Curiosidades

O que nos leva a sentir culpa?

 
O sentimento de culpa é uma das maiores causas de sofrimento humano que, por não ser entendido e assumido, pode levar a muitos problemas de convivência, de mau-estar pessoal e até destruir muitas relações. Neste sentido, é imperioso ir ao fundo do problema para que melhor se possa entender e, naturalmente dar um passo rumo à liberdade emocional que todos desejamos.

Numa entrevista ao Terra, três especialistas explicam este sentimento de forma distinta e esclarecedora. Para a psicóloga Olga Inês Tessari, a culpa surge a partir do desejo de perfeição, pelo que, «quanto melhor uma pessoa quer ser, menos admitirá os seus erros».
 
De acordo com a mesma especialista, a culpa está ligada ao contexto cultural em que "surgiu" a espécie humana. Mediante as crenças de cada grupo, assim será o tipo de culpas que os seus membros carregam, sublinhou.
 
Ainda ao Terra, o psicólogo e psicanalista Julio Cesar Walz contrapõe afirmando que, «o sentimento de culpa surge de uma forma diferente, uma vez que, se trata de um delírio de grandeza», que faz com que a pessoa acredite que pode controlar a vida. «Quando algo acontece de uma forma inesperada, há uma tendência para procurar respostas para aquela situação e, então, «a pessoa acredita que algo que fez causou o mau resultado». Na posição deste especialista, a culpa surge «como uma forma de tentar superar ou dissimular a sua insignificância pela condição de ser humano».
 
De acordo com o mesmo psicólogo, a culpa é o cultivo e manutenção da sensação de que tudo depende de si e, é por si ocasionado. Neste contexto, o mesmo especialista reforça que, para muitas pessoas, «a vida acontece de forma independente», concluiu.
 
Citado pelo Terra, o psicanalista e psiquiatra Paulo Sérgio Guedes acompanha Walz na definição do sentimento de culpa. Segundo este especialista,  o sentimento de culpa «é a causa de uma série de problemas e não a consequência de algo que foi feito». Estes dois entendidos na matéria acreditam que uma pessoa não se sente culpada porque fez algo, e que esta é uma sensação ilusória de poder, de autovalorização, para tentar superar a real condição de insignificância do ser humano.
 
Para justificar este ponto, o Terra lembra o livro O Sentimento de Culpa, escrito pelos dois psicanalistas, onde o sentimento é abordado como «a não aceitação dos defeitos, erros e falta de importância que  cada indivíduo tem».
 
Para os mesmos especialistas, «a pessoa não quer ir ao ginásio, sente-se mal por isso, mas é a culpa que a coloca como importante e demasiado perfeita para não poder deixar de ter vontade de fazer exercícios naquele dia, exemplifica Walz. «Este sentimento de grandeza nem faz a pessoa ir ao ginásio, nem ficar em casa sossegada, já que sente remorso», explica.
 
Com o sentimento de culpa a pessoa torna-se prisioneira de uma ideia fixa. «Deixa de ser quem é para se tornar o crítico dessa pessoa», explicou Guedes. A motivação pode ser concreta ou imaginária, segundo o mesmo entendido.
 
Na mesma entrevista ao Terra, o psiquiatra Guedes sublinha que, os problemas surgem quando o remorso é guardado, chamando ainda a atenção para o facto de que, a culpa «é a única causa de doenças mentais de origem emocional».
 
De acordo com Julio Cesar Walz e Paulo Sérgio Guedes, «trata-se de uma dívida impagável», sendo que, as consequências de guardar o sentimento vão desde tratar mal os outros, viver à procura de culpados para tudo, reclamar sempre, sofrer de depressão, alcoolismo, vício em drogas e isolamento.
 
Ao Terra, o psiquiatra Paulo Sérgio Guedes, afirma também que, o primeiro passo para enfrentar o problema é identificar o sentimento de grandeza. Depois, «a pessoa deve saber que a vida não é controlável e que o ser humano pode errar». Nas mesmas declarações, o especialista acrescenta que, «é preciso entender a diferença entre responsabilidade e culpa. Culpa é o sentimento originado da ideia de que as coisas têm que acontecer como a pessoa quer, responsabilidade é assumir que se é responsável pelas suas atitudes», explicou.
 
De acordo com a psicóloga Olga Inês Tessari, é preciso aprender com o erro, para não o repetir. «Depois de libertar a raiva, a pessoa precisa de aprender e de compreender que os erros acontecem».
 
A mesma psicóloga adverte que, a necessidade de isolamento surge quando a pessoa sente remorso por algo que fez, situação que deve ser trabalhada para que possa ultrapassar essa fase destrutiva e negativa.
 
Dicas para se libertar do sentimento de culpa:
 
1. Reconheça os seus erros
 
2. Reconheça os sinais dos erros cometidos
 
3. Veja o sentimento de pesar com bons olhos
 
4. Responsabilize-se pelos seus atos
 
5. Corrija os seus erros e minimize o prejuízo casado por eles
 
6. Assuma um compromisso pessoal de forma a evitar cometer o mesmo erro
 
7. Perdoe-se e tente esquecer o que se passou.
 
Viver de consciência tranquila conquista-se quando encontramos respostas para os nossos erros e os conseguimos corrigir, por isso, vale sempre a pena ir ao fundo das questões, pois a liberdade de compreender, de corrigir e de ultrapassar é grandiosa. A palavra-chave é a humildade necessária para assumir que todos erramos, a diferença está na capacidade de querer ou não corrigir os erros.
 
Fátima Fernandes