Família

O que sofrem os filhos de pais demasiado exigentes

 
Muitos pais exigem demasiado dos filhos só porque também já foram alvo dessa exigência por parte dos seus progenitores. Reproduzem o modelo e não pensam nas consequências que isso pode acarretar para o desenvolvimento dos mais novos.

Neste artigo iremos abordar a posição dos especialistas sobre esta matéria, sempre com o intuito de promover uma melhoria na qualidade da relação entre pais e filhos e, acima de tudo, orientar os progenitores para a ideia de que, o excesso de exigência acarreta muito sofrimento para os mais novos.
 
Segundo os entendidos nesta matéria, os pais exigentes só querem que os filhos dêem sempre o seu melhor, para tal, incentivam-nos com frases como esta: “tiveste sete na prova de matemática? Para a próxima tens de tirar oito!” O problema deste tipo de comentário é que o filho percebe que os pais nunca ficam contentes com os resultados que é capaz de alcançar. Seria diferente se os pais lhe dissessem, “boa estamos muito satisfeitos. Agora vais continuar a trabalhar e nós estaremos aqui para te apoiar”. Com esta frase os pais estão a motivar a criança para ter melhores resultados sem que desvalorizem aquilo que ela já conquistou, alertam os especialistas.
 
Na prática, é positivo exigir que os filhos dêem o seu melhor, o problema é a forma como os pais lhes transmitem esse desejo. Ao mostrarem satisfação pelos resultados obtidos, os progenitores vão motivar os mais novos para continuarem a trabalhar com empenho e prazer, pois todos sabemos que, o que uma criança mais gosta é de agradar aos pais. Ao desvalorizarmos, estamos a dar-lhes a ideia de que nunca estamos satisfeitos com o seu trabalho, o que os desmotiva e leva a pensar que não vale a pena tanto esforço.
 
Neste ponto, os entendidos na matéria chamam a atenção para os casos de anorexia e bulimia resultantes deste tipo de educação, a que se acrescenta a tristeza, a desmotivação, a depressão e o mau-estar permanentes já que a criança sente que dá o seu melhor e que os pais não lhe reconhecem esse valor.
 
O segredo é mudar a estratégia e, assumir que se está a imitar o modelo de educação que se recebeu, que o mesmo já está desatualizado e que nós também sofremos as consequências desse padrão errático, pelo que não devemos fazer o mesmo e, ainda menos projetar essas frustrações nos nossos descendentes.
 
Em muitos casos, os filhos já sofrem com a exigência dos pais e ainda acumulam a dos avós que, não tendo acompanhado o progresso dos tempos, fazem aos netos o mesmo que já fizeram aos filhos, o que aumenta a dor e o sofrimento da criança que se sente cercada de exigências e sem saber como ultrapassar o problema.
 
Tenhamos em mente que, em muitos casos, a criança vive rodeada de adultos exigentes e sem saber como os poderá agradar. É um desnível enorme que lhe compromete o desenvolvimento sadio.
 
Quando pais e avós se juntam, a criança sente que, nunca consegue fazer nada de bom e de positivo que agrade a ambos. Se pratica um desporto, nunca consegue ser bom, na escola o seu aproveitamento poderia ser sempre muito melhor do que é, nas relações com os outros, está sempre a falhar, pois regra geral, os seus pais estão sempre insatisfeitos com os seus resultados, o que leva a que os mais novos também passem a exigir demasiado de si mesmos. Em muitos casos, tornam-se tão exigentes que desenvolvem níveis elevados de ansiedade e stress.
 
Segundo a Fundação ANAR (Ayuda a Niños y Adolescentes en Riesgo, uma organização espanhola) “[…] uma determinada estrutura da personalidade (autoexigência, necessidade de controle, busca pelo perfeccionismo…) pode determinar o surgimento de certos transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia”.
 
A mesma associação alerta que, muitos pais não controlam os seus níveis de exigência e, quando a criança atinge o valor que  tinham estipulado, rapidamente passam para o seguinte e assim sucessivamente, pelo que nunca felicitam o filho pela conquista.
 
Depois, temos o caso dos pais que exigem demais e que se queixam por não conseguirem obter resultados positivos no desempenho dos filhos. Tal acontece porque as crianças não estão à altura dos níveis de exigência estabelecidos pelos pais, o que as leva à desistência quando percebem que não vão conseguir corresponder.
 
O jornal La Vanguardia publicou uma frase de Isabel Menéndez (psicóloga especializada em crianças e adolescentes) que explica muito bem o que acontece quando as crianças são submetidas a altos níveis de exigência por um longo período de tempo: “Quando exigimos demais, causamos stress nas crianças. Ao chegarem à adolescência e aos cursos mais difíceis de ensino superior, muitos deles acabam por perder as forças[…] porque estão fartos, cansados, e desistem”.
 
Como nada do que fazem é suficiente, as crianças podem começar a mostrar diferentes atitudes, consoante a sua personalidade. No entanto, além dos transtornos já mencionados, estes são alguns sinais de alerta que avisam que algo não está bem nos nossos filhos:
 
Atitude passiva, mostrando que nada mais lhes importa.
 
Sentem-se tristes, desanimados, e mostram-se cabisbaixos na maior parte do tempo. No seu interior, notam que fracassaram. Isso pode levá-los a uma depressão.
 
Atitudes rebeldes nas quais são agressivos com os pais ou começam a fazer coisas erradas. O objetivo é chamar a atenção para uma situação que não conseguem controlar.
 
Existem muitas variáveis, mas as crianças não conseguem estar sempre em alerta, à procura de reconhecimento e tentando atingir as expectativas dos pais, pelo que, mais cedo ou mais tarde, vão mergulhar numa profunda tristeza e, em muitas situações, colocam-se mesmo contra os pais, o que faz desencadear uma relação conflituosa.
 
Por norma, estas crianças assumem que só vivem frustrações, que são um fracasso, pelo que desistem de lutar e de tentar fazer melhor, o que motiva uma visita a um psicólogo para um programa de acompanhamento.
 
Os pais costumem dizer que só querem motivar os filhos e que fazem algo semelhante ao que receberam também dos seus progenitores, mas não se apercebem de que a base está errada: não é assim que se motivam os mais novos, pelo que estes acabam por abandonar os estudos, por não ter motivação para praticar um desporto e, em muitos casos, entregam-se a comportamentos desviantes e perigosos.
 
O acompanhamento psicológico geralmente envolve os pais que, ao receberem essas orientações, conseguem assumir um novo comportamento e inclusive, encontrar também uma forma mais descontraída de vida. A criança ou jovem aprende um novo modelo de vida que se baseia numa maior autoconfiança, mas este processo tem mesmo de ser iniciado, sob pena de as consequências serem desastrosas, alertam os entendidos na área da psicologia.
 
Fátima Fernandes