Comportamentos

O que se passa com as pessoas que praticam ghosting?

 
Certamente que, muitos dos nossos leitores já passaram por uma situação em que, tudo parecia estar bem, mas de um momento para o outro, perdemos o contacto com uma pessoa de quem gostamos e que desaparece como um “fantasma”.

Os especialistas designam por ghosting o ato de iniciar um contacto próximo com alguém, de criar expectativas de uma relação e, de um momento para o outro, essa ligação ser cortada sem um motivo ou uma justificação. A pessoa desaparece da nossa vida sem deixar rasto. Ausenta-se das redes sociais, desliga o telemóvel, afasta-se do grupo de amigos e, sem que se perceba muito bem como e porquê, há uma fuga; uma ausência total.
 
Segundo os entendidos nesta matéria, existe uma tendência crescente deste fenómeno, sobretudo porque, quem já foi abandonado por alguém, acaba por fazer o mesmo a um amigo, a um namorado e até a uma pessoa com quem mantinha uma relação de muita proximidade, uma vez que, transfere assim a dor do que lhe fizeram.
 
Para a ciência, estas pessoas sofrem de um tipo de apego evitativo, ou seja, foram educadas num ambiente em que os afetos eram evitados e em que se dava primazia à agressão e aos maus tratos. Como consequência, o amor era praticamente ausente, bem como a empatia e demais requisitos que permitem a criação de laços afetivos com outros seres humanos. Ao não terem desenvolvido essas qualidades, estas pessoas que facilmente se passam por “fantasmas” na vida dos outros, acabam por se tornar adultos frios e calculistas, sem o mínimo de capacidade de compreender o lado do outro e a dor que lhe podem provocar. São pessoas que evitam a intimidade, que não se envolvem emocionalmente e que não têm qualquer problema em descartar alguém, pois evitam os sentimentos a todo o custo.
 
Segundo os entendidos, estes “fantasmas” sofrem da Tríade sombria de personalidade.
 
Um estudo de Jones e Paulhus, 2014, evidencia que estas pessoas apresentam traços de narcisismo, maquiavelismo e psicopatia. Assim, provavelmente estaremos na presença de homens e mulheres que instrumentalizam os outros. São pessoas que, de um modo geral, só se aproximam dos outros à procura de um qualquer benefício, pelo que, quando já não têm interesse, afastam-se sem darem uma explicação. Estes indivíduos priorizam o que é rápido e fácil e não se querem dar ao trabalho e ao empenho de conquistar o outro, de lhe devolver o que recebe e daí por diante. A falta de empatia dá lugar a que sejam incapazes de se colocarem no lugar do outro, que sintam algum tipo de remorso e que queiram construir uma relação significativa seja de amor ou de amizade.
 
Segundo os mesmos especialistas, apesar de sempre terem existido “fantasmas”, nota-se um aumento deste tipo de prática, sobretudo devido ao estilo de vida atual em que se aposta mais no imediatismo do que na qualidade e aprofundamento das relações. Os laços entre as pessoas são cada vez mais frágeis e a mudança de amigos e de grupos é muito mais baseada no interesse do que nos sentimentos.
 
Acrescentam os mesmos entendidos que, o ghosting constitui também uma forma de camuflar a falta de capacidade de comunicação de muitas pessoas, a dificuldade que se sente em expressar sentimentos e um recurso para evitar conflitos quando não se tem muitos argumentos, no entanto, há situações em que se torna aceitável e compreensível que tal aconteça.
 
Na posição dos cientistas, o ghosting pode ser um recurso importante quando estamos na presença de uma relação tóxica, baseada em maus tratos, ofensas e humilhações, em que não temos força para reagir a pessoas que só veem a realidade numa perspetiva, quando somos maltratados de alguma forma e quando já esgotamos os nossos argumentos e o outro não quer ver e ouvir.
 
Torna-se também importante ser um “fantasma” no caso de uma vítima de violência doméstica, uma criança ou jovem que sofre maus tratos dos pais e que, na idade adulta, não consegue conviver com os progenitores e desaparece sem lhes dar uma justificação.
 
Para os mesmos entendidos nesta matéria, há situações em que não vale a pena argumentar, explicar ou pedir que o outro mude porque simplesmente, o mesmo não está interessado em modificar o que quer que seja, pelo que, neste caso, existe ghosting, mas existe uma justificação para que tal aconteça, pois certamente que, o agressor terá na sua memória o que fez, pelo que, não pode dizer que desconhece o motivo da separação e do afastamento.
 
Também se entende o caso de alguém que é sempre colocado num plano inferior devido ao facto de ser uma pessoa mais tímida ou frágil e que, quando consegue ganhar forças para se afastar, o faça em silêncio, “como um fantasma”, já que não se sente com capacidade de dizer ao outro que foi alvo de manipulação ou de algum tipo de abuso. Esta pessoa sai do circuito, ausenta-se e procura um novo rumo para a sua vida.
 
Estes aspetos devem ser tidos  em consideração, já que se diferenciam e muito do ghosting a que estamos habituados e que constitui algo de reprovável e negativo, evidenciam os mesmos entendidos.
 
Fátima Fernandes