Curiosidades

O que precisa de saber sobre o ego

 
Segundo Augusto Cury, «o ego é uma das maiores doenças da humanidade». Para este escritor e investigador brasileiro, o ego é uma limitação, uma forma de arrogância e um limite à humildade, mas será que não podemos tirar um melhor partido de nós mesmos?

Recorrendo a diversos autores, podemos afirmar que, o ego não é bom nem mau e, é muitas vezes descrito como uma máscara social elaborada com toques de orgulho e muitos mecanismos de defesa. Segundo a psicologia, o ego «é o orgulho que nos faz subir uma montanha para que o mundo nos veja, e não para ver o mundo de lá com serena humildade».
 
Segundo a revista A Mente é Maravilhosa, o conceito de ego, que vem do latim e significa ‘eu’, «é uma das dimensões mais utilizadas quando falamos sobre a nossa personalidade». É verdade que um dos seus significados mais comuns é o de altivez, o da autoimagem que procura impor aos outros uma parte de nós mesmos. No entanto, ainda é apenas mais uma construção mental, uma identidade que construímos com a nossa fábrica interna de ideias, experiências, emoções e necessidades.
 
É preciso referir que, por trás desse eu autoconstruído, por trás dessa máscara externa e artificial, «está o nosso ser autêntico». O problema surge quando somos dominados, subordinados e excessivamente apegados àquela camada externa que esculpimos para sobreviver na sociedade.
 
É importante ter em conta que, quando nos questionamos sobre o que é o ego, estamos diante de uma das construções mais complexas da psicologia. Além disso, no panorama psicológico há muitos conceitos que incluem o prefixo “ego”, como o egoísmo, a mente egoica, o egocentrismo e até os mecanismos de defesa do ego.
 
Podemos dizer que a escola que mais desenvolveu este conceito foi, sem dúvida, a teoria psicodinâmica e, especificamente, Sigmund Freud. No entanto, deve-se destacar que as filosofias orientais vêm estudando essa questão há séculos, a ponto de quem se aprofundar no budismo encontrar um tema vertebral: aquele que se refere ao ego.
 
Também a filosofia se debruçou sobre o ego e, nesse contexto, Inmanuel Kant explicou-nos que «o ego reunia todas as construções e representações mentais que a pessoa realizou». Por sua vez, Jean Paul-Sartre concebeu essa entidade de maneira muito semelhante.
 
Para o filósofo existencialista, o ego não estava na nossa consciência, não fazia parte dela. Na verdade, era algo externo, uma entidade autoconstruída no seu contacto com a sociedade.
 
Nunca é demais  sublinhar que, a corrente que mais nos forneceu literatura sobre a instância psíquica do ego foi Sigmund Freud. O pai da psicanálise estipulou que o ser humano está sujeito a três forças opostas que regem a nossa forma de agir e responder ao mundo. Essas forças são o ego, o id e o superego.
 
Nesse caso, o ego é a representação que fazemos do mundo ao nosso redor. Da mesma forma, é a entidade que tenta controlar os nossos impulsos e instintos mais básicos. O ego tenta satisfazer os desejos de uma forma que seja socialmente aceite.
 
Segundo a mesma revista, é de salientar que, a corrente que mais aprofundou essa ideia foi o budismo. No entanto, tal teoria difere um pouco das perspetivas filosóficas existencialistas e da psicologia psicodinâmica.
 
De acordo com o budismo, o ego é uma conceção errónea do eu. Está com o indivíduo desde o nascimento e nele se integram a nossa imagem, identidade, nacionalidade, gostos, paixões, cultura, educação, crenças, entre outros. Mas, «esse fluxo de dimensões nada mais são do que construções superficiais». São processos aos quais aderimos e que, na realidade, escondem a autenticidade do nosso eu porque estão orientados para o exterior, e não para o interior.
 
Neste sentido, «o ego é uma falsa identidade que traz sofrimento porque nos subordina ao que nos falta».
 
Importa ainda referir que, uma das figuras atuais que mais abordou o conceito de ego é Eckhart Tolle e, mais uma vez, surge a ideia de que esse construto causa desconforto ao ser humano. As pessoas, segundo este autor, «vivem excessivamente apegadas aos pensamentos, medos, necessidades, desejos e também a todos os legados da sociedade que nos alienam e criam, aos poucos, um falso eu».
 
Na mesma sequência, a revista de opinião e entretenimento lembra que, quando nos perguntamos o que é o ego, as palavras do escritor português Fernando Pessoa vêm a calhar: “Eu olho, e as coisas existem. Eu penso, e só eu existo”. Essa construção psicológica ainda é uma parte de nós mesmos que criamos para funcionar socialmente. Isso significa que às vezes podemos ter um ego saudável que se reverte para o nosso bem-estar.
 
No entanto, também pode ocorrer o contrário: podemos viver com uma entidade psicológica que está desesperada para se alimentar do que está lá fora, que procura desesperadamente reconhecimento e atenção.
 
Para que se perceba melhor esta dimensão, apresentamos os efeitos de um ego distorcido e, nesse contexto, trata-se de «uma constante sensação de falta».
 
É o reflexo da mente obcecada em saber o que os outros pensam a seu respeito, é o olhar que atende o mundo com medo: medo do fracasso, de não ser amado, de não ser como os outros esperam ou de ter menos que os outros.
 
Ainda neste capítulo é de acrescentar que, o medo interno também nos leva a desenvolver mecanismos de defesa, como o orgulho e a arrogância, máscaras que protegem a fraqueza interna.
 
Depois, é de anotar que, «o ego doente é o reflexo da baixa autoestima, da identidade que não foi trabalhada e que sente que lhe falta tudo».
 
Por outro lado, existe o ego saudável que cuida do nosso equilíbrio psicológico. Esse ego permite-nos ter uma vida significativa porque nos ajuda a estar em harmonia com o que somos e com o que mostramos, com o que precisamos e com o que nos oferecemos, sem ficarmos apegados ao exterior.
 
Esse ego saudável ajuda-nos a compreender que todos merecemos respeito, que ninguém é melhor do que ninguém, que a satisfação vem da tolerância e também do autocuidado.
 
O ego equilibrado é o exercício de uma boa autoestima, uma ponte entre o interior e o exterior para reconhecer o valor da vida, dando-lhe sentido. Ao fazer isso, ao encontrar um sentido interno, o sentimento de carência externa desaparece, e é aí que começa a autêntica revolução do bem-estar.
 
Para concluir, a mesma revista sublinha que, para além da complexidade na definição deste conceito, vale lembrar algo muito simples: «o ego não é bom nem mau, é uma parte de nós mesmos, uma entidade subjetiva e autoconstruída que devemos transformar para que equilibre a nossa felicidade e não o nosso sofrimento».
 
Fátima Fernandes