Família

Nem tudo é culpa dos pais

 
Na cultura ocidental é muito comum atribuir as culpas de tudo aos pais.

Se os filhos se portam mal, a culpa é dos pais, se os filhos cometem erros, a culpa é dos pais, se os mais novos têm um comportamento diferente do da sua cultura, a culpa é dos pais e, no fundo, ninguém consegue educar bem com tantas culpas.
 
É preciso aliviar os pais e, em especial as mães que, como por norma, passam mais tempo com os filhos, são sempre elas as principais culpadas pela sociedade que lhes aponta o dedo “sem dó nem piedade”!
 
Temos de aprender a diferenciar a culpa da responsabilidade e compreender que, os pais têm uma quota parte de responsabilidade na educação dos filhos a partir do momento em que decidem o nascimento dos seus descendentes e têm a função de transmitir o melhor que sabem sempre com o intuito de os ensinar a proteger-se e de os preparar para a vida.
 
Na mesma linha, os pais são os incentivadores e não os donos dos filhos. São os adultos que cuidam do bebé desde que nasce, é a eles que cabe a responsabilidade de lhe ensinar os valores culturais e da família, tal como o respeito, o bem coletivo e a vida em comunidade, mas os mais novos também recebem muitos conhecimentos das pessoas e das instituições onde convivem.
 
São influenciados por professores, colegas, outros adultos nos demais locais e acabam por reunir muita informação além daquela que recebem em casa.
 
Quer isto dizer que, os pais dão uma parte e a sociedade dá outra e que, quanto melhor funcionar a criação parental, mais fortes as crianças se vão formar para se protegerem daquilo que pode constituir um perigo.
 
Naturalmente que os pais são responsáveis pelos filhos, mas têm de lhes dar uma margem de manobra para que cresçam e para que se desenvolvam no meio em que estão inseridos.
 
Se não encararmos a educação desta forma alargada, acabamos por exigir que os nossos filhos sejam como nós e que não tenham liberdade para fazerem as suas escolhas. Não é por acaso que, no passado era mais frequente que os filhos seguissem os pais, fosse na profissão, fosse no modo de vida.
 
Com esta visão mais alargada de parentalidade, os mais novos chegam a adultos com a necessária liberdade para decidirem o que querem fazer, para decidirem o seu futuro profissional, a pessoa com quem querem constituir família e daí por diante.
 
A sociedade não pode e não deve acusar os pais pelo facto de os filhos não os imitarem. Tem sim o dever de os encarar como indivíduos livres, numa sociedade democrática, com os seus direitos e os deveres e com a necessária capacidade e margem para tomarem as suas decisões.
 
Posto isto, os pais têm de fazer a sua parte e permitir que os descendentes sigam o seu percurso em função daquilo que aprenderam e do que lhes faz sentido.
 
Os filhos retiram dos pais aquilo que lhes agrada e recebem de outras pessoas o conhecimento que melhor se encaixa nas suas escolhas.
 
Com esta liberdade, podemos afirmar que, os pais são responsáveis pelos filhos até que eles consigam fazer a sua vida de forma autónoma e que, nem tudo é uma influência dos pais, pois os mais novos aprendem muito com todas as pessoas e influências da comunidade.
 
Reforça-se então que, os pais devem educar com amor, carinho, muito diálogo, capacidade de ensinar e de aprender com os filhos e com os exemplos dos outros, mas livres de culpas, pois quem dá o seu melhor, não pode ser acusado do que quer que seja.
 
É com este pensamento que os entendidos aliviam os pais que há décadas carregam culpas daquilo que não lhes pertence, mas a falta de conhecimento foi dando lugar a essa ideia que tem vindo a mostrar-se pouco eficaz.
 
Não se quer dizer com isto que, os pais não têm a responsabilidade de transmitir uma boa educação, bons valores, respeito mútuo e manter uma convivência agradável e sadia, pois com um bom exemplo em casa, será muito mais fácil prepararmos um bom adulto para a sociedade e um indivíduo capaz de se proteger daquilo que não deseja para a sua vida.
 
Os pais são uma referência de autoridade e devem vincar essa posição mesmo sendo próximos dos filhos. São os mais velhos, são amigos dos filhos, mas sabem exigir-lhes respeito e esse reconhecimento de figura de autoridade quando necessário.
 
Fátima Fernandes