Comportamentos

O que precisa de saber sobre o Transtorno de esquiva experiencial

 
Segundo o modelo de terapia de terceira geração, a Terapia de Aceitação e Compromisso, «grande parte do sofrimento psicológico resulta do transtorno de esquiva experiencial». Na prática isso quer dizer que, «as pessoas que sofrem deste transtorno tendem “a escapar-se” ou a fugir de forma rígida, daquilo que lhes causa sofrimento», o que na posição dos especialistas, «aumenta a dor psicológica».

É de sublinhar que, não querer entrar em contacto com o desconforto, ou querer fugir dele em vez de aceitá-lo, «não é um transtorno; trata-se de uma resposta normal observada em todos os animais, humanos e não humanos». O transtorno ocorre quando há pensamentos rígidos, como “tenho que estar bem para fazer coisas”, “preciso de me sentir feliz para poder voltar ao trabalho”, ou “não suporto ficar nervoso, preciso que isto termine já”, que são uma fonte de desconforto que não nos dá descanso.
 
Para saber se sofre deste transtorno é preciso ter em conta estes pontos:
 
1- Sentir-se constantemente inundado por pensamentos e sentimentos que giram em torno de “estar mal”, “estar triste” ou “lutar para estar bem”. Neste ponto, é de reter que, a mente faz um bombardeio constante com pensamentos que procuram lutar contra qualquer tipo de desconforto, incerteza ou dúvida.
 
2- Dedicar muito tempo do seu dia a dia a controlar esses pensamentos ou sentimentos. Basicamente é quando o nosso quotidiano gira em torno de “eliminar o desconforto” como um passo prévio para recuperar a sua vida. Existe a sensação de que não se pode fazer nada,  até que esses pensamentos desapareçam.
 
3- Esperar até se sentir bem para retomar as atividades que valoriza na sua vida (exemplo: ir ao parque com as crianças, sair com amigos, dar um passeio na praia), pela necessidade de querer parecer que está sempre tudo bem.
 
Por detrás das causas do transtorno de esquiva experiencial está a inflexibilidade psicológica em gerir  o desconforto, seja evitando-o ou escapando dele. Essa falta de adaptação provoca o distúrbio de esquiva experiencial, fazendo com que a vida da pessoa que dele padece se mova em torno da evitação das sensações ou pensamentos dolorosos.
 
Anota a mesma teoria que, a inflexibilidade psicológica ocorre quando uma pessoa se fecha diante de pensamentos, emoções ou lembranças que são dolorosas. O que acontece é que não se tem flexibilidade para continuar com as atividades diárias que promovem o bem-estar, embora possam existir uma ou várias fontes de desconforto. Existe a ideia rígida de que a pessoa precisa de “estar bem” como um requisito para desfrutar de qualquer tipo de atividade ou tarefa.
 
Os especialistas realçam ainda que, quando uma pessoa tem um problema a nível psicológico, como ansiedade ou depressão, «essa inflexibilidade aumenta significativamente o seu estado».. Não aceitar o desconforto que leva à ansiedade ou à depressão e procurar eliminá-lo para poder retomar a vida tem duas consequências: aumentar o mau-estar porque se tem consciência dele e não se consegue aceitá-lo e, transformar o dia a dia numa luta contra o mal-estar, o que empobrece a quantidade de reforços ou prémios aos quais podemos aspirar. A pessoa que sofre deste transtorno acaba por negligenciar praticamente as suas atividades e relações em função de um estado de espírito negativo e que não se aceita ou assume.
 
Segundo os psicólogos defensores desta teoria, é fundamental aceitar quando não se está bem e assumir que, quanto mais nos queremos afastar e esquecer uma situação dolorosa, mais a nossa mente nos aproxima dela, continuando a repetir o que se passa constantemente. Neste contexto, «não podemos cair na armadilha de fazer de conta que está tudo bem e, ainda menos de querer mostrar aos outros que estamos sempre bem, pois isso é uma grande fonte de sofrimento e mau-estar».
 
Uma pessoa que sofre deste transtorno acaba por comprometer a sua vida social, uma vez que está sempre à espera de se sentir bem para poder realizar as tarefas mais simples e que lhe eram prazerosas. Esta necessidade de mostrar aos outros que “está sempre em alta”, leva-a a declinar convites e a isolar-se cada vez mais.
 
A nível psicológico, a esquiva experiencial aumenta a sintomatologia associada ao desconforto e empobrece a vida emocional do indivíduo. E é por isso que a Terapia de Aceitação e Compromisso (desenvolvida para superar o transtorno de esquiva experiencial) é orientada para a aceitação do desconforto e o estabelecimento de metas que abordem os valores pessoais, sublinham os mesmos entendidos.
 
No que se refere a tratamento, a solução para este distúrbio encontra-se na aceitação, observação incondicional e não julgadora das experiências psicológicas, como os pensamentos, emoções e sentimentos. Para alcançar esse objetivo, a terapia de aceitação e compromisso utiliza diferentes estratégias, como o Mindfulness, a desintoxicação cognitiva e metáforas terapêuticas.
 
Em segundo lugar, o tratamento da esquiva experiencial concentra-se em restaurar a importância dos valores pessoais perante as emoções e os comportamentos impulsivos do momento. A partir desta abordagem terapêutica, deriva a conotação de “compromisso”. Ou seja, trabalha-se para fazer com que a pessoa se comprometa com os seus valores, não importa o que aconteça. O terapeuta orienta o paciente para que aceite e assuma o que está a pensar e a sentir e que enfrente essas emoções, mesmo as negativas e continue a gerir o seu quotidiano.
 
O processo é longo e exige muito envolvimento do paciente e do terapeuta, mas «é o único caminho possível para que se encontre a necessária liberdade, bem-estar e a verdadeira identidade da pessoa».
 
Fátima Fernandes