Comportamentos
O que precisa de saber sobre a síndrome de Burnout
O objetivo deste artigo é alertar sobre as causas, os sinais e sintomas que podem levar ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout, para que, em caso de identificação com a sintomatologia apresentada, possa procurar o tratamento adequado.

 
No artigo da autoria da psicóloga clínica Soraya Rodrigues Aragão, serão também apresentadas algumas dicas para enfrentar, da melhor maneira possível, esta síndrome «também conhecida como esgotamento nervoso», sendo particularmente desenvolvida no contexto de trabalho que é, por norma, um local gerador de muito stress.
 
De acordo com a mesma psicóloga, a Síndrome de Burnout é uma resposta do organismo a uma carga de stress significativa e duradoura em que, a pessoa vai gradualmente perdendo as forças para continuar a exercer as suas atividades quotidianas, em que estas são realizadas com muito esforço físico, cognitivo e emocional. Estes fatores dão lugar à redução da quantidade, bem como da qualidade do trabalho até que o indivíduo chegue à completa exaustão, adverte.
 
Para a autora de diversos artigos na área da psicologia, «as mulheres são um grupo de risco para esta patologia, na medida em que, para além do trabalho diário, ainda acumulam as tarefas domésticas e, em muitos casos, o cuidado com os filhos».
 
Neste ponto, não é relevante a faixa etária dos filhos, já que o que sobressai é o desgaste que a mulher tem nesse acumular de tarefas diárias, sublinhou.
 
Soraya Rodrigues Aragão alerta que,  «é impossível conciliar multitarefas, pois são muitos os estímulos simultâneos e o organismo não dá conta de tanta sobrecarga». Na maioria das vezes, estas tarefas vão sendo adiadas por falta de capacidade para as realizar, o que, na posição da especialista, «gera muita frustração e sentimentos de culpa». Para evitar esses sentimentos e sofrimento, é necessário que defina as suas prioridades, necessidades e o tempo que tem ao seu dispor para realizar essas funções. No fundo, aprender a gerir o seu tempo e aceitar que temos limites, é a base para aliviar a situação.
 
Segundo a mesma especialista, «podemos comparar o estado de exaustão a um telemóvel sem bateria». Tal como o aparelho, também o nosso organismo vai dando sinais de alarme, mostrando que precisa de ser carregado, sob pena de entrar nas «linhas vermelhas». Neste contexto, um dos problemas que nos levam ao Burnout é que vamos desvalorizando esses sinais de alerta do organismo e, quando nos damos conta, estamos desgastados a todos os níveis, completou.
 
Assim, devemos estar atentos a estes sinais, características e sintomas:
 
Esgotamento físico e emocional com tendência a se tornarem crónicos;
 
Exaustão persistente, mesmo com uma boa noite de sono;
 
Desmotivação, indiferença, perda de sentido e de realização na função ou trabalho que é exercido;
 
Despersonalização, caracterizada por conduta de hostilidade e irritabilidade com clientes ou pacientes;
 
Baixa autoestima, sentimentos de culpa e inutilidade, o que pode levar a estados depressivos ou mesmo à Depressão;
 
Faltas frequentes ao trabalho;
 
Conflitos interpessoais no ambiente laboral por irritabilidade, impaciência e nervosismo, levando inclusive estes conflitos para dentro de casa;
 
Insónia ou péssima qualidade do sono;
 
Dores de cabeça, principalmente as tensionais, devido à constante carga de stress;
 
Necessidade de isolamento.
 
Para a mesma psicóloga, é crucial evidenciar que nenhum cansaço acontece da noite para o dia, «sendo um processo contínuo de consecutivas exposições a elementos geradores de stress», sendo os mesmos cumulativos. Neste sentido, para que surjam os seus efeitos desagradáveis no organismo, é preciso que se deixem passar muitos sinais de alarme que vão ocorrendo no tempo. Por este motivo, «a pessoa necessita repensar o seu estilo de vida e avaliar os deflagradores da sua exaustão», como por exemplo, não se sentir satisfeito ou valorizado na profissão, sentir-se sobrecarregado, ter dupla ou tripla jornada de trabalho, não ter momentos de lazer e relaxamento, entre outros, registou.
 
Relativamente ao diagnóstico, importa salientar que, «é imprescindível que o paciente faça uma avaliação multidisciplinar», na medida em que, muitas doenças, tais como a anemia, problemas na tiroide, diabetes, doenças cardíacas, alergias e a Fibromialgia apresentam sintomas em comum com a Síndrome de Burnout. Neste sentido, o diagnóstico é feito por exclusão de doenças clínicas e transtornos psiquiátricos como a depressão.
 
Soraya Rodrigues Aragão deixa algumas dicas importantes para o caso de se identificar com os sintomas apresentados:
 
Procure um médico para uma avaliação através de exames clínicos para refutar possíveis doenças;
 
Avalie o seu ritmo de vida;
 
Avalie até que ponto se sente insatisfeito, sobrecarregado ou desvalorizado no seu ambiente de trabalho. Em caso afirmativo, é necessário reavaliar a sua vida profissional. Lembre-se de que nunca é tarde para mudar de emprego ou função laboral, pelo que recomeçar a sua vida profissional pode ser um ponto a favor da sua saúde em geral;
 
Estabeleça prioridades: todos temos as nossas limitações e se insistir num ritmo enlouquecedor, o seu organismo vai dando sintomas e sinais;
 
Faça psicoterapia: através do trabalho psicoterapêutico, serão avaliados os seus recursos psíquicos, considerando as possíveis causas emocionais, tais como conflitos internos e interpessoais, insatisfações para a procura de um novo sentido de vida, bem como possíveis problemas psiquiátricos através de técnicas e instrumentos específicos, concluiu.
 
Fátima Fernandes