Família

O que os pais precisam de mudar para educar melhor

 
Dizem os entendidos na área do comportamento humano que, para conseguirmos evoluir precisamos de atualizar as crenças limitativas e dar lugar a novas formas de estar e de pensar.

Sendo grandioso o desafio da parentalidade, não é de admirar que, para sermos melhores pais, tenhamos de alterar a nossa forma de pensar, pelo que, mudar de mentalidade em relação a alguns pontos é a chave para iniciar um desafio maior.
 
Note que, esta base sustenta qualquer início na nossa vida, pelo que, devemos estar sempre dispostos a transformar-nos quando iniciamos algo novo, já que, só dessa forma estaremos mais libertos e disponíveis para agarrar novas oportunidades.
 
Para ser melhor pai ou mãe, é importante começar por modificar aquilo que aprendeu também com os seus pais. Se há aspetos que continuam a fazer-lhe sentido, certamente que há muitos pontos que já não se adequam. Os tempos mudaram, a sociedade está diferente e é praticamente impossível conseguir dar continuidade ao que se aprendeu noutros tempos, por isso, esteja aberto a novos conhecimentos, dê espaço para pensar, para conversar com outras pessoas acerca do assunto, divida a responsabilidade com a pessoa que está ao seu lado e não se preocupe com o que já disse acerca da educação de outros pais, pois cada caso vale por si mesmo e, agora é a sua vez de assumir essa responsabilidade da melhor maneira possível. Procure estar em pleno na sua vida familiar e preocupe-se menos com o que os outros pensam a seu respeito. Procure estar atualizado, ler, ouvir, conversar e aprender e siga em frente com a certeza de que não há pais perfeitos, nem filhos ideais. Há simplesmente uma relação que se quer aberta, honesta, verdadeira e baseada em muito carinho e compreensão.
 
Na mesma sequência, para que sejamos melhores pais precisamos de repensar a culpa. Segundo os entendidos nesta matéria, ninguém educa bem com culpa, pelo que aprender a libertá-la é, desde logo, um passo muito importante. Para que consigamos educar mais distantes dos sentimentos de culpa precisamos de nos concentrar mais na nossa vida, dedicarmo-nos o melhor que conseguimos, falar abertamente sobre aquilo que nos inquieta e, acima de tudo, acabarmos o dia com a sensação de que fizemos o melhor que conseguimos. Damos o melhor de nós aos nossos filhos, estamos sempre dispostos a aprender mais, mas não recebemos lições de quem está fora e não sabe mais da nossa vida do que nós mesmos. É importante cortar a opinião dos outros, uma vez que, é daí que surgem as culpas. É a vizinha que disse que sabe fazer melhor, é a avó que critica a educação que estamos a dar porque no seu tempo não era assim, é o primo que é melhor pai ou mãe e, na prática tudo isso nos afasta do essencial que é darmos o nosso melhor. Outra coisa que alivia a culpa é pedir ajuda quando não se sabe fazer, pois essa sensação de querer fazer melhor dá-nos força e estrutura para prosseguir.
 
Na mesma sequência de pontos que devemos melhorar, devemos ter em conta a importância de transmitir uma mensagem segura aos nossos filhos para que eles aprendam a cumprir as regras. O segredo é muito diferente do que já foi noutros tempos, por isso, também aqui é fundamental mudar a nossa mentalidade. É preciso explicar às crianças e jovens o que não é permitido e a razão pela qual devem cumprir essa norma. Falar com calma, esclarecer as dúvidas e estar disponível para repetir as vezes que forem necessárias é a chave. Não se esqueça do quanto é importante ser firme e coerente para que a regra não perca o sentido. Se houver uma exceção em algum momento, explique-a também.
 
Registe ainda que, quando os pais educam estão a fazê-lo no presente, mas é um processo cujos resultados se vão observando no tempo e os frutos são colhidos no futuro. Os filhos educados na presença de pais que agem tendencialmente com calma, são educados para o futuro.
 
Um outro ponto a ter em conta para melhorar a educação é que, efetivamente, a maioria dos pais idealiza uma criança doce, tranquila e “que não lhe dê problemas”, mas na realidade isso não existe! As crianças são agitadas por natureza, precisam de brincar, pular, saltar e aquilo que se diz dar problemas, não é mais do que ajudar um ser humano a crescer e a desenvolver-se integralmente da melhor forma possível. Como em qualquer outra relação, há momentos melhores do que outros, há situações mais simples e outras mais complexas e, nunca ninguém disse que educar é fácil. Antigamente dizia-se “tudo se cria”, precisamente porque não havia uma grande preocupação com a qualidade, com os afetos, com a formação física e psicológica do indivíduo. Havia comida na mesa e uma roupa para vestir. É também aqui que é importante mudar mentalidades e perceber que educar é um processo exigente e cada vez mais o será, mesmo que se diga que os pais de hoje não ligam aos filhos. Esta é a melhor geração de pais de sempre simplesmente há muito medo de falhar e das críticas. Temos de assumir que as crianças são traquinas e que nós pais estamos cá para as orientar, para as proteger quando necessário e para lhes transmitir as regras de bom comportamento para evitar excessos. Os pais não devem perder o controle e entender que é normal que as crianças sejam agitadas, mas que temos de lhes colocar limites aos poucos e sem a opressão do passado em que nada se explicava e tudo se punia.
 
Os pais também precisam de estar atentos à comparação que era muito recorrente no passado recente. A forma como se levava uma criança a fazer o que se pretendia era através da comparação com outra bem comportada, fosse um familiar ou amigo. Esse modelo não faz qualquer sentido e só afasta a criança ou jovem de si mesmo, reduz a autoestima, para além de fazer desencadear sentimentos negativos em relação aos outros e aos pais que lhe fazem isso.
 
Os especialistas alertam para a necessidade de refletir sobre isto: «As famílias perfeitas são perfeitas na aparência. As famílias perfeitas…não existem! Urge pararmos com o tipo de comparação que nos retira o oxigénio. A comparação que nos acabrunha. Eduquemos nós, com as nossas fontes científicas de referência. Com a nossa naturalidade. Sem comparações. As crianças são diferentes. As vidas são diferentes. Somos todos diferentes».
 
Um outro ponto a ter em conta é o suporte na rede de apoio. Se por um lado, “dá muito jeito” ter uma rede alargada de apoio, por outro também se dá o caso de ninguém saber quem educa e qual a melhor orientação para as crianças. É importante contar com os avós, tios e amigos, mas sem perder de vista que se trata de uma situação pontual e com o trabalho de casa feito, ou seja, os pais educam e tudo é mais fácil para quem fica com eles. As crianças sabem que, quando vão para a casa da avó beneficiam sempre de algumas benesses, mas também devem saber que é importante cumprirem as ordens para que a relação seja mais harmoniosa. Os pais devem contar com essa rede de apoio, mas não se demitirem das suas responsabilidades.
 
Muitos pais queixam-se que, desde que assumiram a parentalidade, nunca mais tiveram tempo para estarem no sofá, mas afinal de quem é a culpa? É deles, claro! Quando as crianças são educadas para o respeito, aprendem que há um tempo para tudo, até para os pais descansarem e para elas fazerem algo que lhes dê prazer.
 
Na mesma sequência, os progenitores queixam-se que as manhãs são sempre muito difíceis e que andam sempre atrasados, mas afinal quem é que controla o relógio? Quem é que prepara antecipadamente a roupa e o que é preciso de manhã? Quem é que a corda os filhos? É importante ter em conta que, nos novos tempos em que ambos os pais trabalham, é preciso organizar melhor o tempo e, para que as manhãs não sejam um “stress”, é preciso acordar mais cedo e dar o tempo necessário para que cada um se despache ao seu ritmo. Os pais devem controlar essa situação dando sempre atenção aos pormenores que se podem antecipar na noite e educando os filhos para a pontualidade.
 
Por fim, mas não menos importante, os pais precisam de tempo para estar juntos e, como? Em primeiro lugar, precisam de considerar essencial esse tempo a dois para que se possam organizar, depois, com uma hora certa para as crianças irem para a cama, os pais podem desfrutar de algum tempo juntos. Claro que, quem tem uma rede de apoio pode pedir para cuidarem dos filhos um fim de semana. Quem não tem terá de investir ainda mais na educação dos filhos para que possam passar bons momentos em família e com momentos para namorar.
 
Se no passado os pais eram autoritários e não davam abertura para que os filhos lhes invadissem a privacidade, hoje passou-se para o oposto. A relação tornou-se tão livre que os pais se vêem apenas como amigos e encaram os filhos também na mesma condição. Os especialistas alertam que, os pais têm de ser uma referência de autoridade para que possam transmitir as regras e os valores aos filhos, podem e devem brincar com eles, ter momentos em que todos parecem ter a mesma idade, mas saber regressar ao adulto e repor a ordem. Por outro lado, o casal tem de saber ser um exemplo para os filhos, mas também continuar a namorar e, para isso, precisa de momentos a dois, de diálogo e de filhos bem educados para que sejam respeitados.
 
Esperamos ter ajudado numa tarefa que nunca está completa, que requer sempre mais um ajuste, uma atenção e uma mudança! Se anotar que, o processo educativo nunca está terminado, estará mais disponível para aprender e, certamente que viverá muito mais seguro, boa sorte!
 
Fátima Fernandes