiste cada vez mais a um vazio existencial e à nulidade social daqueles que desperdiçam o seu tempo sem saber o que fazer; à procura de distrações do exterior e sem motivação para construir o conhecimento que lhes poderá dar pistas para um estilo de vida mais sadio e feliz.”
 
Os mesmos investigadores recordam que, “se os nossos antepassados que se dedicaram à ciência e que nos deixaram verdadeiros benefícios em termos de qualidade de vida a todos os níveis, tivessem desperdiçado essas faculdades, não teriam criado nada e hoje estaríamos às escuras, medíocres, vazios e inúteis que usam de forma maldosa, nociva e estúpida os inventos e criações dessas mentes inteligentes que tanto estudaram, pesquisaram e até se mortificaram, como o casal Pierre e Marie Curie que morreram precocemente para nos dar os Raios X.”
 
Realçando que, para além de limitar o conhecimento, os nossos dias estão a utilizar “mal” a herança do passado, os cientistas afirmam que, “esses ignorantes utilizam para o mal e para a destruição exibicionista, as descobertas e criações dos nossos Homens sábios do passado; exemplo? O carro, que foi inventado por Ford, para nos proporcionar comodidade e rapidez na locomoção. E o que fazem com ele os estúpidos e imaturos motoristas? Exibem-se para os outros imaturos em correrias idiotas e irracionais, com, ou sem, os seus neurónios mergulhados no álcool e na ignorância, morrendo e matando os demais.”
 
Muitas descobertas e inventos “de homens que se negaram a ficar ignorantes ( o contrário da grande maioria dos atuais) são hoje utilizados pelas mentes ignorantes e vazias, com vista a darem vazão às frustrações e ansiedades geradas por estilos de vida inúteis.”
 
Do apontamento Escola Brasil retira-se ainda que, “utilizando o carro, a moto, a internet e até medicamentos para a prática do mal, esses ignorantes desconhecem as consequências pessoais, morais, económicas e sociais do seu comportamento irresponsável.”
 
Quer isto dizer que, quanto mais se conhecer e nutrir o cérebro com dados (“coisas”= estímulos) positivos; mais a sua mente fará o melhor uso desses dados positivos que se acumularam nos neurónios.”
 
Considerando que o cérebro humano tem cerca de 80 a 100 biliões de neurónios (células que gravam, além de outras funções) e, que cada um deles se liga a milhares de outros neurónios, dá para se avaliar que, quanto mais a pessoa adquire conhecimentos do mundo, mais áreas corticais são ocupadas pelo saber. “Então, mais culta será, mais inteligente se tornará, mais consciente,  útil e positiva será para si e para todos.”
 
Como ‘provocação’, os mesmos especialistas sugerem: “imaginemos o mundo, se a maioria dos mais de 6,5 biliões de pessoas tivesse essa consciência! O mundo e a vida seriam um ‘mar de rosas’. Infelizmente, temos o contrário, a grande maioria dos seres humanos está agindo e a comportar-se de forma alienada e animalesca.”
 
É de vital importância para todos, a aquisição do conhecimento, pois como já se percebeu, a falta de saber, leva à ignorância que, por sua vez, é a causa de toda a ruína da humanidade. “O cérebro é  maleável; isto é, sofre modificações estruturais e fisiológicas. Tudo é governado pela mente humana, logo, quem tiver mais dados (informações) armazenados, terá uma mente mais rica, capaz, inteligente e sábia; com mais possibilidades de dominar a matéria e as pessoas menos esclarecidas.”
 
Como o enriquecimento mental e a sabedoria “são adquiridos por meio do estudo, da leitura, da vivência e da experiência; verifica-se o quanto é difícil, penoso e até onerosa a aquisição do saber.”
 
Após a invenção da escrita, do papel e da imprensa; o meio mais fácil, prático e acessível para se obter o conhecimento, é a leitura. “Não restam dúvidas de que o homem que lê, vale por dois (ou mais). Entretanto, não é qualquer leitura que torna uma pessoa culta, sábia, inteligente e consciente.”
 
Para finalizar, nunca é demais recuperar que, “ignorante é aquele que não pode ou não se interessou em obter conhecimentos através da leitura útil e positiva; da falta da audição da harmonia sonora; da ausência da visão de cenas bonitas, salutares e agradáveis; da privação do gosto sadio do que é bom e natural; da falta do contacto epidérmico com a frescura da brisa nas manhãs primaveris e do nosso isolamento dos odores e perfumes das flores silvestres.”
 
É cada vez mais comum “empobrecemos a mente com os piores e mais nocivos estímulos artificiais que criamos pelo egoísmo, pela vaidade e pela animalidade do irracionalismo, frutos da ignorância. Esta, é a causadora de todos os males e mazelas da humanidade; desde um ato isolado de um indivíduo agressivo numa tenda no Ártico, às piores e mais mortíferas das doenças como o cancro.”
 
Os especialistas citados pelo Uol não têm dúvidas de que, Tudo tem alguma ligação com a falta de conhecimentos que é a ignorância.”
 
Preparar as nossas crianças e jovens para o mundo, não é mais do que lhes fornecer estímulos positivos; é convidá-los e incentivá-los para a aprendizagem, é fomentar o gosto pela leitura e despertar essa necessidade de saber mais. Esta orientação deve estar ao alcance de todos como base para se construir uma sociedade mais justa e humanizada; mais consciente de si mesma e dos outros.
 
Devemos incomodar-nos com a ignorância e transformá-la diariamente em sabedoria, através da procura do conhecimento construtivo, salutar e mais rico em termos de conteúdo, alertam os mesmos investigadores.
 
Fátima Fernandes