Sociedade

O que precisa de saber sobre o Nutri-Score

Foto|D.R
Foto|D.R  
O Nutri-Score é um sistema simplificado de rotulagem nutricional colocado na frente da embalagem dos produtos.

Certamente que o leitor já se deu conta da presença das letras: A, B, C, D ou E, em muitas embalagens e vale a pena saber mais sobre o seu significado.
 
De acordo com Ana Neves, licenciada em engenharia Biotecnológica, e que colocou um resumo sobre este tema na sua página da Internet, a agência nacional de saúde pública francesa desenvolveu o Nutri-Score em 2017, e atualmente encontra-se em vigor em 7 países europeus: França; Alemanha; Espanha; Bélgica; Luxemburgo; Países Baixos e Suíça.
 
Os FOPL (Front-Of-Package Labeling) são voluntários e podem coexistir diferentes modelos no mesmo país. No caso do Nutri-Score há marcas e países que são a favor e outros que são contra a sua utilização, por isso, este sistema continua envolto em alguma discórdia.
 
O sistema classifica os produtos por cores (verde escuro, verde claro, amarelo, laranja e vermelho) e letras (do A ao E, respetivamente). Um produto classificado com a letra “A” sobre fundo verde escuro, é um alimento mais interessante do ponto de vista nutricional, do que um produto classificado com a letra “E” sobre um fundo vermelho, lê-se na página Ana Neves.pt.
 
A finalidade deste sistema não é classificar os alimentos em “saudáveis” e “não-saudáveis”, nem identificar produtos que podem ou não ser consumidos. Enquanto os alimentos classificados com A e B devem ser consumidos com maior frequência. As classificações C, D e E apenas significam que estes alimentos devem ser consumidos de forma ocasional, ou seja, com moderação.
 
O Nutri-Score serve para apoiar os consumidores numa escolha informada entre diferentes produtos, comparáveis entre si, dentro da mesma categoria alimentar, sublinha a mesma especialista.
 
O Nutri-Score refere-se aos seguintes produtos:
 
1. Bebidas: à exceção de bebidas alcoólicas e água; inclui sumos de fruta, smoothies, bebidas sem gás, refrigerantes, entre outras.
2. Queijos: inclui queijos curados ou não curados, queijos processados, especialidades de queijo, entre outros.
3. Gorduras: inclui óleos, manteigas, cremes, margarinas, entre outros.
4. Outros produtos alimentares: produtos de padaria, cereais de pequeno-almoço, bolachas, bolos industriais, refeições prontas, molhos, sopas, iogurtes, sobremesas, compotas, gelados, snacks, entre outros.
 
Para o cálculo do Nutri-Score, utiliza-se a informação da tabela nutricional referente a 100g de alimento ou 100ml de bebida.
 
Em suma, o produtor, só tem que preencher os valores na ferramenta de cálculo oficial. Depois, o algoritmo científico avalia cada componente com pontos favoráveis e desfavoráveis e a pontuação do perfil nutricional resultante é dada numa escala entre – 15 (muito favorável) e + 40 pontos (muito desfavorável).
 
A quantidade de energia, gordura saturada, açúcar e sal, contribui para uma pontuação final muito desfavorável.
 
Por outro lado, a proporção de frutas; hortícolas; leguminosas, óleo de colza, de noz e azeite, assim como, a quantidade de fibra e proteínas, contribui para uma pontuação final muito favorável. O resultado final é uma classificação que corresponde à qualidade nutricional global do alimento. De acordo com o resultado, é atribuída uma letra e a respetiva cor, explica Ana neves na mesma publicação.
 
No que se refere aos benefícios do Nutri-Score, a mesma especialista clarifica que, marcas como a Iglo, a Pescanova, a Nestlé, a Danone,  a Alpro, a Weetabix, a Buitoni e a Dr. Oetker, já usam voluntariamente este sistema de rotulagem nos seus produtos. Além disso, as grandes cadeias retalhistas como o Auchan, Aldi, Lidl e Pingo Doce, também adotaram esta classificação nos produtos das suas marcas próprias.
 
As principais razões que levam as marcas a prestar apoio ao Nutri-Score, têm por base estudos que indicam que:
1. O Nutri-Score é considerado o rótulo nutricional mais fácil de entender.
2. Ajuda os consumidores a comparar o valor nutricional dos alimentos dentro da sua categoria de produtos.
3. Torna as escolhas alimentares dos consumidores mais saudáveis.
4. Pode ajudar os consumidores a reduzir o risco de doenças não transmissíveis, como o cancro.
5. Funciona como um incentivo para os fabricantes melhorarem a qualidade nutricional dos seus produtos.
 
Na mesma sequência, Ana Neves acrescenta que, há falhas na atribuição do Nutri-Score, na medida em que marcas como a Coca-Cola, a Ferrero, a Mars, a MONDELEZ e a UNILEVER não apoiam o sistema, bem como alguns países, como a Itália.
 
«Os especialistas alegam que o principal desafio desta classificação, são as interpretações erradas», como nos seguintes casos:
1. O sistema aplica-se ao produto tal como é vendido e, portanto, não considera o seu método de preparação. Por exemplo, as batatas pré-fritas congeladas, por conterem pouca gordura ou açúcar, obtém um Nutri-Score favorável – A.
2. Não distingue as gorduras saturadas e insaturadas presentes. Por exemplo, o salmão fumado apesar de conter gorduras maioritariamente insaturadas, obtém um Nutri-Score pouco favorável – D ou E.
3. Considera apenas a quantidade de açúcares e não a presença de edulcorantes. Por exemplo, bebidas em que os açúcares são substituídos por edulcorantes, obtém um Nutri-Score mais favorável – B ou C.
4. Não considera porções, mas sim uma classificação nutricional global do alimento. «O que aumenta o risco de passar a mensagem ao consumidor que o produto é saudável, independentemente da quantidade consumida».
5. O algoritmo pode encobrir teores elevados de componentes desfavoráveis (sal ou açúcar). Por exemplo, se um alimento contém sal a mais mas tem vários componentes favoráveis na sua composição, essa quantidade de sal é diluída nesses componentes e o alimento pode até receber uma classificação razoável – B ou C. O que pode induzir em erro uma pessoa hipertensa, que não percebe que o alimento tem sal a mais.
 
Segundo Ana Neves, «para melhorar este sistema de forma regular, está planeada uma reavaliação do algoritmo do Nutri-Score a cada três anos», conclui.
 
Muitos especialistas completam ainda que, apesar de o consumidor ter acesso à informação Nutri-Score, não deve deixar de ler a composição do produto para se certificar se o mesmo corresponde à escolha nutricional pretendida.
 
Fátima Fernandes