Família

Não seja «escravo» da família

 
Todos fazemos parte de uma família, mas nem sempre conseguimos conviver com ela. Haverá algum problema nisso?

Esta é certamente a pergunta que muitos membros de uma célula familiar fazem quando não conseguem manter uma relação saudável com pais, irmãos, tios, primos ou outros.
 
Na realidade, não escolhemos a família onde nascemos e, sendo a personalidade dinâmica e muito pessoal, não se pode exigir que uma pessoa se identifique com aqueles que o colocaram no mundo ou com quem conviveram desde o ato do nascimento.
 
Quer isto dizer que, para que se construa um vínculo familiar saudável e duradouro, os seus membros têm de se respeitar, de dar afeto, educação e valores e permitir que o outro se desenvolva dentro das suas qualidades e capacidades. Não podemos exigir que um filho seja uma cópia dos pais, muito menos que tenha afinidades com pessoas muito diferentes e que, em muitos casos, até mantenham pouca ligação ou convivência.
 
Ao mesmo tempo, não se pode exigir que um filho se relacione bem com um pai, com uma mãe ou um irmão de quem sofreu maus tratos de vária ordem.
 
As relações constroem-se no tempo e por prazer, não por imposição ou obrigação. Quando uma pessoa se sente obrigada a ter de agradar os pais e demais familiares, certamente que, quando atingir a idade adulta e a sua independência, terá um maior desejo de se afastar da sua família.
 
Neste sentido, é importante dar liberdade em troca dela, transmitir valores claros que os indivíduos compreendam e que aceitem e, acima de tudo, não obrigar os filhos a gostarem e a terem de se relacionar com pessoas com as quais não se identificam. É tio, é primo, é o avô, mas se não conseguem construir uma relação agradável para ambos, terão de manter uma relação desagradável e prejudicial?
 
O fundamental é que as pessoas vivam felizes e em paz com aqueles que lhes transmitem bons momentos e bons sentimentos, pelo que, não é por acaso que, muitas pessoas se dão muito melhor com os amigos do que com os seus familiares. É porque sentem essa liberdade e respeito para poderem assumir-se tal como são.
 
Tenhamos em conta que, muitas famílias possuem mentalidades tão fechadas que não permitem que os seus membros se desviem daquelas regras e valores, daquela exigência e imposições, pelo que, quanto mais exigem essa proximidade, mais os seus elementos se afastam.
 
Depois, também há muitas situações em que os pais preferem um irmão ao outro por ser mais parecido e que acabem por deixar o outro de lado por não possuir as mesmas orientações. Há pais que também não conseguem entender a razão pela qual os irmãos são tão diferentes, mesmo criados pelas mesmas pessoas, acabando por desprezar quem é diferente quando, na realidade, a grande riqueza das relações reside mesmo nessas distinções e particularidades.
 
É verdade que muitas famílias vivem de “costas voltadas” devido a conflitos, mas também é um facto que não podemos ser escravos da família sob pena de não vivermos a nossa vida.
 
Cada pessoa nasce com o propósito de construir o seu próprio caminho, pelo que manterá a relação com a família se esta a respeitar, se a aconchegar, se a compreender e der afeto. Caso contrário, tenderá a fazer a sua vida à margem de um núcleo que não a trata bem e, com o tempo, acaba por se desligar.
 
Esta é uma reflexão para os pais que querem manter os filhos por perto: aceitem os vossos descendentes tal como são, ofereçam-lhes amor, carinho, compreensão e muita capacidade de diálogo, pois essas são as chaves para um vínculo bem construído e, acima de tudo, não lhes imponham a tradição familiar que, certamente que não lhes faz assim tanto sentido neste novo tempo. Criem o vosso modelo, com as vossas emoções sinceras e sigam em frente!
 
As relações precisam de paz e felicidade, pelo que não há espaço para tantos conflitos e dramas familiares! É natural que, cada vez mais as pessoas procurem quem lhes dá atenção e carinho não elegendo a família que as desvaloriza.
 
Se no passado era habitual que os membros de uma família seguissem as tradições devido ao medo da sociedade e da crítica, nos tempos atuais os indivíduos são cada vez mais livres para escolher o ambiente onde se sentem melhor. No fundo, todos temos o direito de sermos felizes com mais ou menos família é preciso é que todos percebam que esta não é proprietária dos seus membros, pelo que cada um pode partir quando não se sente compreendido e acolhido.
 
Fátima Fernandes