Família

O que os filhos sentem quando se separam de pais tóxicos

 
Tomar a decisão de se afastar de pais tóxicos não é de todo uma tarefa fácil.

Em primeiro lugar porque, durante algum tempo, ainda se acredita que a situação possa melhorar e que, estes pais possam mudar o seu comportamento. Depois, carregamos o sofrimento de conviver com uma relação tóxica, mas temos medo de viver sem ela, o que nos torna dependentes de um tipo ambivalente de sentimentos.
 
Na posição dos especialistas na área da psicologia, citados pela revista A Mente é Maravilhosa, devemos colocar numa balança os prós e os contras dessa decisão e tentar compreender quais são os benefícios e os prejuízos dessa escolha. Por um lado, devemos procurar reunir os nossos próprios argumentos, pelo que, a decisão é sempre pessoal. Depois, devemos recorrer ao apoio de um profissional de psicologia para que nos ajude a orientar esse percurso.
 
Abaixo vamos apresentar os principais sentimentos que estes filhos vivem quando tomam essa decisão de afastamento dos pais tóxicos, deixando sempre em aberto que, a qualquer momento se pode voltar atrás. Imagine o leitor que não suporta tal sofrimento, sinta-se livre para inverter a situação, pois todos os entendidos nesta matéria são unânimes em afirmar que, efetivamente se trata de um processo muito doloroso, sobretudo pela insegurança, pelo medo, pela incerteza e, muito ainda pela pressão social, pois não é fácil dizer á sociedade que estamos afastados dos nossos pais porque não conseguimos conviver com eles.
 
Anote ainda que, quem toma esta decisão tem motivos muito fortes para o fazer. Regra geral são pais que igualmente foram muito maltratados pelos seus progenitores e que acumularam muitos problemas psicológicos ou mesmo psiquiátricos e que não se trataram. Como resultado, acabam por reproduzir esses maus tratos nos filhos. Pode ser um pai, uma mãe ou ambos com este tipo de comportamento tóxico, negativo e muito destrutivo.
 
Os filhos que tomam a opção de se afastar é porque não suportam tal sofrimento, porque tomaram consciência de que merecem muito mais para si e para a sua vida e que se escolhem no meio do processo doloroso. Escolher-se é dizer a si mesmo que se quer um novo modelo de vida, que se tem direito a uma vida mais livre e feliz sem aquela carga e sem os maus tratos, mas até se chegar lá, é natural que se passe por estes sentimentos:
 
1- Isolamento e incompreensão
Separar-se de uma mãe tóxica pode envolver, a princípio, uma sensação de isolamento e incompreensão. Isso porque, social e culturalmente, “não é bem visto” distanciar-se ou separar-se da pessoa que lhe deu a vida. Felizmente, esses sentimentos vão sendo alterados com o tempo e com a terapia. Acima de tudo, não hesite: peça ajuda profissional se achar que não está a conseguir fazer o processo sozinho e lembre-se de que, tem direito a uma vida melhor e que, não é por ser pai ou mãe que se tem o direito de maltratar um filho. Pense que, quando era criança e mais dependente dos seus progenitores, não podia tomar essa decisão, mas agora que é adulto, deve escolher o que é melhor para si. Ao mesmo tempo, se pretende ser pai ou mãe, terá todas as vantagens em passar por este processo para não reproduzir o mesmo padrão nos seus filhos.
 
2- Culpa e vergonha
Outra consequência imediata da separação de uma mãe tóxica é o surgimento de sentimentos de culpa e vergonha. Isso, até certo ponto, é “normal”, embora não devesse ser. Como no ponto anterior, são sentimentos que surgem do facto de ter rejeitado a sua própria mãe, por qualquer motivo que seja. A culpa aparece porque se teme não ter agido bem e que o arrependimento possa invadir-nos. No caso da vergonha, esta ocorre mais no plano social e, em alguns casos no seio da própria família, muito embora, esta última seja mais facilitada porque os demais elementos sabem desses maus tratos. Em termos sociais, pode-se sempre optar por não falar muito acerca do assunto para reduzir esse sentimento.
 
3- Liberdade
Como nem todos os sentimentos são negativos, estes filhos passam a gozar de uma enorme liberdade ao fim de algum tempo de afastamento dos pais tóxicos. É evidente que, no início não é fácil, mas quando começam a respirar a paz de viver num ambiente mais estável, seguro, sem agressões e outras formas de maus tratos, vão sentir-se muito bem. Os especialistas alertam que, esta sensação de liberdade ocorre depois de um longo trabalho e a vários níveis, pois sentir-se liberto de toda a pressão física e psicológica que já se viveu, é quase indescritível. No fundo, aprende-se a viver uma nova vida, com novas emoções, com mais paz de espírito e tranquilidade, menos ansiedade, mais capacidade para estar com outras pessoas e para desfrutar de sentimentos positivos dentro e fora de nós.
 
4- Sentimentos de ambivalência
Separar-se de uma mãe tóxica é uma decisão difícil; mas uma vez tomada, é normal que nos surjam sentimentos ambivalentes.
Por um lado, sente-se liberdade, tranquilidade e paz interior. Por outro, em certos momentos, somos invadidos pelo medo de ter cometido um erro ao optar por esse afastamento. Vivem-se muitas dúvidas, o que também é normal e parece colocar-nos em causa as próprias forças. Entenda que, todos estes sentimentos fazem parte do processo e que quem passa por uma situação destas pode conhecer muitos momentos de avanço e de recuo, mas afirmar a sua condição é o segredo para além de poder falar abertamente com o terapeuta que o está a ajudar. Volte a pensar nos benefícios de respirar calma e tranquilidade e verá que se sente muito melhor e confiante. Aproveite as pessoas que tem ao seu lado e suporte-se de sentimentos positivos. Pense que é normal que tenha algumas situações em que se vai abaixo, mas a sua força interior está a ser construída.
 
5- Incerteza
É natural que viva momentos de incerteza num cenário complexo como aquele que está a viver. No fundo, apesar dos maus tratos, o leitor sabia aquilo com que podia contar. Ao ver-se afastado dessa mãe ou pais tóxicos, é natural que coloque mais questões sobre a mesa e que também não se esqueça dos resultados positivos que está a alcançar com esse afastamento, pois na realidade, o ser humano não nasceu para passar por tanto sofrimento e muito menos para ser maltratado. Uma criança, um jovem, um adulto, não merece ser tratado por progenitores que substituem o afeto, a atenção e o carinho, por agressões, ofensas, humilhações e outras formas de maus tratos. Ao recordar-se disso, vai ganhar forças para se erguer e para assumir que, mais vale estar afastado de quem o trata mal do que ter momentos de incerteza que todos temos em muitas ocasiões. O futuro é incerto e todos passamos por momentos de medo e de dúvida, por isso, procure esclarecer-se e reunir as suas forças para prosseguir o seu percurso.
 
Os mesmos entendidos terminam evidenciando o facto de se poder voltar atrás num qualquer momento, mas insistem que, os maus tratos não podem fazer parte da nossa vida em ocasião alguma, por isso é fundamental que se liberte de todas e quaisquer situações em que os mesmos possam ocorrer.
 
Fátima Fernandes